— Júlia, tem um minutinho? — a voz da Vera veio da porta, baixa, como quem não queria interromper demais, mas também não podia deixar passar. Levantei da cadeira, respirei fundo e fui até ela. — Claro. Quer que eu vá até sua sala? — Não. Vamos na cozinha mesmo. Tá mais fresco lá. E a gente pode tomar um café sem parecer reunião. Seguimos em silêncio pelo corredor. Meus passos eram cuidadosos, tentando disfarçar a ansiedade que já me tomava. Os dela, firmes, seguros, de quem sempre parece saber exatamente pra onde vai e o que quer dizer. Ainda assim, havia algo diferente. O olhar dela estava menos blindado, menos duro. Talvez fosse cansaço, talvez fosse um espaço que ela, enfim, decidira abrir. Na cozinha, ela serviu duas xícaras. O aroma forte do café fresco subiu no ar, preenchendo

