Episódio 3

1953 Palavras
Natacha A semana de trabalho passa mais rápido que o normal. Todos os dias tentamos arduamente concluir um acordo de poupança com a rede varejista Magnolia. Primeiro, o serviço de segurança Magnolia passa muito tempo verificando os nossos documentos constituintes. A cada hora eles pedem o envio de novos certificados, relatórios contábeis e diversas cópias de licenças. Na quarta-feira foi noticiado que a agência de publicidade “Modulo” os estava conseguindo como parceira. Eca. Realmente?! Assim que começo a me alegrar de todo o coração com este grande acontecimento, os advogados de Magnólia inundam o meu e-mail com correções nas cláusulas do contrato que são importantes para mim. Durante o resto da semana, estaremos ocupados coordenando-os. Jogamos pingue-pongue com redação, alteramos as condições, o valor das multas, penalidades por obrigações vencidas. Sim, sou nova no mercado publicitário da nossa cidade e muitos concorrentes ficam irritados com isso. Ao mesmo tempo, ainda não estou pronta para concordar cegamente com as condições escravizantes apresentadas pelo meu futuro parceiro. Agora entendo claramente que nunca fui capaz de negociar na minha vida. Provavelmente, quando Deus concedeu essa qualidade, eu fiquei na fila para teimosia e imediatamente perdi a minha vez. Sem dúvida, estas são vantagens. Mas agora me falta flexibilidade natural. Um desejo selvagem de ter tudo de uma vez sempre atrapalha. Acho que isso também tem um certo mérito para os meus pais. Desde a infância tive tudo o que uma criança poderia sonhar. Os brinquedos mais legais, vestidos novos, tecnologia. Tudo isso apareceu na nossa casa, só tinhamos que pedir para o nosso pai. Eu não tinha um único motivo para baixar o nível dos meus desejos. Ele apareceu muito mais tarde, na vida familiar. Mas eu não usei. Passei os últimos três anos da minha vida me convencendo a não sentir pena de mim mesmo... pelo menos por isso. Na sexta-feira eu estava tão exausta como se tivesse competido no atletismo olímpico a semana toda. Ao mesmo tempo, ainda não está claro se eles colocarão uma coroa de louros em minha bela cabeça e se abrirei a minha boca para “Glória à Pátria”, derramando lindamente uma lágrima solitária diante das câmeras. Nossa. Depois de arrumar a minha saia preta curta, olho cansada para a tela do meu notebook de trabalho. Estou tentando entender a próxima mensagem dos advogados de Magnólia: para aprovar a versão final do contrato, convidamos você para um jantar de negócios com um de nossos fundadores. Restaurante Camelot. 18h00. Droga. Pegando o telefone da mesa, pressiono o botão de discagem rápida. — Olá amigo, como vai? Após o segundo bipe ouço a voz alegre de Karina. — Oi, querida. Está trabalhando ou você já está livre? Sorrindo, respondo a minha amiga. – Bem, estou quase terminando. — Estou preparando sua lasanha favorita, acompanhando tudo com um bom vinho, enquanto ouço a música de Asti. Em geral, estou me divertindo ao máximo e esperando por você. Se apresse. Jogando a minha cabeça para trás na cadeira, eu rio alto. Esta é a nossa tradição. Nos encontramos todas as sextas-feiras e compartilhamos as novidades da semana e melhoramos a nossa saúde mental com uma taça de vinho branco. — Estou ligando para te chatear. "Magnólia" marcou um encontro para hoje a noite. Em vez de lasanha e você, terei que sorrir para algum cara careca e inteligente. Esta é a vida adulta. — Nossa, que pena. Mas a mamãe não vai te deixar sem algo. —Vou embalar cuidadosamente sua metade e entregá-la pessoalmente para você amanhã. Karina responde chateada. — Obrigado, minha chef favorita. Espero por você amanhã. Um beijo para você. — Vamos, espero que você tenha usado hoje aquela saia que compramos no final de semana. E o cara careca e esperto terá uma surpresa incrível no formato das suas pernas longas. Coloco o meu