_ Não se preocupe com nada – Bia me tranquilizou como se fosse a irmã mais velha e não uma pirralha de doze anos – O vovô já almoçou e tomou banho, o Bazuca já comeu e fez coco no quintal. Para a felicidade de todos, a tia Roberta e a Lana foram para a igreja e o tio Jorge não voltou do escritório. A casa está uma completa paz.
_ E a Melissa?
_ Ainda não voltou da faculdade.
_ Certo.
_ E o trabalho? Está gostando? O seu chefe só fala inglês mesmo? Ele é bonito?
_ Ainda não sei se estou gostando, é tudo bem diferente. Só falo em inglês com eles e essa é a parte que mais gosto. É como se eu estivesse em outro país – olhei para os lados, para ver se alguém estava me olhando e baixando a voz sussurrei _ Ele é lindo!
- Sério? – Ela sorrio empolgada do outro lado da linha.
_ Mas o que tem de bonito, tem de chato! - Ouvi o gemido de decepção dela e não segurei a risada - Depois te conto mais detalhes de tudo – Falei desligando o celular. Em seguida, liguei para Michele e coloquei as fofocas do bairro em dia.
Não falei nada sobre o meu trabalho pra ela. Michele sempre tinha mais pra falar do que para ouvir. Estava em meio às gargalhadas, quando vi a cara de reprovação da senhora Lee. Ela estava parada, com as mãos nos quadris e uma cara de genuína incredulidade. Que exagero! – Bufei mentalmente.
Desliguei o telefone desgostosa. Qual era mesmo o problema daquela mulher? Parecia que o ar a irritava só por existir.
Tomei um banho, em um dos quartos do hotel e vesti um vestido de tecido bem macio e gostoso, cor azul marinho. Outro escarpam me aguardava ao lado da cama.
Uma moça fez a minha maquiagem com muita delicadeza e agilidade. Depois prendeu os meus cabelos em um novo coque. Usei umas bijuterias discretas, com cara de caras e um perfume cítrico bem jovem. Me olhei no espelho. Eu parecia uma mulher de 30 anos, vendendo a aparência de uma senhora elegante e casada, com dois filhos em casa me aguardando.
Quando saímos do hotel, já eram 20h, não gostei daquilo. Mandei uma mensagem para Bia avisando que não era para se preocupar, pois chegaria tarde.
A Mercedes da sra. Lee nos conduziu a um bar-café muito sofisticado. As pessoas esperavam em fila para entrarem, o que não aconteceu conosco.
A recepcionista do bar-café já nos aguardava ansiosa, nos conduzindo a uma mesa redonda, não muito grande, mas impecavelmente limpa, moldada em uma superfície espelhada, com sofás de couro confortáveis em volta.
Três homens de mais ou menos 60 anos nos aguardavam, um careca e barrigudo, outro loiro, com óculos fundo de garrafa, ao seu lado um homem branco de cabelos grisalhos com feições fechada. Todos estavam de terno e gravata.
O sr. Lowell estava de calça jeans, camiseta branca esportiva, que colada ao corpo exibia músculos definidos e um tórax firme. Parecia ter no máximo vinte e cinco anos agora, o que ainda não cabia na minha cabeça. Era como a sra. Lee, que tinha a aparência de uma mulher de vinte anos, com o comportamento de uma velha.
Ele parecia bem disperso e despreocupado e para minha surpresa, estava ainda mais bonito. A boca carnuda era vermelha, ganhando destaque no rosto masculino perfeito. Ele sem dúvidas era o homem mais atraente daquele lugar. Notei que assim que entramos, várias garotas fixaram seus olhos nele. A pele parecia não possuir poros, era perfeitamente hidratada e cuidada, como a pele de uma mulher muito vaidosa. Ele virou o rosto na minha direção, com o cenho franzido. Desviei meus olhos sem graça. Acho que ele percebeu que eu estava olhando demais. d***a! Olhar não era crime – bufei, me justificando em pensamentos.
Sentando ao seu lado, consegui sentir o perfume caro e maravilhoso que ele estava usando, o que não ajudava muito a manter a cabeça no lugar. A sra. Lee, como sempre, estava impecável, usando um vestido com listras finas, de alfaiataria, os cabelos soltos, a maquiagem impecável. Era inegável sua elegância.
- Todos falam inglês? – Perguntei na esperança de talvez não ser necessária ali e ser liberada.
- Nem todos! – O Loiro respondeu arrogante, como se eu o tivesse ofendido com a pergunta.
Nunca havia frequentado um bar-café tão elegante como aquele. Havia uma parede decorada com todos os tipos de bebidas, luzes neon azul nos fundos das garrafas. Os garçons e barmen não usavam uniformes, deixando o ambiente um pouco mais descontraído.
