A festa estava cheia.
Motos enfileiradas no pátio, roncos que vibravam no concreto como trovões. A música alta saía dos alto-falantes como um grito de liberdade. Copos batiam, brindes surgiam a cada instante. Era uma daquelas noites em que o barulho parecia anestesiar a alma. Festa aberta — até quem não fazia parte do MC podia entrar. Gente de fora, mulheres, homens, membros antigos com os coletes desbotados, aliados de outras cidades.
Albucacys estava num canto, recostado contra a parede de tijolos crus. Usava uma camisa preta de tecido leve, com as mangas dobradas até os cotovelos, e uma calça jeans escura, folgada. O braço, forte.. repousava no joelho dobrado. Na outra mão, uma garrafa de cerveja, a única do dia, não bebia muito e não ficava bêbado, não era dele, bebia, mas de maneira moderada e não fumava maconha, porque Salomão lhe quebrou dois dedos da mão quando o pegou somente segurando para um dos motoqueiros, o motoqueiro amarrava os sapatos, se já não tinha planos para usar, acabou-se de vez.
Ele estava ali, mas não queria estar.
Naquele momento, queria estar deitado com Estela.Com ela dormindo sobre o peito dele, quentinha, segura.
Mas não podia ab.usa..r da boa vontade do presidente, não podia.
Salomão estava mais atento do que nunca.. Postado numa mesa mais à frente, conversava em voz baixa com Callebe, os olhos passeavam por cada canto do salão. Observavam o comportamento dos homens, dos convidados — e, principalmente, nas filhas.
Albucacys sabia ler sinais. Sabia que o presidente estava cedendo. Estava aceitando, mesmo que aos pedaços. Muito mais do que qualquer um previa. E justamente por isso, ele não podia errar. Nem uma única vez.
Estela cruzou o salão rindo com Corine. Os dois corações de Albucacys numa mesma linha de visão, era isso.
Estela usava jeans apertado, camiseta, cabelo solto em ondas que balançavam nos ombros... a tentação em pessoa. Quando o viu, sorriu e veio direto, sentando-se ao lado dele, colando o quadril ao dele. Ele passou o braço pelo ombro dela e beijou o topo da cabeça.
— Conseguiu convencer seu pai? — ele perguntou. Salomão não gostava delas no salão quando tinha gente de fora, era por segurança...
— Temos meia hora aqui, só — respondeu ela, sem olhar diretamente nos olhos dele. — Albucacys… não fica com outra mulher, né?
Ele virou o rosto para ela, sério, firme.
— Claro que não.. Estela. Estou esperando por você. Não tem outra.
Ela assentiu, mordendo o lábio inferior.
— Não me contou se fez a cirurgia…
Ele não desviou.
— Nem vou contar agora..
— Albucacys…
— A gente conversa logo. Mas você sabe que não precisa ter medo de mim.
Ela demorou, mas respondeu:
— Sei…
A música aumentou. Um rock antigo, pesado. Estela se levantou e o puxou pela mão. Albucacys se levantou... No caminho até a pista sentiu olhares. De Salomão, que o mirava como um lobo prestes a rosnar. De Callebe, que observava como quem vigia um predador.. De outros homens — veteranos do clube que conheciam Estela desde menina.
O ambiente ficou mais denso. Os olhares falavam. Diziam: “cuidado”, “não ouse”, “ela não é só sua”.
E ficou ainda .pior quando César Cavalari apareceu na entrada, ladeado por Guido.Guido caminhou reto até Corine, pegou a mão dela e a beijou corine sorriu e Albucacys bufou de ciúmes da irmã..
Estela notou e riu também..
Na pista, ele dançou com ela. Sem encostar demais. Mantinha o corpo a uma distância segura. Se a encostasse por completo, ficaria e.xcitado — mesmo com a calça folgada e todo mundo perceberia.
Ele se conteve, por ela, por respeito.
Quando a música terminou, o grupo migrou para a área da piscina. Um espaço mais reservado, exclusivo dos membros. Era o território sagrado do clube.Corine foi junto e Guido também.
Albucacys não gostou.
Parou perto da grade da piscina, com os olhos duros sobre o rapaz.
— Não tem nada pra fazer no seu morro, Guido?
Guido não se intimidou. Encarou de volta, com aquele sorriso de sempre, frio como gelo quando se tratava de sentir medo, era filho César Cavallari, não podia ser diferente..
— Não tenho, Albucacys. Resolvi tudo que precisava. Vim ver sua irmã. Porque quero me casar com ela. Só tô esperando ela completar a maioridade.
Albucacys avançou meio passo.
— Ela não vai se casar com você.
Antes que Guido respondesse, Corine interveio.
— Vou sim — disse, com um sorriso firme,
Um silêncio se instalou. Callebe chegou por trás, como quem sente o cheiro da faísca antes do fogo., encarou Guido que pediu a benção, Callebe tinha vontade de dar uns cascudos no garoto, mas aí sua senhora Rebeca, não ia gostar,.. deu a benção ao garoto irritante e corajoso..
Albucacys encarou o chão, os punhos fechados.
Estela deslizou a mão sobre a dele, tentando aquietá-lo.Ele respirou fundo.
— Precisaram parar de ciumes..
Guido sorriu. Corine também.
Estela puxou Albucacys para longe, antes que mais alguém resolvesse se meter. Caminharam até o banco de pedra sob as árvores do fundo. Sentaram-se.
Ela apoiou a cabeça no ombro dele.
— Tem que parar com isso..
__ Eu vou, eu vou, só estou me acostumando, mas ela gosta dele..
__ Gosta,Corine o ama... .
— É um bom rapaz.. ah, inferno vou ter que ver minha irmã namorar e casar..
__ Vai sim..
__ Mas eu podia ao menos dar um soco nele.. se podia..
Ele tinha consciência que Guido era a melhor opção para Corine, ainda assim, a implicância falava mais alto.