telefone para carregar e rio tanto que não consigo parar. Como eu amo minha amiga. Nos conhecemos quando eu tinha cinco anos e ela tinha acabado de fazer oito. Nossas avós moravam no mesmo, prédio. Passamos todos os verões juntas. Todos os principais acontecimentos da infância ocorreram com a participação de Karina. No início nos divertíamos juntos no balanço, pegando borboletas na grama, depois, à medida que crescemos, experimentamos o nosso primeiro cigarro a dois na esquina da nossa própria casa, corremos para a boate e voltamos de madrugada. Sempre juntas. Esta é a nossa regra. Em qualquer situação, esperamos uma pela outra e ficamos juntas. Pegando minha bolsa, vou ao banheiro ao lado do meu escritório. Depois de lavar as mãos e secá-las com papel toalha, tento arrumar a maquiagem matinal. Ao longo do caminho, decido complementar com batom vermelho. O jantar, embora de negócios, é realizado à noite, num restaurante. Posso ousar um pouco. Pela décima quinta vez naquele dia, abaixo a saia. Senhor, onde estava meu cérebro, quando decidi que este era um estilo de escritório? Aliso as dobras da minha blusa branca transparente sem mangas. Estou ajustando o meu pingente favorito na corrente. Seu único presente que guardei para mim. Alisando o meu cabelo cacheado, pisco para meu reflexo e mando um beijo. Vamos avançar, menina. Vá em frente, Magnólia será nossa! Bem, aguente firme, fundador! Abrindo as portas do restaurante às quinze para as seis, tento acalmar as emoções que dilacera minha alma. Porque "Camelot"? Outros lugares da cidade foram repentinamente surpreendidos por outra onda de Covid? Não gosto desse lugar. E tudo porque num dia claro e gelado de inverno, foi aqui, no melhor restaurante da nossa cidade, que aconteceu o meu casamento. Lembro-me claramente daquele dia, minuto a minuto. O meu vestido de noiva e casaco de vison cor rose, um buquê de rosas-chá, os meus pais. Lembro-me de como as lágrimas brilharam nos olhos de minha mãe quando o meu futuro marido e eu trocamos votos matrimoniais neste salão. Juras que o meu marido esqueceu imediatamente após aquele m*aldito casamento. Esse pensamento de repente me faz sentir frio. Caminhando até a mesa que a recepcionista me indica, me abraço com os braços e esfrego os ombros. Você conseguiu, Natacha, você sobreviveu a tudo há muito tempo. A recepcionista me leva para uma mesa, que fica perto da janela, bem no final do amplo salão. Tiro o telefone da bolsa, penduro a bolsa no encosto da cadeira, e sento-me, sem esquecer de ajeitar a saia. O telefone imediatamente começa a chacoalhar na minha mão. Atendo a chamada: Natacha, você já está na reunião, já começaram? Elina, a minha assistente e braço direito na agência, pergunta animada. — Sim, querido, já estou na reunião. Mas estou sozinha por enquanto, me preparando para as negociações. Respondo, olhando para a minha unha. Talvez eu devesse mudar a forma e a minha cor favorita. Garras vermelhas não estão mais na moda, como li ontem de uma estilista blogueira. — Natacha, temos uma emergência. Escala cósmica. Estou chocada! — Meu Deus, eu estava no escritório há uma hora, o que aconteceu? Respondo nervosamente. — Gosha errou na estimativa da Magnólia e esqueceu de adicionar o IVA. No contrato que quase acertamos, o preço dos nossos serviços é reduzido em vinte por cento. Isso é difícil, Natacha. Eu nem sei o que fazer agora. Simplesmente não podemos manter esses preços de serviços. – Espere, não verificamos as estimativas? — Esqueci de verificar Gosha. Fiquei tão preocupada com essas multas que estraguei tudo. Elina começa a rugir ao telefone. — Perdoe-me, por favor, é tudo culpa minha. — Pare, não chore. Deixe-me pensar, talvez possamos concordar com um desconto em banners ou encontrar materiais mais baratos? Deve haver alguma saída. — Estou tentando freneticamente lembrar as posições na ma*ldita