Tocava MPB e tudo no lugar era convidativo a se divertir. Infelizmente, eu parecia ser a única encantada com o lugar. O sr. Lowell cumprimentou os homens com um aperto de mão e logo me perguntei porque ele não apertou a minha quando estendi à ele no escritório.
No restaurante, mais cedo, ele também apertou a mão do casal, então logo cheguei a miserável conclusão de que ele só cumprimentava gente rica. Sem sombra de dúvidas, era um homem rico, bonito e i****a.
- Há quanto tempo trabalha como gerente sr. Satto? – o sr. Lowell perguntou bebendo um pouco da deliciosa caipirinha que haviam lhe servido. Salivei. Só não sei se pela bebida, ou pela forma com que os lábios dele se apertavam contra a taça. O jeito que ele bebia era tão... sexy, que chegava a ser obsceno. Céus, o que estava acontecendo COMIGO? Precisava urgentemente parar de olhar para aquele homem.
O careca se remexeu na cadeira e respondeu:
- Trinta anos sr. Lowell.
- Gosta do seu trabalho?
- Sim. Não tenho do que reclamar.
- Vou mudar o funcionamento do banco – O sr. Lowell garantiu com tranquilidade.
- Ouvi os comentários, mas não sabia que os boatos procediam.
- Meu pai é muito conservador, mas temos pontos de vistas bem distintos.
- Mas o senhor pretende mesmo fechar os bancos físicos e permanecer apenas com os bancos virtuais? – O Loiro perguntou aparentemente aflito, preocupado talvez.
- Vou fazer isso.
- E o que pensa seu pai a respeito disso? O PMGH é um dos bancos privados mais antigos e renomados, isso poderia ser... Um pouco precipitado, talvez – O sr. Satto argumentou.
O senhor Lowell bebeu mais um pouco da caipirinha que ele aparentemente gostou e deu um sorriso devastador. Cheio de dentes perfeitos, com seu queixo quadrado. Engoli em seco, sentindo uma leve contração entre as pernas.
- Está sugerindo que sou um homem precipitado? – Ele questionou e os homens se remexeram, negando com a cabeça, antes mesmo de eu conseguir terminar de traduzir o que eles responderam.
- De forma alguma sr. Lowell, só me preocupo, pois também sou como o seu pai. Estou acostumado com as coisas a moda antiga – O sr. Satto respondeu folgando a gravata, como se ela o estivesse sufocando, depois bebeu da cerveja que estava esquentando a sua frente.
Os outros dois também beberam de suas cervejas e começaram a provar os petiscos. Olhei pra mesa e me perguntei se a sra. Lee me mataria, caso eu pegasse um petisco também. Olhei pra ela e depois para o prato.
- Algum de vocês já esteve na Coreia ? – Ouvi o sr. Lowell perguntar, enquanto eu alcançava o palito de madeira próximo aos petiscos. Os homens me fitaram impacientes? Então soltei o palito e limpando a garganta traduzi.
Todos negaram, mas disseram que pretendiam conhecer, garantindo serem admiradores das culturas e tradições asiáticas.
- Sou britânico, mas tenho minhas raízes coreana. Para os coreanos, a corrupção não é vista como algo corriqueiro, o que percebo ser bem diferente aqui.
- Ultimamente nossos políticos, infelizmente, só nos envergonham - O sr. Satto disse limpando a garganta. Nisso eu concordava com ele. A corrupção no Brasil já era algo tão comum que nem causava impacto nos noticiários.
- Espero que sejam só os políticos – O sr. Lowell disse como um lobo predador, farejando alguma coisa errada.
Os homens sorriram falsamente e se serviram de mais bebidas.
- Nesse quesito, o senhor não precisa se preocupar. Tenho todos os documentos atualizados da empresa. Seu pai sempre gostou de tudo muito bem esclarecido – O sr. Satto disse aparentemente satisfeito e despreocupado. Então tirou vários papeis da maleta preta e os ofereceu ao sr. Lowell, porém, quem pegou os papeis foi a sra. Lee. Já os guardando em uma outra pasta.
Olhei para os petiscos novamente, talvez agora eu conseguisse roubar um, mas para a minha falta de sorte, os homens a frente começaram a chumbar o sr. Lowell de perguntas sobre o funcionamento dos bancos virtuais.
Algumas perguntas, o sr. Lowell respondia, outras dizia que só falaria no assunto no dia da reunião com os outros acionistas. Pelo que eu havia entendido, mais pessoas chegariam de outros países para a tal reunião