Narrado por Beto Meu nome de batismo é Hugo. Mas só documento, só juiz ou enfermeira de posto que me chama assim. Aqui no morro ninguém sabe nem soletrar, e quem arrisca acaba com a boca cheia de dente quebrado. Aqui eu sou Beto, e pronto. Vulgo não é apelido, é identidade. É a forma que o morro tem de te reconhecer e de te engolir. Minha história não tem começo bonito. Não tem foto de família na sala, nem festa de aniversário com brigadeiro. O que eu lembro é grito, vidro estourando e corpo caído no cimento frio. Meu pai tombou primeiro: dois tiros no peito, um na testa. Minha mãe correu pra cima, gritou como quem tenta segurar a vida na unha… levou também. Rápido. Seco. Sem chance de despedida. Eu fiquei parado, uns onze anos no máximo, mão tremendo, mas o olhar já endurecido. Foi ali

