Apertei o celular mais forte, sentindo o incômodo.
Respondi:
— Não estou à venda, mas tem conteúdos que você pode ter acesso. Me verá em todos eles.
O silêncio demorou, mas quando vibrou novamente, a mensagem me atravessou como lâmina:
" — Então não precisa ser nada… só um jantar. Você escolhe se acontece algo depois ou não. Eu só quero te acompanhar. Só isso."
Engoli seco.
Aquele pedido simples, direto… era diferente de tudo que eu estava acostumada a ouvir.
Entrei no perfil dele, fotos e vídeos curtos. Viagens e até localidade.
Biografia profissional, lugares luxuosos em destaques.
E o seu rosto ali, estampado no perfil.
O celular vibrou novamente em minhas mãos, voltei pra caixa de mensagem e respondi:
" — Aceito, mas só jantar. Meu preço é..."
digitei, colocando o valor com frieza, como quem delimitava território.
A resposta veio em segundos, quase como se ele estivesse aguardando ansioso.
— Fechado. Mas pode ser hoje? Viajo muito, estou de passagem... queria muito ver você antes de partir de novo.
Mordi o lábio, desconfiada.
Urgência nunca me soava bem. Mas, ao mesmo tempo, aquilo despertava em mim uma pontada de curiosidade.
— Hoje então.
respondi seca, mas o coração acelerado denunciava minha hesitação.
Donna voltou para a varanda com duas xícaras fumegantes.
— E aí?
Soltei um sorriso enviesado.
— Como prova de que saí da bad... eu tenho um jantar hoje. Com um cliente... bem alto.
— Alto?
ela arqueou a sobrancelha, rindo.
— Financeiramente, né?
Balancei a cabeça em afirmação.
Donna ergueu a xícara, encostando na minha.
— Criei um monstro.
Rimos juntas, mas só por fora.
Por dentro, eu estava no automático, tentando tapar o buraco que Edgar tinha aberto quando ressurgiu.
Me arrumei com calma. Um vestido justo, elegante, provocante o suficiente para prender olhos, mas sem cair no óbvio.
Ondulei os cabelos negros, deixando eles soltos, moldando os sobre meu corpo como se fossem mais uma arma.
Quase no fim da maquiagem, o celular vibrou.
"— Manda o endereço que envio o motorista."
Mordi o sorriso.
— Não, querido... eu vou até o local.
Ele insistiu.
"— Mais seguro se eu enviar o carro. Faço questão."
Revirei os olhos. Burra eu não era. Nunca passava endereço para cliente.
— Não precisa. Só me manda a localização.
Demorou alguns segundos, depois cedeu.
"—Tudo bem. Te envio agora."
Mostrei para Donna antes de sair, a pesquisa que fiz rápida do tão endereço.
— Restaurante desses de alto nível... salas privativas.
Ela fechou o notebook, analisando a tela do meu celular.
— Esse cara tá querendo mais do que jantar, Clarisse. Esse lugar... rola de tudo. Só os grandes vão.
Sorri de lado.
— Então vou gostar de conhecer.
— Você tá se convencendo ou tentando me convencer?
Donna rebateu, irônica.
— Porque eu sei que é fachada.
Não respondi. Apenas respirei fundo. Queria o normal de volta.
Queria o controle que sempre tive, antes de ver Edgar.
Antes de sentir aquele olhar masculino, aquela barba cerrada, aquela voz que mexia com cada fibra do meu corpo.
Ele estava tão diferente mas parecia tão ele...
Ele tinha atitude. E eu sempre fui fraca por isso.
Eu iria esquecer, com o tempo... Eu só precisava substituir essa lembranças por objetivos, e agora. O objetivo era fazer dessa noite, a noite mais inesquecível desse homem que iria encontrar.
...
Peguei o carro e segui.
O restaurante era discreto, envolto em mistério. Quando cheguei, uma recepcionista elegante me conduziu por um corredor repleto de portas.
Sons ambientes escapavam discretos, música baixa, risadas, algo entre luxúria e segredo.
— É aqui, senhorita.
ela abriu a porta.
Entrei. O coração disparou de imediato.
O ambiente era íntimo, aconchegante. As luzes baixas, um abajur amarelado espalhando reflexos que lembravam fogo sobre o tapete. O ar era pesado, sedutor.
E lá estava ele. De costas.
Um copo de bebida na mão. Ombros largos, postura impecável. A sombra do poder preenchia o espaço antes mesmo de sua voz ecoar.
— Espero que tenha gostado do lugar.
Um arrepio cortou minha pele.
umedeci os lábios, tentando manter a máscara.
— Você... frequenta bastante lugares assim?
Ele girou um pouco o copo entre os dedos, sem se virar. Sua pergunta era sugestiva de mais.
Como um teste. E eu não deixava a desejar quando o assunto era sedução.
— Depende... da resposta que quer receber, posso ser o que você quiser durante esse jantar.
Minha voz saiu firme, decidida.
— Então pode ser o que quiser durante esse jantar, mas eu quero uma em específico.
E foi aí que ele se virou.
Meu mundo parou.
— Não...
sussurrei, a voz falhando
Meu peito explodiu.
Era ele.
— Edgar!?
....
NARRAÇÃO EDGAR:
Tinha armado tudo.
Cada detalhe.
A sala era minha, trancada, sem ninguém para interromper. Recebi a chave extra, paguei caro pela privacidade, e agora ela estava ali. Presa comigo.
O perfume dela tomou o ar no instante em que entrou.
Inconfundível.
O mesmo de antes. O mesmo que me enlouquecia. Fechei os olhos por um segundo, inalando como se fosse oxigênio depois de um mergulho longo demais.
Quando perguntei se tinha gostado do lugar, a voz dela veio atrevida, carregada de luxuria:
— Depende do que você quer ouvir… posso ser o que você quiser durante esse jantar.
Meu corpo incendiou.
Virei para encará-la.
E ali estava. Impecável.
Vestido preto colado no corpo, cabelo ondulado escorrendo como cascata n***a. Olhar feroz. Selvagem.
— Então pode ser o que quiser nesse jantar… mas eu quero uma em específico.
minha voz saiu mais grave do que gostaria, mas cheia de excitação.
Na mesma hora, ela fechou a expressão.
— Edgar...
O sussurro foi audível, baixo, mas seus lábios foi tudo que conseguir olhar.
— Não. Não pra você!
rebateu, áspera.
Ela recuou quando avancei.
— Não marquei nada com você. Você me enganou!
acusou, dando passos de volta até a porta.
As mãos dela tremiam na maçaneta, tentando abrir.
Tirei a chave do bolso, erguendo devagar.
— Procurando isso?
Os olhos dela faiscaram quando retornaram a mim e a chave que estava em minhas mãos.
Ela não vai fugir, não dessa vez.