35. Julia

986 Palavras

Já era quase seis da tarde quando bateram na porta da salinha da ONG. Eu estava recolhendo folhas soltas, organizando pastas, mas a cabeça seguia longe, ainda no bilhete da Vera, nas roupinhas dobradas, na delicadeza das cores. Tudo tão pequeno, tão frágil, e ao mesmo tempo tão definitivo. Abri a porta devagar. — Tá pronta, Dona Júlia? — Kay surgiu com aquele meio sorriso de canto que sempre me desmontava. Camiseta preta colada no ombro largo, boné aba curva, corrente discreta no pescoço. Era cria da rua, sim. Mas ali, diante de mim, já carregava no olhar um coração que tinha aprendido a estar dentro de casa. — Você veio me buscar? — Prometi que hoje a gente jantava junto. — Ele arqueou a sobrancelha. — Você acha mesmo que eu ia esquecer? Ri. Puxei ele pela mão, trazendo-o pra dentro

Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR