Capítulo 3
6 anos depois.
Meus olhos estavam relutando em abrir apesar de alguém insistir em puxar sem parar os meus pés. Abro o olho esquerdo e vejo apenas cabelos loiros e pequenas mãos me puxando. Começo a roncar alto e tudo fica quieto, sinto um peso em minha barriga e quando abro os dois olhos vejo um pequeno ser com os cabelos todo bagunçado na cara e enorme olhos castanhos.
Posiciono minhas mãos em sua cintura e em um pulo de susto começo a fazer cócegas nela.
- Para, para, para por favor mamãe, não consigo respirar. – Seus dentinhos se estendem no seu rosto em um imenso sorrindo dando alegria em todo o quarto. – Você prometeu, prometeu de mindinho que hoje teria panquecas e você sabe que promessa tem que ser cumprida. – Balanço a cabeça uma só vez e bato continência para o ser miúdo em minha frente.
- Tudo bem Amália, mas lembre-se que temos que ser rápidas ou então chegaremos atrasadas no seu primeiro dia de aula. – Ela concorda e fomos para cozinha iniciar o dia com panquecas e mel.
Se alguém me dissesse que em 6 anos a minha vida mudaria ao ponto que está hoje eu riria muito alto na frente da pessoa e a internaria em um manicômio. Mas hoje sendo dona de uma loja online de roupas, mãe e dormindo as 21 horas, vejo que talvez esse futuro não fosse tão assustador.
Hoje somos eu e Amália, e as vezes Estela que aparece quando discute com o namoro com quem ela mora, como ontem. Nossa rotina está toda estabelecida em uma planilha, com todos os horários e funções. Hoje é segunda, início das aulas de Amália e meu retorno a empresa. Ela está bastante ansiosa e vejo não para de falar mesmo com a boca cheia.
- Meu amor, primeiro mastiga, engole e depois fala. – Ela faz o que eu disse, respira fundo e retorna a falar várias coisas desconexas por puro nervosismo, exatamente como eu.
- E se eles não gostarem de mim? Eu deveria levar panquecas para todos. Será que nós podemos fazer mais panquecas mamãe. – n**o com a cabeça e ela demonstra descontentamento em seu rostinho. – Tudo bem, eu posso conquista-los sozinha, sorrindo e sendo educada, não é mamãe?
Quando ouso em falar, uma ruiva aparece sentando-se em minha frente.
- Eu queria saber em que parte do ocupado dia, sua mãe tira para te dizer essas baboseiras. – Amie ri com Estela e eu a repreendo com os olhos.
- Alguém precisa educar uma criança e pelo visto você como babá é uma péssima influencia. – Estela põe a mão no peito se fazendo de ofendida e me mutila com os olhos. – Qual é, em uma hora que você ficou com Amie ela aprendeu a ser grossa e mais de três xingamentos. – Estela sorri levantando as sobrancelhas e ela e minha filha dão um toquinho de mãos. Reviro os olhos e bufo em revolta. – Você já conversou com o Adam? – Adam, seu namorado maluco.
- Ainda não, eu acho que dessa vez é pra valer. – Ela põe um pedaço de panqueca na boca e apoia a cabeça em sua mão. – Então qual a programação já programada para hoje?
- Preciso ir na distribuidora verificar as embalagens se estão sendo feitas de maneira correta e depois tenho uma reunião de marketing para uma nova promoção, Amie vai para a escola e por favor você pode buscar ela? – Ela balança a cabeça afirmando e eu vou direto para o banho.
Dou banho em Amália e ponho sua farda, ou melhor, ela põe a própria roupa já que é grande o suficiente para se vestir sozinha. Penteio seu cabelo e prendo sua franja com um laço azul, ela calça seu tênis branco e passa perfume.
- Estou pronta mamãe. – Ela diz sentando na cama e balançando as perninhas, sinal alerta de nervosismo.
- Vai dá tudo certo, você é uma garotinha incrível, impossível alguém não gostar de você, acredite em mim, eu sou sua primeira fã. – Amália gargalha e me abraça com seus bracinhos. – Agora é a minha vez de por uma roupa.
Ponho uma calça rasgada justa e uma blusa regata por dentro, visto o blazer azul escuro por cima e por fim calço um salto de bico fino. Amarro o cabelo e estou pronta.
Entramos no carro e a primeira parada é a escola que fica a poucas quadras do nosso apartamento no centro. Logo chegamos e paro em frente à entrada.
- Qualquer coisa me liga que eu venho correndo. – Ela confirma com a cabeça e alarga o sorriso em despedida, coloca a bolsa maior que ela nas costas e em pequenos passos a vejo sumir do meu campo de visão.
Amie não tem facilidade em fazer amizades desde sempre, quando bebê chegar perto de outro bebê já a deixava aflita, quando entrou na creche era a única a brincar sozinha, nos parques eu sempre fui sua única companhia. Seria um alivio pra mim se ela ao menos fizesse um amigo, vê-la interagir com outra criança e poder ouvir conversas de crianças seria maravilhoso.
Chego no enorme prédio e subo até o último andar. Várias pessoas já haviam chegado e estavam a todo vapor trabalhando, piso firme até minha sala e minha assistente Alina vem logo atrás carregada de papeis. A minha sala era última do corredor cheio de mesas com computador e a única que tinha porta, fora isso o ambiente era todo aberto e barulhento. Sento na minha cadeira felpuda, abro o notebook e sou bombardeada por papelada em minha pesa separadas por ordem e importância.
