Quando Os Anjos Aman

Capítulo 3 - Hirin

Asas brancas me rodeavam, elas tinham plumas incrivelmente macias e transmitiam uma paz sem igual. Era como se eu precisasse delas para viver, sim, senti-las contra a minha pele despertava a necessidade de tê-las aqui, ao redor do meu corpo, para sempre e sempre... Me sentia segura, protegida, amada, desejada... sem palavras, sem saber quem era o dono delas... eu me sentia assim com aquele toque. Mas hoje foi diferente, hoje eu ouvi uma voz grave e suave que fez meu corpo inteiro tremer, o coração acelerou e a respiração quase travou.

"Minha deusa das trevas..."

- Nunca achei que ia precisar te acordar de manhã. - o sonho foi interrompido quando Haviel entrou no quarto, apenas o barulho da porta rangente me despertou em um salto da cama.

Eu normalmente sou sempre a primeira a acordar, meu trabalho exige isso, mas hoje nosso primeiro dia em Seattle eu não queria acordar. Tinha alguns meses que vinha sonhando com asas brancas, mas o de hoje foi tão diferente que me fez acreditar que se eu tivesse dormido mais um pouco teria visto o dono daquela voz tão deliciosa. Vibrante e contagiante, eu não acreditava muito em destino, porque tive que fazer o meu para sobreviver, mas meu coração almejava que aquele sonho fosse real, que o dono da voz e das asas estivesse aqui. E o estranho, mesmo não estando era como se estivesse.

- Fuso horário. - mumurei uma mentira qualquer enquanto deslizava para fora da cama e jogava os cabelos revoltos para trás.

- Claro que foi. - ele desdenhou e finalmente saiu do quarto me deixando sozinha com meus pensamentos.

De frente ao espelho eu suspirei para o reflexo. Vir para Seattle foi algo totalmente repentino, meu chefe achou que minha ajuda seria útil em alguns casos não solucionados, no início eu pensei em recusar e permanecer no meu lugar, mas logo a idéia começou a se fixar em minha cabeça e eu acabei aceitando vir. Para não me deixar sozinha, meu irmão decidiu que iria pedir transferência temporária, e aqui estamos nós.

Terminei minha higiene o mais rápido que pude, coloquei um vestido tubinho preto e uma jaqueta de couro vermelha por cima, minhas botas e por fim a maquiagem indispensável. Desci as escadas do pequeno flet e já dei de cara com o Haviel todo paramentado para o trabalho, ele me olhou e apontou para a mesa onde tinha o café da manhã nos esperando. Sentei a mesa ao lado dele e comecei a me sercir do chá de EarlGrey, ovos, queijo e torrada.

- Vai se apresentar hoje? - ele questionou enquanto comia salsichas de frango quase queimadas. Assenti. - Então não volta para o jantar?

- Eu aviso por mensagem. Aliás, você viu as chaves da minha moto? - ele apontou para o montinho de chaves na mesinha ao lado da porta.

O café foi rápido, ambos estavamos atrasados e o caminho até o DP prometia alguns engarrafamentos típicos do horário, mais um motivo para que eu sempre saia mais cedo que o normal. Ao estacionar na frente do Departamento fui logo encaminhada para a sala do capitão, Wesley Alborn, escrito em letras garrafais na porta rústica da sala até então fechada. Tive que esperar uns vinte minutos para ser recebida e, quando entrei já senti vontade de ir embora. Uma terna conversa sobre tolerância no horário, diciplina, comportamento e um evento hoje a noite. Tudo conduzido da forma mais seca e massante que eu já tinha visto. E a pior notícia do dia, ele irá trabalhar comigo para garantir que não mandaram uma pessoa sem experiência. Palhaçada. Além de tudo ter o chefe no seu pé. Infelizmente não pude negar, não entendia o que me prendia aqui, mas não podia simplesmente jogar isso para o alto e voltar. Era mais forte que o meu orgulho.

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Tive que rodar a cidade a procura de um vestido para usar a noite, eu não iria como policial mas como convidada. Demorei a achar e acabamos chegando tarde no evento, mas nada que chamasse muita atenção. Um imã me puxava a todo instante para o meio dos presentes, mas antes que eu pudesse seguir com o olhar, Haviel me conduz para o outro lado.

- Vou te apresentar há uns novos amigos, não quero eles dando em cima da minha irmã. - ele comentou rindo lateralmente me conduzindo há um grupo de homens, tinham dois bombeiros e dois policiais.

Os bombeiros eram loiros com olhos azuis, gêmeos, eles estavam tomando champanhe e se viraram para mim rindo lateralmente. Um dos policiais tinha cabelo castanho claro, olhos verdes, um corpo largo e forte, um olhar debochado que me mediu dos pés a cabeça me obrigando a fazer o mesmo em retribuição, quando nossos olhos se cruzaram apenas ergui uma sobrancelha para ele. O outro policial era um pouco mais baixo e menos largo, tinha tatuagens por todas as partes expostas do corpo, seu cabelo castanho era perfeitamente escovado para trás, os olhos azuis gelo apenas me encararam por sobre o copo de whisky.

- Esses são os gêmeos Collin e Coldy, esse i****a de olhos verdes é o Jonathan e esse outro é o Levi. - os gêmeos eram humanos, mas o Jonathan tinha um cheiro distinto, uma mistura de almíscar e pimenta fresca, recém colhida. Um híbrido de anjo e demônio. Já o Levi, cheirava ao sal do mar em dia seco, um leve cheiro de fumaça, demônio puro ligado ao mar. - Essa é a minha irmãzinha, Hirin. Ela vai trabalhar no DP.

- É um prazer conhece-los. - estendi a mão que logo foi recolhida por Jonathan e erguida até um beijo casto.

- O prazer é todo meu. - sorri lateralmente mas meus olhos desviaram para procurar o dono do cheiro doce e marcante que inundou o ambiente. Era como a brisa de um campo, um cheiro de águas tranquilas, era calmo e tranquilizante mas ao mesmo tempo marcante, fazia meu corpo inteiro vibrar.

Um homem alto, largo e elegante se aproximava devagar, usava um esmoquim tradicional que em seu peitoral robusto o deixava com uma postura imponente. O olhar azul como a água do mar recaiu sobre mim me deixando sem ar, o imã, aquela força me puxava para ele, era como se eu necessitasse dele.

- Boa noite. - era aquela voz, a voz do sonho que me fez meu corpo esquentar de imediato.