3- Bryan Luttolf

1423 Palavras
Eu não sou de perder tempo com trivialidades. O trabalho sempre foi o meu foco. Mas hoje, algo dentro de mim pedia uma pausa. No celular, a mensagem de Ashelei me lembrava do que eu costumava fazer nas noites de sexta-feira, quando eu saía com colegas e amigos de profissão. Não era nada de mais. Só mais uma dessas distrações que sempre se mantiveram na superfície. — Olá, bom dia! — disse a voz familiar do outro lado da linha. Eu sabia exatamente o que ela queria. Ela me ligava sempre nesses momentos, sabendo como funcionava a dinâmica entre nós. E eu, que sempre preferi evitar compromissos emocionais, sabia como a manter à distância. Eu não estava interessado em mais nada que não fosse um bom tempo, sem vínculos. — Bryan, você está chegando? — Sim, estamos entrando no estacionamento do shopping. Em alguns minutos estarei aí. — Respondi, sem pressa, tentando esconder a ansiedade crescente que começava a tomar conta de mim, embora não soubesse o motivo. — Eu também estou chegando. Me espera, por favor. O tom de voz dela era leve, quase provocativo, como sempre. Ela sabia como mexer comigo, mas, dessa vez, algo parecia diferente. Eu não queria mais o jogo de sempre. Não sabia por quê, mas estava curioso sobre a noite de hoje. Como se algo estivesse me chamando para fora do meu universo calculado e rígido. Quando saí do carro, algo dentro de mim já estava mudado. A noite ainda era jovem, e eu estava ali, à espera de mais uma noite banal. No entanto, quando olhei para o lado e vi a mulher caminhando apressada, uma estranha sensação de déjà-vu me invadiu. Seus cabelos ruivos estavam presos em um r**o de cavalo, e o corpo dela era perfeito, como uma escultura. Ela estava com um sorriso, mas era o tipo de sorriso que escondia algo. Eu não sabia o que exatamente, mas eu precisava ver o rosto dela. Precisava saber quem ela era. Ela desapareceu de vista rapidamente, e uma sensação de frustração me tomou. Ela sumiu entre a multidão de pessoas que andavam pelo shopping, e eu fiquei ali, parado, sem saber o que fazer. O que era aquilo? Nunca fui de perder o foco, mas naquele momento, toda a minha atenção estava nela. — Vamos, Bryan? — Kalel me chamou, rindo, trazendo-me de volta à realidade. Mas, por algum motivo, meu olhar ainda estava perdido no ponto onde ela desapareceu. Algo em mim estava gritando para que eu fosse atrás dela. Mas eu me controlei. Não ia fazer isso. Eu nunca fiz isso antes, e não ia começar agora. A noite seguiu seu curso, com conversas triviais e risadas altas. No entanto, eu não conseguia parar de pensar nela. A ruiva. Eu a vi, mas ela não parecia notar minha presença. Ela estava lá, no quiosque, ajudando uma menina com um sorvete. Seu gesto era suave, quase materno. Era como se ela estivesse em outro mundo, e eu fosse apenas uma sombra à sua volta. — Quer sorvete, Bryan? — Kalel perguntou, com um sorriso brincalhão. — Não, eu... — A resposta ficou presa na garganta. Eu ainda não sabia o que estava acontecendo comigo. Ela estava com a menina, com um sorriso que parecia iluminar tudo ao seu redor. Minha mente estava em outro lugar, mas eu tentei disfarçar. A noite estava acabando, e todos estavam prontos para seguir para o clube. Mas algo dentro de mim me dizia que eu deveria ficar. Algo dizia que eu não poderia deixá-la ir embora sem ao menos saber quem ela era. Quando saímos do restaurante, a ruiva apareceu novamente. Ela estava parada perto de um banco, com a mesma expressão tranquila. Quando seus olhos se encontraram com os meus, o mundo pareceu parar por um momento. Seus olhos verdes eram como um farol, atraindo toda a minha atenção, e a sensação de desconexão com tudo e todos ao meu redor foi instantânea. Ela não me notou de imediato, mas quando seus olhos se fixaram nos meus, houve uma conexão imediata. Algo inusitado. Algo que eu não estava preparado para sentir. — Ei, você está bem? — Kalel perguntou, mas a voz dela já soava distante, como se o som não fosse