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1346 Palavras
Para os conceitos de Lunna, lady Timberland era uma mulher verdadeiramente rica, isso era o que ela pensava, até pisar na propriedade dos Sackville, no condado de Dorset. Por um momento teve pena da mãe, que ganharia um pouco mais, porém, o trabalho em uma propriedade tão grande deveria ser no mínimo exaustivo. Quando entraram na propriedade, pela porta destinada aos criados, os olhos da garota brilharam ainda mais. Mesmo naquela parte da casa era tudo muito bem cuidado e luxuoso, com carpetes bonitos e papel de parede. a entrada das visitas deveria ser esplendorosa e Lunna imaginou quando poderia ir até lá, tirar a poeira das decorações requintadas, que com certeza fariam parte do local. Se bem que talvez não fosse uma boa idéia, se quebrasse alguma coisa alí, as consequências poderiam ser ainda piores que na casa da lady Timberland, onde um chão m*l lavado lhe rendia uma marca de cinto nas pernas. A lembrança r**m a trouxe de volta a realidade, parou de sonhar com os objetos preciosos, para observar o quarto que a governanta apresentava a sua mãe. Era um cômodo pequeno, mas limpo e arejado, tinha duas camas devidamente arrumadas e cortinas de um tecido delicado na janela. Entre as camas havia uma cômoda com várias gavetas , além de uma cadeira de balanço em um canto e uma mesinha com um vaso sem flores. Distraída, Lunna demorou a se dar conta de que aquele quarto seria seu e da sua mãe, mas quando prestou mais atenção na conversa entre os adultos sentiu vontade de pular e cantar. Nunca antes tinha tido um lugar tão bonito para dormir, ou um colchão de aparência tão confortável, mas se tinha uma coisa que ela aprendera desde cedo, era Controlar os seus impulsos e se comportar. Sabia muito bem qual seria o seu lugar ali, e não queria estragar nada daquilo. Assim que a governanta as deixou, sua mãe se abaixou e a abraçou chorando emocionada. Ela também nunca havia tido um lugar tão bonito pra dormir, e a casinha onde seus irmãos e sua tia iriam morar, também era simples e confortável e na sala possuía uma pequena lareira para as noites frias. - Deus abençoe o conde pela sua generosidade! Nossa vida será diferente aqui, meu bem, em troca daremos o nosso melhor. Seja sempre grata aos senhores dessa casa, está me ouvindo, não está? - estou mãe. Vou tentar não cometer os mesmos erros, ou ser preguiçosa como a lady Timberland dizia. - você nunca foi preguiçosa, querida, pelo contrário, trabalha muito mais do que deveria na sua idade. Aquela mulher era uma rabugenta! Sem perder tempo, Lunna e Cristina guardaram suas coisas e foram iniciar o trabalho. Cristina era uma das limpadeiras e Lunna começaria polindo algumas peças de prata e realizando outros trabalhos mais leves. Ela ficou muito mais aliviada ao notar a quantidade de servos e servas alí, e perceber que cada um exercia uma função diferente. Após polir todas as peças de prata e guarda-las, Lunna aproveitou que ninguém voltou para supervisiona-la e resolveu observar melhor o local. A sala de jantar, onde estava agora, superou em tudo as suas expectativas, um lustre grandioso pendia por cima da enorme mesa de madeira, com cadeiras aveludadas e tapeçarias estavam espalhadas por todo local, que por sinal era enorme, com vários armários com jogos de prata e porcelana. Seguindo em direção a enorme porta do local, ela se deparou com um corredor largo e com muitas outras portas, caminhou por algum tempo e parou de frente a uma delas, respirou fundo e abriu com todo cuidado, temendo encontrar alguém por trás, acaso acontecesse, diria estar perdida e tentando voltar para a ala dos criados. Do outro lado da enorme porta, não tinha ninguém, era uma biblioteca gigante, repleta de livros do chão até o teto. Ela não sabia ler, mas gostava de ver livros com figuras e criar na mente as histórias que estavam escritas lá, sempre teve uma mente criativa para imaginar e fugir de vez em quando da sua realidade. Entrando no local, Lunna procurou um desses livros ilustrados sobre a mesa que estava no centro, mas a maioria deles possuía apenas letras e mais letras, o que para ela era como um código indecifrável. Ainda estava distraída com eles, quando um barulho atrás de si lhe chamou a atenção e a assustou ao mesmo tempo. Parada ali, na porta da biblioteca, estava a garota mais linda que ela já tinha visto, com os cabelos negros semi presos, um olhar quase hipnotizante, e um vestido tão delicado que poderia ter sido costurado por fadas. - uma criança! Quem é você? O que está fazendo aqui?- perguntou a fadinha, parecendo animada, como se não notasse a diferença entre elas, o seu cabelo m*l cuidado, da cor de cenoura, seu vestido bege, de tecido grosseiro e bem m*l costurado e suas mãos calejadas do trabalho, que agora seguravam, além de um livro, um pano de polir as peças de prata, de um jogo de jantar precioso, que ela jamais iria usar. - perdão, milady. Estava polindo as peças de prata, eu já terminei e me perdi na hora de voltar.- respondeu de cabeça baixa, como havia aprendido a fazer. - ah, se já terminou então poderá conversar comigo, gosta de ler? É minha coisa preferida em todo mundo, na verdade eu gostaria mesmo de viajar, mas, o meu pai nunca deixaria, então os livros me levam. - eu só gosto das figuras, não sei ler, milady. - não sabe ler? Oh, eu poderia ensina-la, do que adianta o conhecimento se não for compartilhado, não é mesmo? Ah, acaso pensa que eu sou a minha mãe? Não precisa ficar me chamando de milady. Meu nome é Ivy. A fadinha gostava mesmo de falar, e quando deu por si Lunna já estava rindo com o seu senso de humor aguçado e prestando toda atenção nas histórias que ela lia em voz alta. Depois disso ela lhe ensinou algumas letras, mas, apesar da boa vontade ela não era uma boa professora, era inquieta, falava rápido demais e mudava de assunto toda hora, como se não conversasse com ninguém a muito tempo. As duas só viram a hora passar quando a biblioteca começou a escurecer, e uma criada entrou para acender as lamparinas. - oh meu Deus! Eu perdi a noção da hora, e era o meu primeiro dia!- Lunna estava quase chorando, pensando que estragaria tudo e sua mãe jamais iria lhe perdoar. - calma amiga! Nada vai acontecer, eu vou dizer que a culpa foi minha, não se preocupe. A gente volta a se ver amanhã. Amiga. A muito tempo Lunna não tinha alguém para chamar assim. E daquele dia em diante foi exatamente isso que elas se tornaram, amigas inseparáveis. Ivy não tinha irmãos de sua idade, e na propriedade não tinha outras crianças também. Logo, todos os dias ela vinha tirar Lunna do trabalho e arrasta-la para alguma das suas brincadeiras. A ensinou a jogar seus jogos preferidos, a presenteou com vários dos seus inúmeros vestidos e laços, a ensinou com muito custo a ler pequenas palavras e quando a insatisfeita governanta se queixou sobre a falta de serviço de Lunna, Ivy chorou para o pai, pedindo uma dama de companhia, para sua vida solitária e triste. Obviamente, que todo este drama, somado ao seu olhar encantador, convenceram o conde, e a partir dali, Lunna passou a fazer parte de todas as suas aulas: canto, etiqueta, bordado, literatura, francês, dança, além de muitas outras para aprender a servir bem a sua filha, como a melhor dama de companhia de toda Londres. Aprendeu a ler, a ter postura, arrumar os cabelos e a fazer penteados elaborados em Ivy, costurar. Enfim, em tudo se tratavam como amigas e confidentes, mas Lunna nunca se permitiu deslumbrar-se demais com essa vida tão diferente. Lembraria sempre de onde tinha vindo e quem realmente era, e isso a manteria protegida em uma sociedade c***l, onde existiam muito mais ladys Timberlands do que se podia imaginar.
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