Assim que ajeitei minha roupa e saí da sala, o celular vibrou no bolso. Liana. Suspirei antes mesmo de atender.
— Aonde você está? Ja estou no buffet, Amor…
a voz dela soou apressada, mas carregada de ansiedade.
— Estamos só te esperando.. até meu pai está aqui.
Revirei os olhos sozinho no corredor. Respirei fundo.
— Liana… eu ainda estou na empresa. Você sabe que eu não entendo nada de flores ou ornamentação. escolha tudo, Vai ficar perfeito do jeito que você escolher.
O silêncio dela do outro lado foi mais pesado do que qualquer resposta. Até que veio, baixa, quase triste:
— Você anda tão distante… o que está acontecendo com você?
Abri a porta do carro e deslizei para o banco do motorista. Passei a mão pela nuca, buscando paciência que não existia.
— Só estou correndo contra o tempo, Liana. É isso.
— Não, Edgar…
o tom dela vacilou, parecia quebrar.
— Não é só isso. Você não gosta de ficar na casa dos seus pais… desde que chegamos lá, você m*l me toca, foge de mim, é por isso? Está com raiva de mim também?
Fechei os olhos por um segundo, sentindo a exaustão bater.
— Não, não é isso.
— Eu só quero que a gente fique bem…
A voz dela ficou molhada de choro.
— Seremos uma família agora. Tudo que sua mãe fez foi para que a gente pudesse estar junto. Nós vamos nos casar, amor. Por que você ainda a odeia tanto?
Cada palavra dela latejou na minha cabeça. A velha ferida aberta.
Respirei fundo, tentando não deixar a raiva transbordar.
— Você tem coisas mais importantes com o que se preocupar agora.
Minha voz saiu seca, quase cortante.
Ela sentiu. Eu sabia.
— Seu pai perguntou por você hoje…
veio o golpe final, com aquele tom choroso, me culpando de um jeito que só ela conseguia.
— Acaba com isso, Edgar. Antes do casamento, por favor…
O clique frio do desligar me deixou sozinho com meu próprio peso.
Me senti uma merda. Sempre que ela chorava, eu me sentia o vilão.
E foi assim que cedi. Não por mim. Nunca por mim.
Dirigi até a casa.
Meu pai estava na varanda, sentado na poltrona, o olhar perdido em algum ponto que não existia.
Parecia menor, mais velho. Mais frágil.
Me sentei na poltrona ao lado.
O silêncio se estendeu por longos segundos até que ele quebrou.
— Você nunca vai me perdoar, Edgar?
Olhei para frente, sem coragem de encará-lo.
— Eu só espero ser um homem diferente do que você foi. Que não faça o mesmo com a Julien.
minha voz saiu firme, mas carregada de rancor.
— A sorte dela é não ser filha da minha mãe.
Ele abaixou o rosto, e eu completei:
— Só estou aqui porque Liana pediu.
Um silêncio pesado se instalou de novo.
Então percebi o tremor leve da mão dele.
Ele tentou segurar firme, mas falhou. Colocou a outra por cima, como se tentasse conter a própria fragilidade.
Parkinson. A imagem me cortou.
A raiva que eu carregava desde sempre vacilou. Vi meu pai pequeno, vencido.
Ele era meu exemplo, meu refúgio.
Como tudo se acabou assim?
— Eu sei o que fiz a você, sei que não cumpri o que prometi, mas eu tentei filho.
Respirei fundo, minha garganta queimando.
Eu sabia... Mas a cada dia que passava e eu não a encontrava, eu o culpava ainda mais.
Era nele que eu jogava a frustração de ter perdido alguém por sua promessa.
Mas sabia que sua intenção foi tão genuína como a minha foi na época.
E agora.. eu já tinha encontrado ela de novo. A dor já não tinha mais o mesmo peso.
— Eu te perdoo, pai.
falei, quase sem acreditar.
— Você foi tão vítima da minha mãe quanto eu.
Ele ergueu os olhos marejados e, com a voz embargada, disse:
— Liana é uma boa mulher. Vai ser uma boa esposa pra você. Não a magoe, filho…
Mas já era tarde de mais para aquele pedido.
....
ALGUMAS HORAS DEPOIS:
Estava no quarto, tentando organizar a bagunça da minha cabeça, após um banho quente e trocar as roupas que carregavam o cheiro gostoso de Clarisse.
quando ouvi Liana se aproximando, após entrar. Não fui a buffet nenhum, não era algo que sentiria prazer em fazer.
Minha paciência estava se esgotando, a cada dia que passava mais certo do que eu queria, eu ficava.
E eu precisava de um motivo pra que eu conseguisse sair disso.
Não diria nada sobre a Clarisse, não deixaria isso recair sobre ela, quando o major culpado era eu.
Porque não era liana que eu eu queria, era ela... Sempre foi ela e agora ela me deu um passe livre pra entrar de novo.
E caramba, eu queria pra c*****o entrar nisso. Mesmo que fizesse as maiores atrocidades cometidas.
— Edgar…
ela chamou, a voz alterada, cheia de descontentamento.
Não respondi. Eu ainda precisava de tempo pra colocar meus pensamentos em ordem.
Ela entrou no closset me vendo ali.
— porque você não foi? Estava te esperando, todo mundo te esperou.
disse, com olhos intensos .
— Desde que a gente vejo pra cá, tá… diferente. Como se eu fosse um peso, e não sua noiva.
Ela olhou em volta e levou a mão a boca.
— Que cheiro é nesse?
Eu sabia que o perfume de Clarisse ainda estava ali, doce, intenso, sedutor.
E agora, Liana sentiu. Franziu o cenho, com uma expressão que misturava irritação e curiosidade.
— Que perfume é esse?
ela perguntou, puxando a respiração como se fosse me acusar de algo.
— Tá tentando me irritar?
— Não…
murmurei, incapaz de me explicar. Não queria discutir, mas ela não deixava, virei pra ela sério.
— Não tenta me controlar liana, não gosto disso e você sabe muito bem.
Ela se revoltou.
Porque sabia que ela estava fazendo a mesma coisa que minha mãe fazia.
Tentando me amarrar, fazer todos os seus caprichos com fragilidade barata.
E eu fiz... Mas tudo tinha limite.
— Não me olhe assim!
ela continuou, a voz subindo.
— Eu não estou te controlando, mas você não quer saber de nada desse casamento, falta dias Edgar, dias! eu não sei mais o que fazer com você!
Respirei fundo, tentando não explodir, mas a tensão acumulada me corroía.
— Não funciono sobre pressão liana, se está tão insatisfeita com esse casamento ou como reajo, o melhor seria adia-lo.
falei firme, tentando conter a raiva.
— Adiar? Edgar!
Ela riu, mas era um riso seco, incrédula:
— O que está acontecendo com você? Desde aquela despedida i****a do Edu, você está assim? E ele não me diz o que aconteceu lá!
— Não aconteceu nada.
tentei, mas não havia palavra que justificasse tudo.
E então ela soltou a bomba:
— Eu não sei o que eu fiz pra merecer isso... Porque você faz isso comigo?
Suas mãos foi ao rosto, o choro.. há dr#ga, aquele maldito choro que me faz sentir o maior filho da p**a.
....