mais importante do que o olhar dela. Por um momento, eu me esqueci de tudo. Esqueci do trabalho, da minha vida. Só restou a ruiva e eu, dois mundos distintos, mas que, de alguma forma, estavam prestes a se encontrar. Eu não sabia o que ia acontecer, mas sabia que não podia deixar aquela oportunidade escapar. — Eu preciso falar com ela. — Falei, quase sem pensar. Kalel me olhou, levantando uma sobrancelha, mas não disse nada. Eu sabia que ela também estava vendo o que eu via. Algo estava acontecendo ali, algo que ia além do que qualquer um pudesse entender. Sem mais delongas, eu não pensei duas vezes e segui até o quiosque. Algo nela me intrigava, o caso era esse, ela não fazia o tipo de mulher que eu levava para cama por apenas uma noite, ela parecia fazer o tipo, que chegava para desestabilizar o meu mundo. Algo dentro de mim me dizia que eu tinha que segui-la e não sou de ignorar os sinais, muito menos as minhas vontades. E merda! Pela primeira vez sinto-me fodidamente atraído por alguém que exala pureza. Então, sem mais delongas, me afastei dos demais e caminhei rumo ao quiosque. Mas, antes que eu pudesse chegar até ela, o destino parecia querer brincar comigo. Um grupo de pessoas passou na frente e a perdi de vista. O que está acontecendo comigo? Eu, Bryan Luttolf, tão acostumado a ter controle sobre tudo, estava agindo como um adolescente apaixonado, correndo atrás de uma mulher que sequer sabe da minha existência. Contudo, me conheço o bastante para saber que não sou de me negar algo, algo me dizia para correr para longe, pois a cor do cabelo me faria ficar a milhas de distância, mas cá estou eu indo em direção a ela! Porém, assim que cheguei a moça que estava do lado dela disse que o horário de expediente dela havia acabado e ela tinha acabado de sair, olhei ao redor para ver se eu encontrava, com tudo o shopping estava muito cheio. Assim que voltei para a mesa, Ashelley que estava ao meu lado perguntou onde eu tinha ido, porém mais tarde soube mais tarde que ela sabia bem aonde eu tinha ido, Kallel me disse que ela estava com ciúmes. Passei a noite nervoso, algo me dizia que aquela mulher um dia seria minha, por mais que eu quisesse negar, no fundo eu sabia. ... No dia seguinte, eu me vi voltando ao shopping, sem saber exatamente o que esperava. Tentei dar a desculpa de que eu estava ali para comprar algo, quando na verdade, pouco vinha ao shopping. Eu não queria estar ali, porém, algo me puxava para o quiosque onde ela trabalhava. Depois de sentar em um restaurante e comer devagar, fingir trabalhar no notebook, ela não apareceu, criei coragem e fui. Perguntei à moça do dia anterior novamente sobre ela, e o que eu ouvi me deixou perplexo. Ela havia sido demitida. Como isso poderia ter acontecido? Não tinha sentido. Eu sabia que ela não tinha feito nada de errado, ela parecia fazer a linha certinha e a moça parecia lamentar a saída dela. Esperei o local ficar vazio e perguntei sobre ela, a mulher me contou que ela morava em um lugar distante e passava horas para chegar até o trabalho. Eu não sabia o que isso significava, mas, de alguma forma, a história dela me tocou. Eu precisava encontrá-la, eu precisava entender. ... Quatro anos depois... Voltando ao presente, sentado no meu escritório, eu estava cercado por todos os meus papéis e problemas de negócios, mas nada parecia ter a mesma importância. Faziam anos, mas sempre os olhos verdes e o cabelo ruivo me vinham à mente, a lembrança vaga de um anjo na minha vida devassa. Quando recebo uma mensagem que me fazem franzi a testa. As palavras da mensagem anônima ainda ecoavam na minha mente: " Você vai encontrá-la o mais cedo do que pensa." Ela? Quem poderia ter nem enviado isso?! O que eu não sabia era que, naquele momento, os fios do destino já haviam sido puxados, e tudo o que eu poderia fazer agora era seguir o caminho que estava diante de mim. Um caminho que, eu sabia, me levaria direto a ela...
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