Capítulo 2 – A Aliança da Morte
O som do telefone cortou a noite silenciosa. Eu estava em minha sala, observando as sombras se moverem nas paredes. No Morro do Destino, o silêncio nunca era genuíno, mas naquele momento, ele pesava mais do que o normal. Eu sabia que algo estava prestes a acontecer. Algo que me tiraria da minha rotina de controle absoluto.
Atendi o telefone sem pressa, como sempre faço, mas o peso do que estava prestes a ser dito me atingiu antes mesmo de ouvir a voz do outro lado. Enzo, o chefe da máfia italiana. O homem que tinha um débito de honra comigo, mas que agora tinha algo mais pesado para me pedir. Eu já sabia do que se tratava.
Enzo: "Rafael." Ele soou cansado, como se o peso da vida finalmente estivesse o consumindo. "Meu tempo está acabando, você sabe disso."
Rafael: "Eu sei." Respondi com frieza. Ele sabia que eu sabia, não precisava dizer mais nada.
Enzo: "Eu nunca pedi favores, Rafael. Sempre paguei pelos meus erros. Mas agora... a situação mudou." Ele fez uma pausa, o som da respiração pesada vindo do outro lado da linha. "A minha filha, Giovanna... Você tem que proteger ela. Antes que seja tarde demais. É um pedido de morte, mas de honra. Eu sei que você entende isso."
As palavras dele caíram como uma lâmina. O pedido não era só um favor. Era um legado. Um débito que eu tinha com Enzo, mas que não era mais sobre ele. Era sobre Giovanna, sua filha, e o que ela representava. A máfia italiana, um império de sangue e sujeira, com seus próprios códigos e regras. Enzo sabia que não poderia me pedir mais nada, mas ele me forçou a fazer isso. A proteger sua filha. Ele sabia que era a única maneira de garantir que o nome da família não fosse apagado. Sabia que o que estava acontecendo no submundo poderia ser mais violento do que qualquer um poderia prever.
Rafael: "Proteger ela? O que você está me pedindo exatamente, Enzo? Você sabe que no meu mundo, proteção tem um preço. E o que você está me pedindo não é barato."
Enzo: "É o último pedido que vou fazer, Rafael. Não me decepcione. Cuide dela como se fosse minha última vontade."
Eu desliguei o telefone sem responder. O pedido estava feito, mas a aliança não era uma escolha minha. Giovanna Moretti, a filha do homem que me ajudou a consolidar meu poder, estava a caminho. Mas ela não sabia que, ao entrar no meu território, não haveria mais ninguém no controle além de mim.
O telefone desligado, o som de um vazio insuportável no ar. Eu podia sentir o peso do pedido de Enzo ainda vibrando nas minhas mãos. Ele achou que ao pedir aquilo, estava apenas selando a sua última vontade. O problema é que ninguém entende realmente o que é o "código de honra" até ter que pagá-lo com algo que vai além da sua própria vida.
E aquela aliança que ele me pedia... Não era apenas uma questão de proteger uma mulher. Era um jogo de poder, e os mafiosos da máfia italiana não sabiam o que estavam me obrigando a fazer.
Eu me levantei da cadeira com uma rapidez que até me surpreendeu. Fui até a janela e olhei para o horizonte, as luzes do morro tremendo na distância. O cheiro do asfalto queimado, a névoa carregada, o caos que eu tinha sob controle, tudo isso já não importava mais. Eu estava sendo forçado a jogar com regras que não escolhi.
Eu fitei o reflexo de meu próprio rosto na janela. Vi o ódio queimando nos meus olhos. A ira estava crescendo em mim, e tudo o que eu queria era explodir. Era difícil entender por que a máfia italiana achava que podia me pedir um favor, quando qualquer movimento dentro do meu território deveria ser tratado como uma oferta, não um comando. A arrogância desses filhos da p**a me enlouquecia.
Rafael: "Estão achando que sou qualquer um, é?" murmurei para mim mesmo. "Esses malditos acham que a honra deles vale mais que meu próprio domínio."
Fui até o bar e peguei uma garrafa de whisky. O líquido escorrendo pelo copo parecia descer mais amargo do que nunca. Eu sabia o que viria a seguir, e odiava que tivesse que ser assim. Não bastava que eu tivesse que lidar com os inimigos que já estavam ao meu redor, agora teria que cuidar de uma mulher desconhecida, alguém da máfia italiana que provavelmente não teria nada mais que desconfiança e desprezo por mim.
A raiva era palpável, mas o que mais me incomodava era a sensação de que minha autoridade estava sendo desafiada. De algum modo, eles achavam que podiam fazer um favor a mim, me dando essa missão. Eles não estavam nem aí para o que eu representava. Para o que eu era. Achavam que eu simplesmente aceitaria.
Rafael: "Que merda, essas malditas famílias... Sempre achando que posso ser comprado."
Eu sabia o que tinha que fazer. Não podia permitir que essa sensação de subestimação se alastrasse. Mesmo que eu tivesse sido forçado a fazer essa maldita aliança, minha autoridade no Morro do Destino não seria questionada por ninguém, muito menos pelos mafiosos que m*l sabiam onde estavam pisando. Não iria ser fácil, mas ninguém se atreveria a brincar com o Predador sem pagar o preço.
Enquanto tomava o último gole do whisky, o telefone vibrou na mesa. Eu sabia o que isso significava. Um sinal de que a máfia italiana já começava a mandar seus recados. Meus capangas haviam ligado. Algo estava acontecendo. Mas antes que eu respondesse, a raiva transbordou de mim.
Eu atendi com a voz cortante, como uma lâmina afiada pronta para se enterrar na carne.
Rafael: "O que aconteceu? Alguém se atreveu a desafiar minha autoridade no meu próprio morro?"
Do outro lado da linha, um dos meus homens falou rápido, com medo.
Capanga: "Rafael, um dos mafiosos italianos chegou, mas ele... ele está tentando ganhar terreno aqui. Está espalhando boatos sobre a aliança. Alguns dos homens estão... não estão felizes com isso."
A ironia do momento era que estavam falando sobre a minha aliança com a máfia italiana, a mesma aliança que Enzo tinha me forçado a formar. Eu não gostava de ser desafiado, e muito menos que outros se sentissem com espaço para questionar o que eu fazia.
Rafael: "Esse lixo vai aprender que no Morro do Destino, a palavra do Predador é a única palavra que importa. Enviem os homens para calar essas bocas. Não quero mais murmúrios. Eu sou o único dono aqui."
A voz do capanga estava tensa, mas ele não ousou questionar. Ele sabia o que isso significava. Eu estava farto. E isso não tinha nada a ver com a aliança. Era sobre reafirmar minha posição. Eu nunca permitia que ninguém, nem mesmo os mafiosos italianos de merda, tentassem me desafiar.
Desliguei o telefone com um estrondo e dei mais um gole. As coisas estavam prestes a ficar feias. Giovanna chegaria no meu território. E se ela pensava que isso seria apenas um resgate, estava muito enganada. Ela faria parte do jogo agora. E ninguém jogava comigo sem conhecer as regras.