- Esse primeiro com post it azul são mudanças urgentes que precisamos tomar, está havendo as mesmas reclamações constantemente sobre como a encomenda está chegando no destino e como está demorando. Esse com de verde são elogios e por fim aqui está todas as suas reuniões do dia. – Sem nem uma pausa para respirar Alina continua seus dizeres e dita cada compromisso. – Por fim, a senhora tem um encontro. – Cerro minhas sobrancelhas em desentendimento e ela fica mais nervosa do que alguns segundos atrás.
- Porque eu acho que dedo da Estela nisso? – Falo ironicamente e Alina se mantem calada. – Quanto tempo você não tira férias Aly?
- Férias? Eu não preciso disso.
- Estou vendo de longe suas olheiras cobertas por duas camadas de corretivo e uma de base. Você precisa de férias de no mínimo 10 dias e remunerada tudo bem? – Alina agradece respirando todo o ar que ela havia prendido todo o tempo estando comigo, essa mulher precisa urgente de 9 horas de sono diárias.
Entro no carro e vou para a distribuidora verificar em que eles estavam errando. Vejo os trabalhos dele e logo percebo a má vontade em fazer corretamente o embrulho.
- Pessoal, eu preciso de vocês e vice-versa, eu não trabalho sozinha e não posso pagar vocês se os clientes pedirem reembolso toda vez que a roupa chegar errada e toda bagunçada. – Eles estavam lado a lado, olho em seus olhos e espero que alguém denuncie algum descontentamento com algo ou algum comentário sarcástico, mas isso não acontece e vejo que era só preguiça. – Tudo bem, voltem ao trabalho e por favor vamos fazer direito. – Todos voltam para seu lugar, olho mais uma vez e parece que tudo vai está indo em ótimas condições. Disparo os dias em reuniões e meu celular não tinha nenhuma notícia da Amie, acho que o dia foi maravilhoso, ao contrário do meu. São sete horas agora e eu tenho que sair agora se eu quiser chegar em meia hora nesse encontro às cegas, eu não fazia ideia de quem era o cara.
Mando mensagem para Estela esperando que ela retorne com alguma formação, mas a única coisa que recebi foi. – Diga seu nome e será levada até a mesa, vou te passar a localização do restaurante, bebê. – Meu celular apita e vejo a localização, sigo o destino até a praia e vejo que é o meu restaurante favorito.
- Eu sei que foi você Estela. – Escrevo para ela que me manda emojis de sorriso.
Saio do carro, pego minha bolsa e vou até o local.
- Boa noite, Madeline Susart por favor. – Sou levada até o segundo andar, onde tinha uma enorme parede de vidro com vista para o mar, sento-me na mesa que ainda estava vazia, ponho a bolsa ao lado, cruzo as mãos e espero longos minutos. – Bom eu tentei. – Levanto – me pronta a ir embora e então meus olhos são levados até um homem de cabelos escuros e olhos extremamente claros, de terno e cabelos bagunçados. Ele vem em minha direção sério sem esboçar alguma reação.
- Desculpa o atraso. – Ele se senta e assustada com o acontecimento eu ainda me mantenho em pé. – Não vai se sentar? – Pisco os olhos repetidamente ainda confusa.
- Você é meu encontro. – Ele olha em volta todo o andar vazio e arregala os olhos mostrando o obvio. Sento-me a sua frente e olho para baixo. – Me chamo Madeline.
- Seu nome é diferente, você não é daqui. – Ele afirma com sua voz grossa e firme e gostosa e tantos outros elogios. – Me chamo Rafael, comum. – Rafael sorri sem muita verdade.
- Ainda assim um nome bonito. Então Rafael, o que te trouxe aqui? – Você estupida, se a condenada da sua melhor amiga te faz ir em um encontro com um cara super gostoso o único motivo é você.
- Um encontro arranjado. – Ele também estava lá contra própria vontade?
- Não entendo.
- Meu irmão me fez vir, na verdade ele me trouxe e está lá embaixo assegurando que isso aqui vai durar mais de uma hora. – Arregalo os olhos em surpresa e um pouco de descontentamento.
- O diferente é que minha melhor amiga está em casa cuidando da minha filha. – Rafael parece querer dizer algo, mas seus lábios permanecem entre abertos por alguns segundos, ignoro sua reação e peço uma lasanha de camarão, ele ainda sem dizer nada eu acabo pedindo duas para ele.
- É, definitivamente isso não vai dar certo, foi ótimo te conhecer, espero que você consiga o que for que você esteja tentando. – O cara sai em passos largos me deixando ali sozinha novamente sem entender o que estava acontecendo, ele foi embora.
Levanto-me da cadeira e o alcanço na escada, puxo seu braço e ficamos frente a frente perto até demais.
- Qual é o seu problema? – Minha testa deveria ter mil rugas de tanto que eu a estava franzindo.
- Eu não quero ser pai. – Engulo aquelas palavras e cuspo com uma enorme risada.
- E em que momento eu te pedi para ser pai? Na verdade, eu nem queria está aqui, mas já que estou deveria ao menos aproveitar. Seja feliz sendo um enorme b****a com outras pessoas. – Solto seu braço e volto para a mesma onde duas lasanhas estavam a minha espera. Ponho um garfo na boca e o vejo voltar, sua mão estava passeando por seu cabelo o deixando mais bagunçado, seu terno estava amassado e sua feição extremamente séria. Empurrei a lasanha para perto dele. – Só come e quem sabe a gente não encontra algum assunto se nada acontecer nós não precisamos nos ver nunca mais.
Ele inclina a cabeça para o lado, parecia não gostar de ser desafiado e nem de não ser o último a falar. Sua respiração estava pesada e seus olhos mais cansados, quando pôs um pedaço na boca vi seus olhos sorrirem em contentamento, meus lábios se estenderam involuntariamente e eu voltei a comer.