É ele ... é o Edgar!

959 Palavras
CINCO ANOS DEPOIS. A tela do celular refletia meu corpo em mais um vídeo sexy. Sussurros, olhares, poses que eu já sabia de cor. Um simples clique, e dezenas de homens respondiam, cada um querendo um pedaço da “Bianca”. Eu os atendia com frieza, com profissionalismo. Nenhum deles chegava perto da minha pele de verdade, não mais. Era trabalho. Era sobrevivência. O único que ainda me encontrava, era Gusmão. O meu primeiro cliente. Mas já não era mais a mesma coisa, eu fugia disso, ele tinha uma vida fora das nossas quatro paredes e ela não me agradava. Me fazia sentir suja, então comecei a evitar seus atendimentos. As redes sociais ajudavam, hoje em dia. Apelidaram de Job... E assim, minha vida, virou apenas fictícia. Bianca era um pote de ouro escondido que poucos tinham acessos. Mas uma notificação de mensagem, mudou tudo: Era a Donna. Atendi rindo sem imaginar no que iria me meter. — O que foi agora, mulher? perguntei, ajeitando o decote diante da câmera. A voz dela veio apressada, aflita: — Bi, preciso de um favor, sério! Eu marquei sem querer dois clientes na mesma noite e já recebi a grana. Não tem como devolver, já mandei tudo pro asilo do meu pai. Se eu desmarcar, vai dar r**m. Arqueei a sobrancelha. — Dois clientes, Donna? Que confusão. — Mas calma, não é nada demais! ela insistiu. — Eu vou pro pior, juro! É um duo de homens, não ia mandar você pra isso nunca. Eu só preciso que você vá no outro: uma despedida de solteiro. Só isso, simples, rápido. Suspirei fundo. Eu já tinha dito que não queria mais festas, mas a forma como ela falou me desmontou. — Tá bem, eu vou. Do outro lado da linha, ouvi o alívio na respiração dela. — Obrigada, Bi. Eu te devo uma. Te passo o endereço, é numa casa luxuosa, os caras têm grana. Vai tranquila. Desliguei e encarei meu reflexo no espelho. O ritual começou. Depilação impecável. Perfume doce e venenoso. Maquiagem carregada, olhos marcados, batom vermelho como sangue. Por cima de tudo, um sobretudo preto que escondia minha verdadeira armadura: lingerie fina, salto agulha. No carro, a música alta abafava meus pensamentos, mas o coração insistia em bater forte. Eu conquistei muito desde o meu primeiro cliente, muito mais do que conseguiria vivendo naquela cidade, ou trabalhando aqui, em um emprego comum. Acumulava apartamentos, jóias é uma conta gorda. Eu tinha tudo que precisava e muito mais do que isso, eu tinha orgulho e ego pra entender que eu venci... A tudo e a todos. Sem prisões, livre. .... Cheguei ao endereço: uma mansão luxuosa, jardins iluminados, seguranças na porta. Nada que eu já não tivesse visto antes. Respirei fundo e entrei. Risadas altas, música eletrônica, copos erguendo-se no ar. Logo um homem anunciou, entusiasmado, após saber da minha chegada: — E agora… o prato principal! As portas se abriram diante de mim. Entrei devagar, passos calculados. A fumaça das máquinas se misturava às luzes coloridas. Meu corpo se moveu com naturalidade, como sempre. Mas, de repente, meu mundo congelou. Entre aquela fumaça, eu o vi. Meu coração parou. Meu peito quase gritou. Mas minha boca se calou. Não... Não era possível... Era ele. Era o Edgar. .... — Clarisse… O nome escapou dos lábios dele como um sussurro incrédulo. Um nome que eu havia jurado nunca mais ouvir daquela voz. Meus pulmões arderam, mas eu não tremi. Não diante dele. Virei devagar, deixando que meus olhos encontrassem os dele, aqueles olhos que um dia foram meu mundo. E agora, eram apenas a lembrança mais c***l que eu carregava. — É você? ele insistiu, como se buscasse no meu rosto a garota que deixou para trás. Meu coração se encolheu, mas minha boca se curvou em um sorriso treinado, cortante como lâmina. Não, não... Isso só podia ser um teste.. um teste c***l. Ele estava mesmo ali, na minha frente, me olhando com um choque, indignação.. eu nem sei como descrever aquele olhar. Raiva? Não conseguia entender, mas m*l tinha tempo de racionar. Eu só pensava. " Fica firme, olha pra frente, faz o que você veio fazer!" Ele.. ele não é ninguém! Reuni tudo de mim, todas as forças e me mantive neutra, ao menos por fora. Era isso que ele veria. — Me chama de Bianca. A palavra caiu entre nós como um muro. Foi quando um dos amigos dele surgiu, rindo alto, quebrando o ar tenso. — E então vai ficar parado ai? Vai me dizer que esqueceu como se diverte? Ela tá aqui pra isso, meu irmão! O salão explodiu em gargalhadas fáceis. Mas ele não riu. Ele continuou parado, me olhando como se tivesse visto um fantasma. E era isso que eu era pra ele. A garota que ele usou, que abandou naquela cidade miserável. Por dentro, eu ardia em raiva. Porque por dentro, eu lembrava das noites que chorei sozinha. Porque por dentro, eu sabia que enquanto eu me reconstruía do nada, ele seguiu em frente. Sem nunca me procurar. E aqui estava ele... Ele era o noivo. Então ergui o queixo e o fuzilei com o desprezo que aprendi a cultivar. E sabe o que é pior? A decepção. O homem que eu via diante de mim, não era e nunca vai ser o homem que eu me apaixonei, ele nunca faria algo assim. Era decepcionante imaginar que ele... Logo ele, iria casar e ainda sim estava aqui em uma despedida de solteiro. Rsrs.. por Deus (risada irônica) com uma garota de luxo.... Todos iguais. Todos. Sem exceção. Senti o gosto amargo da minha própria amargura, e a certeza me golpeou com força: Nunca mais. Nunca mais eu me deixo enganar! ...
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