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820 Palavras
James Phillips, o visconde de Severn, estava finalmente voltando para o seu lar, na Inglaterra, depois de vários anos fora do país, estudando e conhecendo novas culturas e lugares diferentes. A viagem de conhecimento, tão popular entre os cavalheiros nobres, acabou se estendendo um pouco mais para ele e desde então, já havia conhecido diversos países, sem a mínima pressa ou vontade de voltar para casa. Até agora. É claro que vez ou outra precisava estar em Londres para resolver assuntos referentes ao parlamento ou alguma propriedade, mas, na maioria das vezes mandava um substituto e mesmo quando ia pessoalmente, nunca permanecia por muito tempo. Desta vez, no entanto, seria bem diferente, estava indo pra ficar, assumir de uma vez por todas as responsabilidades que o seu título exigia e a sua mãe principalmente. Além disso, estava disposto a finalmente ceder aos desejos da viscondessa viúva e desposar uma lady honrada da nobreza. James amava o mar. Achava revigorante aspirar aquela brisa marinha e encarar aquele infinito azul, que naquele momento estava mais para um infinito n***o. A escuridão da noite tomava conta do oceano, mas não diminuía a sua beleza, principalmente em uma noite como aquela, onde a lua brilhava de forma esplendorosa e digna de uma despedida. Aquela seria a sua última noite no navio, na manhã seguinte, desembarcaria em solo inglês. O jovem visconde ainda caminhava pela proa, em meio a devaneios sobre o seu futuro, quando algo distante lhe chamou a atenção. Vestido de preto, quase camuflado na escuridão noturna, se não fosse a lua cheia, talvez nem o teria visto, mas, ali estava. Um homem pequeno e magro, talvez fosse apenas um rapazote. Sozinho, o pequeno homem estava subindo na grade de p******o do navio e encarando o mar bravio e escuro ali do alto. Maldição, ele iria pular! Sem pensar duas vezes, James correu o mais rápido que pôde, gritando como um louco para que o homem parasse o que estava prestes a fazer. Havia um baile de despedida naquela noite, oferecido pelo capitão do navio, aquele homem provavelmente bebera demais e agora estava a ponto de cometer uma loucura, mas, jamais ousaria permitir que ele fosse adiante. Quando estava próximo o suficiente, ele diminuiu o passo, para não assustá-lo e causar justamente o efeito contrário ao que pretendia. Percebendo a sua presença, o jovem rapaz o olhou assustado, e justo naquele momento, o vento que já soprava forte, deu uma lufada ainda mais intensa, arrancando-lhe o chapéu da cabeça e expondo uma madeixa avermelhada e sedosa, que balançava vigorosamente. Era uma mulher! Ao tentar, em vão, segurar o chapéu, a jovem estranha, vestida como um cavalheiro, soltou as grades de p******o e cairia no chão, se James não a houvesse amparado rapidamente. Segurando a sua cintura, o visconde observou de perto o reflexo da lua cheia em seus cabelos de fogo, aquele brilho do medo em seus olhos azuis, seus lábios entreabertos pela surpresa e, por um momento, o ar quase lhe faltou nos pulmões. Ela era lindíssima! E o fogo não estava presente apenas nos seus cabelos, ela parecia emanar um calor onde ele a segurava, um calor que fez todo o seu corpo arder em resposta, quase que imediatamente. Ainda assustada e sem dizer uma única palavra, a ruiva recuperou o equilíbrio, e antes mesmo que ele lhe falasse alguma coisa, ela arrancou o chapéu da cabeça de James e saiu correndo desesperadamente. O visconde estava tão paralisado, devido a inusitada situação, que demorou alguns segundos para se dar conta do que tinha acabado de acontecer ali. Ela tinha acabado de roubar o seu chapéu? Infelizmente, os segundos que perdeu parado ali, foram suficientes para que a perdesse de vista. Quando correu ao seu encontro, se deparou com corredores repletos de pessoas que transitavam por causa do baile, diversos rapazotes pequenos e magros usando um terno preto. Maldição! Ela não teria como se esconder tão rapidamente, teria? Mas, afinal, quem ela era de fato? Por que estava vestida como um cavalheiro? Por que havia fugido roubando o seu chapéu? Aquela, com certeza, não era o tipo de coisa que deveria estar acontecendo na primeira classe de um navio de luxo como aquele. Seu chapéu havia sido um presente do próprio rei espanhol e se fizesse aquela história chegar aos ouvidos do capitão, estava certo de que ela seria caçada e encontrada, no entanto, estranhamente não era aquilo que ele desejava fazer. De toda forma, estavam no mesmo navio, até o dia seguinte ele a encontraria. Vestida como um cavalheiro ou não, ele a encontraria e tomaria o seu chapéu de volta daquela pequena ladra. Isso. O seu valioso chapéu. Seria apenas por ele que ele a encontraria, sem dúvida alguma. Ou pelo menos era isso o que o visconde dizia a si mesmo, enquanto continuava vagando pelos corredores do navio e pelo salão de baile, na esperança de voltar a vê-la.
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