estimativa. Quando chegar ao Gosha, o meu empresário, Deus sabe, ainda vou precisar das minhas garras. Bem, dane-se essas tendências. Fecho os olhos e tento me concentrar no contrato. — Natacha, que descontos? Os preços estão subindo a cada dia, não fizemos um orçamento para o crescimento deles de qualquer maneira para estar no mercado, você sabe. Diz a minha assistente, queixosa. — OK eu te entendo. Tentarei informar o cliente sobre isso. No final, até assinarmos um acordo, ninguém está imune a erros. Tento me tranquilizar. Começo a mexer no guardanapo nervosamente. — Vinte por cento! Eles nunca vão concordar, Natacha. – Eu entendo você, não chore. Eu preciso desligar. Ja vai começar - Termino a ligação e olho em volta. Não há fundadores carecas, a voz de um piano é ouvida baixinho no corredor. Os garçons correm entre as mesas com bandejas, os visitantes de sexta-feira engolem o conteúdo de seus pratos. Até agora está tudo tranquilo. Há tempo para pensar. Pense, Natacha, a minha cabeça é brilhante! Coloco o telefone sobre a mesa, tiro uma agenda e um contrato impresso da bolsa. Abro imediatamente a página com o orçamento. Droga, como não percebi esse m*aldito IVA. Você terá que sorrir docemente, fingindo ser mais uma jovem estúpi*da, para que o valor do contrato aumente. Vou usar minha feitiçaria, sempre funciona com o papai. Deixo os documentos de lado, verifico o frescor do batom do meu rosto no reflexo do copo vazio ao meu lado e congelo. Com passo rápido, contornando as mesas com visitantes, um jovem, que eu só via em sonhos nos últimos anos, vem direto em minha direção. Vestindo terno azul e camisa branca, ele chama a atenção de todos no salão. Tentando acalmar o meu tremor interior, olho para ele e não consigo acreditar. Porquê ele está aqui? – Boa noite, Natacha Vitalievna. Diz meu ex-marido, aproximando-se da minha mesa com um sorriso largo. — Você parece bem. Uma onda de indignação surge de algum lugar dentro de mim e afoga de cabeça meu espírito empresarial. Ele é o dono da Magnólia? Quando ele teve tempo? Ele que vá para o infe*rno com seus elogios. — Que tipo de show você está fazendo aqui, Gromov? Você está louco? Sibilo furiosamente em resposta a ele. Eu não queria estar na defensiva. Só não estou pronta. Não estou preparada para encontrá-lo assim, entre pessoas em um restaurante, três anos depois do rompimento. Finja que isso não me incomoda. Eu digo para mim mesmo. Mas, eu não posso. Eu voo da cadeira como uma fúria, pego a minha bolsa nervosamente e começo a procurar uma saída com os olhos. No mesmo segundo, Gromov agarra o meu pulso com força e me puxa em sua direção. Mais perto, ainda mais perto. Os seus olhos descem preguiçosamente do meu rosto até o decote do meu peito, passam mais abaixo, até as minhas pernas, que só nominalmente estão cobertas pela saia, depois sobem novamente e começam a perfurar meu rosto com um olhar pesado. — Parece que você se tornou uma mulher de negócios séria ou os jornais estão mentindo de novo? Andrew murmura friamente entre os dentes, olhando em volta. Desvio o olhar do rosto dele. Na verdade, o nosso encontro tem muitas testemunhas. Olho para as pessoas nas mesas que parecem ter esquecido por que vieram aqui. Nos dois como casal, sempre soubemos surpreender os outros. Eu olho em seus olhos novamente. Ele está tão lindos quanto da primeira vez no clube. Dói, como dói vê-lo tão estranho. Eu coloco toda a minha vontade em meu punho. Abro um largo sorriso e digo baixinho: — Preciso ir ao banheiro, solte a minha mão. Vejo luzes maliciosas acenderem em seus olhos, senti falta delas. Os dedos se abrem na minha mão. Eu me viro e ando lentamente para seguir o corredor. Sinto o seu olhar sobre mim. — Você tem dez minutos ou eu vou embora. Uma voz calma vem de trás. Idi*ota. Que idio*ta ele é. Eu odeio ele! Gr.
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