Ciúmes de Marlon.

1346 Palavras
O pigarro do meu pai fez meu corpo inteiro congelar. — Já que você pediu a permissão… ele começou, cruzando os braços — algumas coisas precisam ficar bem claras. Meu coração acelerou. Edgar, porém, se manteve firme, respeitoso, os olhos fixos no meu pai. — Minha filha não sai de casa à noite. Se quiser ver ela, vai ser aqui, na varanda. — Sim, senhor. Edy respondeu de imediato, inclinando a cabeça. — As notas dela não podem cair. Estudo em primeiro lugar. — Concordo plenamente. ele reforçou, sem titubear. Meu pai estreitou os olhos antes de soltar a última: — E escuta bem, rapaz. Minha filha é moça de família, não é brinquedo. Edgar assentiu, sério, e disse com firmeza: — Eu sei o valor dela. Não precisa se preocupar. O olhar do meu pai demorou alguns segundos sobre ele, como se testasse suas palavras, até finalmente pigarrear outra vez. — Podem ficar aí na varanda por enquanto. Ainda tá cedo. Mas só até às dezenove. então se virou para minha mãe. Mulher, vamos, que já tô com fome. Prepara meu jantar. E sumiu pra dentro, me deixando com as pernas bambas e o coração explodindo dentro do peito. Virei para Edgar, o sorriso escapando sem controle. — Por que você fez isso? minha voz saiu baixa, trêmula. Ele se aproximou, e antes mesmo da resposta, selou minha boca num beijo firme, doce e cheio de promessa. — Porque eu vou te fazer esquecer ele. murmurou contra meus lábios. Meu coração falhou uma batida. O nome não dito pairava entre nós: Marlon. — Você já tá fazendo isso… confessei num sussurro. Ele sorriu daquele jeito ladino, e eu o puxei pela mão até a varanda. No canto havia um balanço de madeira, meu lugar preferido desde menina. Sentamos lado a lado, e por alguns segundos só o ranger do balanço preencheu o ar. Edgar olhava pra frente, um meio sorriso nos lábios, como se os pensamentos o levassem longe. — O que foi? perguntei, curiosa. Ele voltou o olhar pra mim, intenso. — Seu pai não sabe que você faz as coisas que faz, né? Senti meu rosto incendiar. — Eu… eu não faço isso sempre. desviei o olhar, mordendo o lábio. A mão dele deslizou para minha nuca, me puxando de volta para seu campo magnético. — Relaxa… sussurrou, os olhos presos nos meus. — Eu vou guardar seu segredo. Vai ser só meu. Eu quero só pra mim agora. O beijo dele veio potente, quente, arrebatador. Minhas mãos tremeram em suas costas enquanto as dele deslizavam pelas minhas coxas, me fazendo queimar de dentro pra fora. Respirei fundo, tentando manter o controle. — A gente não pode… não aqui. protestei, quase sem forças. Ele encostou a testa na minha, sorrindo malicioso. — Eu sei… não vamos. É que eu perco a noção quando tô com você. Um riso tímido escapou dos meus lábios. — Eu gosto… gosto muito. Ele acariciou meu rosto, os olhos brilhando de um jeito que me desmontava. — Você é perfeita. disse baixo, como uma promessa que parecia selar tudo entre nós. .... Na manhã seguinte, o frio na barriga não era de nervosismo, mas de felicidade. Caminhar de mãos dadas com Edy parecia um sonho. Mas na escola, cada olhar pousado sobre nós se transformava em sussurros. Naquela cidade pequena, todo mundo conhecia todo mundo… e ninguém nunca tinha me visto com alguém. Mas o olhar que mais pesou, porém, foi justamente o que eu mais detestava agora. Marlon. Ele estava rindo com uma das alunas perto da porta, mas o sorriso sumiu no instante em que nos viu. Seus olhos estreitaram, e por um segundo a sala inteira pareceu silenciar. Minha respiração falhou. — Tudo bem? Edy apertou minha mão, atento. Forçei um sorriso e acenei. — Sim. Entramos juntos, ainda de mãos dadas, e nos sentamos lado a lado. As cadeiras se enchiam aos poucos com os colegas, risadinhas aqui e ali. O ar ficou mais denso quando Marlon entrou, batendo o diário na mesa. — Clarisse, sua cadeira não é aí. a voz saiu áspera, fria. — Como eu disse na última aula. Suspirei, já sentindo a tensão subir pelo meu corpo. Peguei minhas coisas devagar, mas antes de me levantar, Edy segurou firme minha mão. — Não deixa ele ter poder sobre você. Assenti em silêncio, puxando o ar para não tremer, e fui para a cadeira “correta”. A aula inteira passou como se eu estivesse sob dois olhares distintos: o de Marlon, fixo, pesado, sufocante… e o de Edy, atento, protetor, me lembrando de respirar. No fim da aula, a voz de Marlon cortou o ambiente: — Estão liberados. Menos você, Clarisse. Precisamos falar sobre o seu comportamento. Senti o estômago revirar. Os colegas se entreolharam, cochichando enquanto saíam. Edgar foi até mim sem pensar duas vezes. — Eu vou ficar. — Não. balancei a cabeça, firme. — Me espera lá fora, eu resolvo isso. Ele franziu a testa. — E se ele tentar algo? — Você vai estar na porta. Vai ouvir. Se eu gritar… sei lá. Só vai. minha voz falhou, mas tentei manter firmeza. Antes que eu respirasse de novo, ele segurou meu rosto e me beijou. Um beijo rápido, mas intenso, sem se importar com quem assistia. E Marlon assistia. O pigarro dele ecoou pela sala, ácido. Edgar se afastou devagar, olhando fixo para o professor. — Eu vou estar lá fora. disse, firme, como uma promessa. Acenei, sentindo meu coração disparar. Ele saiu da sala, mas antes lançou uma encarada dura em Marlon. Um duelo silencioso, que deixou o ar ainda mais pesado. Agora eu estava sozinha. Sozinha diante do homem que já tinha partido meu coração uma vez… e eu não deixaria ele fazer de novo. Marlon esperou a porta se fechar completamente antes de se virar para mim. O tom da sua voz já veio afiado: — Que palhaçada é essa, Clarisse? cuspiu as palavras. — Andando de mãos dadas com aquele garoto que m*l chegou na cidade… Que tipo de garota você virou? O sangue subiu à minha cabeça na hora. Eu odiava ouvir aquilo, odiava o jeito dele me tratar como se tivesse algum direito sobre mim. — E você? retruquei, a voz firme apesar do coração acelerado. — Acha que eu não sei que tipo de livro você estava lendo com a Melody? Faz isso com todas, não é? Ele travou, os lábios se fechando por um instante. Mas logo disfarçou. — Você tá vendo coisa onde não tem, Clarisse. — Eu vi uma foto. soltei, o encarando sem desviar. — Uma foto, Marlon! Eu não vou ser mais uma das garotas que você usou. Não vou! O semblante dele endureceu, e de repente a mão pesada agarrou meu braço, me puxando mais perto. — Então é verdade mesmo? Você tá namorando aquele playboyzinho? Arfei, puxando o braço de volta. — Ele é muito mais homem do que você jamais vai ser! A força dele vacilou e eu consegui me soltar, dando um passo atrás. Os olhos de Marlon brilharam de raiva. — Você acha que é especial? Ele tá fazendo a mesma coisa, Clarisse. seu tom foi cortante. — Mas comigo… comigo seria diferente. Meu estômago revirou, e todo o nojo que eu sentia transbordou na voz quando respondi: — Me deixa em paz. Caminhei até a porta, empurrando ela com firmeza. Assim que abri, o ar preso nos meus pulmões pareceu escapar de uma vez. Edgar estava lá. De braços cruzados, me esperando. O olhar dele caiu sobre mim primeiro, depois deslizou rápido para o braço que Marlon segurara. — O que ele fez? perguntou, a voz carregada de cuidado e alerta. Forçei um sorriso, mesmo ainda com o coração descompassado. — Nada, estou bem... Vamos? Ele não disse nada, apenas estendeu a mão. Segurei forte, como quem se ancora, e caminhei ao lado dele. O sorriso que ele me deu ao sairmos juntos foi a resposta que eu precisava. Tudo ficaria bem agora... Tudo ficaria bem. ...
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