Capítulo IV

1274 Palavras
    A medida que a conversa fluía, os copos de cervejas eram abastecidos e os homens que antes estavam tensos com o sr. Lowell e a sra. Lee, pareciam mais relaxados e sorridentes. Aproveitei o clima amistoso e comecei a me deliciar nos petiscos. Estava com muita fome. Não era do tipo que passava muito tempo sem por uma guloseima na boca. - O que está achando do Brasil? – O sr. Satto perguntou se servindo da cerveja. - Quente - O sr. Lowell respondeu despreocupado. - E das nossas mulheres? Não pode voltar sem conhecê-las – O velho riu malicioso. Meu sangue subiu para o rosto e eu fiquei vermelha.      O sr. Lowell me olhou esperando que eu traduzisse, mas eu fiquei muda. Odiava quando falavam das mulheres brasileiras como se elas fossem pontos turísticos. Endireitei o corpo. - Se quiser falar besteiras, aprenda a falar inglês primeiro e fale com a sua própria boca – Eu respondi ao velho gordo furiosa. De imediato ele ficou branco, pálido e os outros dois homens ao lado dele ficaram igualmente abobalhados, como se eu fosse uma assombração. - Srta. Rios, traduza o que ele disse – A sra. Lee exigiu secamente. - Não vou traduzir – Me recusei e ergui a cabeça arredia. - O que você disse à ela, garota estúpida? - O velho perguntou confuso e irritado – Traduza o que eu disse – Ordenou - Tenho certeza de que o sr. Lowell entendera do que estou falando. - Já falei que não vou traduzir. Da próxima vez pense melhor antes de falar bobagens – Exigi. - Cale a sua boca. Você está aqui é para traduzir e não para julgar as conversas – O careca barrigudo falou cuspindo as palavras em mim. Ele até podia ter razão, mas eu me recusava a traduzir aquilo. - Por acaso foi o senhor quem me contratou para saber quais são as minhas obrigações? - Eu lhe ofereci um sorriso provocador. - Você não passa de uma vagabundinha favelada que não sabe qual é o seu lugar – Ele disse chamando uma garçonete.      Eu comecei a tremer, tamanho o ódio que eu estava sentindo. Tentei falar, mas meu queixo e minha língua ficaram dormentes. Fiquei s***a e cega de tanto que o sangue tamborilava no meus ouvidos.     Cheio da razão, o velho perguntou se a garçonete falava inglês e ela respondeu que não, então ele ordenou que a garçonete trouxesse alguém que falasse. - Está pensando que só você fala inglês, sua v***a? Você vai ver o que vai acontecer com você quando eu explicar ao sr. Lowell o que aconteceu – O velho gordo loiro disse se remexendo na cadeira, soltando fogo pelas ventas.       O senhor Lowell e a senhora Lee me fitavam confusos, pois toda a conversa estava seguindo sem qualquer tradução. - Prefiro ser uma v***a, a ser um porco gordo, seboso e asqueroso como você - Respondi me levantando. Pegando o copo de cerveja mais próximo, o sequei na cara dele.       Dei as costas a todos e sai como um furacão. Por onde eu passava as pessoas esticavam suas cabeças para me olhar, pois a discursão que começou num sussurro, terminou aos berros.       Peguei o primeiro Taxi parado na rua e pedi que ele me tirasse dali. O taxista ao me ver nervosa, colocou o carro em movimento. Quando comecei a raciocinar novamente, pedi ao motorista que parasse na parada de ônibus mais próxima, pois lembrei-me que só tinha cinquenta reais na carteira.      Foi somente quando sentei no ônibus que desabei em lágrimas. Nem sei porque eu estava chorando. Acho que era por causa dos hormônios, afinal eu já sabia que só trabalharia aquele dia mesmo.     Respirei fundo e tentei me acalmar. Homens idiotas era o que não faltava naquela cidade. Não iria me acabar de chorar por causa do que um porco seboso havia falado.     Quando sai do ônibus rumo a minha casa foi que percebi que estava de salto alto. Imediatamente os tirei dos pés, não conseguiria subir a ladeira de concreto a minha frente em cima deles.      Caminhei por uns longos 10 minutos, em passos largos, não podia dar bobeira aquele horário. Por mais chateada que estivesse só poderia parar para pensar no que havia acontecido depois que atravessasse o portão de casa, apesar de morar em um bairro bom, frequentemente ocorriam assaltos naquele trecho.       Fiquei aliviada ao ver a rua da minha casa. Na frente do portão, um casal se beijava, o que me tranquilizou, pois certamente era Lana com o namorado. Diminui a velocidade dos passos e senti os pés pinicarem de dor por causa da aspereza do concreto.      Alcançando o casal, limpei a garganta para chamar a atenção deles, pois não tinha como entrar em casa, com eles se pegando no portão.      Nem percebi que minha bolsa caiu no chão, quando me deparei com Carlos, meu noivo, grudado com minha prima Lana na frente da casa que eu morava.      Traição era algo tão comum entre os brasileiros, mas fiquei completamente sem reação, em completo estado de choque. Nunca imaginei que Carlos e minha prima pudessem fazer aquilo comigo. Não. Eu via e não conseguia acreditar.       Dizer que se confia no namorado soa ridículo, mas tenho que admitir que eu confiava no Carlos. Só não posso dizer que confiava cegamente nele, porque nenhuma brasileira em sã juízo diria algo tão e******o.       Ele era do tipo sério, caseiro, não frequentava baladas, era responsável. Assim que recuperei a minha coordenação motora, passei por eles dois como se não tivesse visto nada.      Atravessei a sala, alguém assistia televisão, mas não olhei, me apressando em chegar ao quarto, mas antes de conseguir entrar Lana me alcançou. - Alice espera – Ela pediu com voz de coitada, atrás de mim. - Por favor Lana, me poupe das desculpas – Pedi a encarando com cara de tédio, como se estivesse cansada demais para discutir por bobagens. Jamais aceitaria que aquela víbora descobrisse o quanto havia me machucado.  - A gente não queria, não sei como isso aconteceu. Juro! – Garantiu com lágrimas nos olhos. Eu quase ri do descaramento, mas forçar um sorriso naquela altura era algo além da minha humana capacidade. - Não precisa se preocupar, não gostava tanto de Carlos assim, só estava pensando em casar com ele porque queria sair da casa de casa. É chato morar de favor, entende? –  Tentei parecer convincente, mas duvido muito que tenha conseguido engana-la, pois tinha a impressão de que a minha boca entortava quando eu falava, tamanha era a minha raiva, o meu ódio, a minha decepção. - Então você não gostava dele? – Ela perguntou em um tom de voz cauteloso, para que ninguém da sala ouvisse. - Seria injustiça da minha parte dizer que sim. Vá descansar e fiquei tranquila. Juro que não estou chateada – Sem esperar pela resposta, entrei no quarto e fechei a porta, tentando não bater.      Olhei para a beliche a minha frente, minha irmã Bianca dormia na parte superior. Tampei a boca com força, me recostei na porta e deslizei até o chão em soluços. O celular tocou freneticamente, mas eu o desliguei.         Não era do tipo que me fazia de coitada, mas pela primeira vez na vida me senti uma miserável e chorei por tudo. Por morar de favor com minha irmã na casa dos meus tios, chorei por minha mãe ter nos abandonado por causa de outro homem, chorei por meu pai ser um alcoólatra. Chorei por ser i****a o suficiente para acreditar que havia encontrado um homem bom e ter planejado o meu futuro e o futuro da minha irmã ao lado dele.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR