Capítulo 2 - Christiel

1020 Palavras
Não é porque estamos no meio da política, ou no topo dela dentro de uma cidade que a disposição de estar em festas se encontrava sempre conosco. Eu por exemplo, estou parado em frente ao espelho olhando o meu reflexo enquanto Elly, minha vice prefeita caminha de um lado para o outro com seus saltos enormes que me fazem questionar como uma mulher consegue se equilibrar naquelas coisas sem bambear. - Christiel Elliot Schneider, você está por algum acaso me ouvindo? - a ruiva brada com as mãos na cintura e o rosto avermelhado de raiva por eu não estar ouvindo o que ela fala. Solto meu melhor sorriso para ela. - Eu sabia que não. Esse evento vai ser um desastre, eu já prevejo isso. - Hei baixinha, fica calma. As coisas vão sair exatamente como você planejou, sei disso por que confio cegamente em você. Agora pode me ajudar com essa gravata? Nunca fui bom com elas. - ela relaxou um pouco e suspirou me ajudando com a gravata borboleta. Habilidosamemte ela deu o nó e concluiu com duas tapas em meu ombro esquerdo. - Ainda te enforco com essas gravatas. - ela resmungou me fazendo soltar uma gargalhada e traze-la junto comigo. Ao menos diminuiu a tensão. - É só um evento para os policiais, você vai se sair bem, okay? Assenti. A buzina da limosine chamou nossa atenção dentro da prefeitura, estendi o braço para ela parando um pouco para olhar o contraste que seu vestido verde musgo fazia com os cabelos alaranjados. Elly era uma grande amiga de longas datas, não tinha como escolher um outro alguém para estar em sua posição. Além da ótima comunicação que tinhamos, ela era a pessoa mais indicada ao cargo, acho que ninguém conseguiria organizar uma cidade e me tirar do sério ao mesmo tempo, muito menos me forçar a prender ela no armario do zelador para não espancar um dos veriadores machistas, enfim. O salão do evento não era grande, por que realmente não se tratava de algo que muita gente participaria. Era algo rápido de entrega de medalhas por causa de um incêndio grande que tivemos em uma das fábricas de químicos, eles mereciam esse momento. Policiais e bombeiros uniformizados entravam pela porta iluminada do salão, eu via tudo de dentro da limosine e suspirava, em minha cabeça uma longa lista de motivos para descer e pegar um táxi até em casa era lida pelo meu subconsciente, mas o olhar mortal da ruiva a minha frente me dizia que se eu não entrasse iria sofrer serias consequências. Suspirei e abri a porta descendo do carro e estendendo a mão para que ela descesse também, diversos fotografos nos cercaram e eu evitei responder a qualquer pergunta feita por repórteres, eu só queria acabar logo com isso. A decoração era em verde claro e dourado, alguns acompanhantes andavam pelo lugar com as roupas de gala quebrando o padrão dos uniformes negros e azulados que enchiam a visão. Não demorou para que Wesley, o capitão da polícia nos abordasse, aliás me abordasse, Elly já tinha desaparecido entre a multidão e me deixado a própria sorte, talvez devesse ter ouvido o que ela tinha a dizer. Apertei a mão de Wesley em cumprimento e ele apontou para sairmos do meio do salão, o segui. Próximo ao bar, pedi um whisky forte e desviei o olhar para a multidão enquanto ele falava. - Os policiais estão bem nervosos para esse momento, fico feliz que tenham achado uma brecha na agenda para dar a eles esse reconhecimento. - o capitão era bem formal, centrado, não o conhecia há muito tempo mas nossos ideais nunca se bateram, o que é algo bom por aqui, ele tinha um cargo muito importante, me desentender com ele não seria algo sensato. - Seria uma desfeita muito grande da nossa parte, não acha? Eu jamais faria isso, senhor Alborn. - ele assentiu desviando o olhar do meu e o percorrendo até a porta, o segui. Naquele momento tive que segurar firme o copo na minha mão, por que o desejo que eu sentia era larga-lo e correr para a entrada. Setenta anos, malditos setenta anos aguardando cada segundo que ela aparecesse, ensaiando o que diria quando a visse, o que faria, onde tocaria primeiro... e agora eu estou aqui petrificado olhando para a mulher da minha vida, vestida com um vestido azul acinzentado que desenhava todo o seu belo corpo. Os cabelos negros encaracolados, maiores do que eu me lembrava cobriam suas costas nuas, as runas pretas desenhadas no corpo dava a ela um ar misterioso, o olhar n***o sexy percorria o local calmamente como se estivesse esquadrinhando cada pessoa ali presente, mas antes que ele pudesse chegar a mim um bombeiro entrou e estendeu o braço para ela a encaminhando ao outro lado do salão. Seria seu namorado? Ela não se lembraria de nada da vida anterior? Aquela cena foi a culpada pelo aperto forte em meu peito, imaginar a minha consorte nos braços de outro homem me irritava e entristecia. - Você também? Sei que ela é realmente muito linda, mas não precisava focar tanto assim.- fui puxado de volta a realidade com Wesley reclamando, franzi a sobrancelha em sua direção. - O que quer dizer? - questionei meio aéreo pelo que tinha visto, minha mente trabalhando em diversas suposições. Eu poderia ir lá falar com ela, ou cumprimentar o bombeiro, poderia não interromper a sua vida... eu poderia fazer tantas coisas, tinham tantas possibilidades e eu estava parado no mesmo lugar. - Wylard, é a nova agente da homicídios, ela veio transferida de Miami, chegou no DP essa manhã e os policiais de plantão fizeram essa mesma cara de i****a que estava fazendo agora pouco. Sem querer ofender, claro. Aquele é o irmão dela, também veio transferido. - sua explicação foi o suficiente para que a chama de esperança queimasse dentro de mim a todo o vapor novamente. - Não ofendeu. - isso não foi ao todo verdade, mas ela estava aqui e o resto pouco importava para mim. Ela voltou, como disse que voltaria.
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