Quando tudo aconteceu (morro)

Capítulo 05 Joca

Joca Narrando

Iae, rapaziada, mais um dia começando. Hoje é dia de luta. Bora pra cima, porque é dia de chegar mercadoria, dia de verificar estoque, conferir o armamento. O dia é o dia! Não tem dia de glória sem dia de luta, né? Levantei cedo, joguei aquela água no corpo pra tirar o suor. Vesti a bermuda, a camiseta, meu boné de sempre. Peguei a chave, coloquei a pistola na cintura, desci pra tomar o café. E aquela Feiticeira... não sai da minha cabeça. Vou ter que encontrar aquela mulher de novo, nem que seja mais uma vez. Uma mandada gostosa da p***a. Onde será que ela tá? Um mês já, e não consegui esquecer aquela Feiticeira do crlho.

Geralda — Aí, Joca, que susto, menino! — falo e garro ela por trás e levanto no ar.

— Bom dia, coroa. Vou comer aqui rapidinho. Hoje o dia tá cheio. Nem precisa me esperar pro almoço, talvez nem coma mais hoje. — Ela já me bate com o pano de prato, fazendo cara feia.

Geralda — Não faz isso, menino, não me mata de preocupação! Já basta eu ter que me preocupar com teu irmão naquela jaula. Tu tem que se cuidar, se alimentar direito! Depois fica passando m*l por aí e a culpa não vai ser minha, porque a comida tá aí todo dia! — ela começou a descarregar aquele tanto de sermão, eu amo essa resenha com ela.

— Aí, coroa, isso dói! — falei esfregando o local onde o pano de prato pegou.

Sentamos e tomamos o café juntos. Depois sigo pra boca.

Subo o morro admirando tudo. Nem acredito que sou dono disso tudo. Chego na boca e vou entrando. Faço o toque com os moleques da segurança. Os parceiros já tão aqui me esperando. Sento na minha cadeira, respiro fundo, abro o computador pra checar o abastecimento. Hoje é dia de repor as mercadorias.

MK — Iae, irmãozinho, tudo ok? Ferrugem disse que vai direto fazer uma cobrança, já já cola aqui. — O cria já cola me deixando por dentro de tudo.

— Tranquilo. Vamos trabalhar, que hoje o dia é de corre. Quero que tu vá junto com o Mosca e veja como tá os armamentos. Tem que tá tudo no esquema, ninguém sabe quando eles vão vir pra cima da gente. Apesar que já tem tempo que os mané nem beira a comunidade, mas a gente não pode vacilar. — Passei a visão já respondendo umas mensagens.

MK — É nóis, mano. Vou verificar o armamento. Tu vai levar quem pra buscar a mercadoria contigo? — Perguntou me fazendo olhar pra ele.

— Ah, vou com dois de confiança. Esquenta não, tá tudo sob controle. — Mandei e voltei a olhar pro notebook.

MK — Então vou nessa. Até mais, falou!

— Vai lá. É nóis.

Observo as planilhas e já noto que tem um dos menor querendo me passar a perna. Esses aviãozinho têm tudo pra subir, mas tem uns que querem dar desperto pra cima do pai. Aí não cola, não. Com um copo de vodka na mão — logo cedo, porque a cabeça tá fervendo — fico pensando na audiência do JM. Nada até agora. Vou falar com o advogado hoje. Se ela não tiver novidade, vou ter que entrar com plano de fuga. Não posso deixar meu irmão lá dentro, ainda mais sendo o dono disso tudo.

Vou até a mesinha no canto da sala, pego um beck já bolado, acendo com o isqueiro. Pernas na mesa, deixo a fumaça subir.

Essa semana o pai faz 25 anos. Vai ter bailão na quebrada, não pode passar em branco. Quero pipoco subindo e as gostosas balançando a raba. Dois anos quase à frente de tudo. Faço o certo pelo certo. Tento ao máximo ajudar a comunidade e os meus. Abri vários comércios pra colocar o povo pra trabalhar. Quanto menos gente no crime, melhor. Quero minha comunidade no certo, só a tropa no trabalho pesado. Estamos num projeto pros menor na comunidade. Não quero que o crime seja a única opção.

Clara e Gabi entram na sala sem nem bater. Essas mandadas são piores que os arrombados dos parceiros.

Clara — Oi, gatinho. Que que tu manda? Já vou logo falando: não fiz nada, não sei de nada, e é isso aí. — Já vem se abrindo eu dou uma fechada na cara.

Gabi — E aí, chefe? Que que manda? Já vou logo falando também: não fiz nada, não sei de nada. — Gabi já tenta se defender, quando é assim pode saber que tem culpa no cartório.

— Sei não, hein… Tô bolado cês tão moscando demais, certeza tão tramando alguma parada. Senta aí, vamo desenrolar essa ideia. Ó, se liga: vê com quem vocês tão colando, porque se esses maluco rodar, vão rodar sozinhos, tá ligado? Não vou poder fazer nada. Se tiverem junto, vão cair também, vão dançar feio. Não boto meu na reta nem por vocês, nem por ninguém, tá ligado? — Dei aquela prensada deixando ela cientes.

Clara — Que isso, n**o? Tá bolado por quê? A gente não tá fazendo nada demais, não. Os caras tão no corre deles, suave… Fica de boa, que não vai respingar nada pra gente, confia. — Falou jurando que eu não vou me meter nessa pørra.

Gabi — Já vou logo mandando a visão: desse BO eu tô fora, papo reto. Tô na minha, limpinha. Até falei pra Clara abrir o olho, porque, de menor ou não, se der r**m, vai sobrar pra ela também, tá ligado? — A mina sempre foi visão e cabeça.

— Cês tão ligado que esses vacilão tão metido em esquema de roubada de firma, né? Eu já tô na contenção, só de olho. Se der merda e respingar aqui na quebrada, pode crer: posso até ser preso, mas antes disso mando apagar geral, sem caô. Tô batendo a real porque nós é cria junto desde pivete. Depois não vem pagar de vítima, dizendo que eu não avisei. Fica ligeira, visão? — passei a visão abrindo os olhos delas.

Clara — Valeu mesmo, neguim. De coração, obrigadão. Relaxa, a gente vai ficar na visão. Qualquer coisa, já sabe… pulo fora. Quer dizer… eu pulo, né? Porque a outra aqui é mó cagona. Gosta de ostentar, de tirar onda, mas na hora do pega pra capar, treme na base. — Ela soltou entendendo o recado.

Gabi — Tenho amor à minha vida, parça! E se eu rodar, quem vai criar meu cria nessa bagaça? Tá maluca?

— Já soltei a visão pras duas… fica ligeira, mano. Esses moleque não tem responsabilidade com nada. Na hora que o bagulho engrossar, eles vão vazar, vão se esconder… e quem vai segurar o rojão são vocês. Sempre estoura pro lado mais fraco, já tá ligado, né?

Continua.....