Capítulo 4: O jantar
A sexta-feira chegou como um turbilhão. Clara sentia como se todos os minutos do dia tivessem sido consumidos por um misto de ansiedade e preparação. Após deixar Lucas e Ana na escola, passou a manhã ajustando os detalhes do projeto que apresentaria. Mas, mesmo com todo o esforço, era impossível afastar o pensamento do jantar e, principalmente, de Rafael.
Alicia ajudou Clara a escolher o vestido mais elegante que ela tinha, um modelo simples, preto, mas que realçava sua figura de maneira discreta. O cabelo, sempre preso de forma prática para o trabalho ou a correria da faculdade, estava solto e levemente ondulado. Enquanto se olhava no espelho, Clara m*l reconhecia a imagem refletida.
— Você tá linda, amiga — disse Alicia, com um sorriso encorajador. — Agora respira. É só um jantar, e você vai arrasar.
Clara assentiu, mesmo com o coração acelerado.
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O restaurante escolhido pela Crown Advertising era luxuoso, do tipo que Clara só via em filmes. Ela chegou alguns minutos antes do horário marcado, esforçando-se para não parecer deslocada. Assim que deu seu nome na recepção, foi conduzida a uma sala privativa, onde os outros finalistas já começavam a se acomodar.
Havia uma mesa longa, decorada com flores e talheres de prata, e no centro dela, uma cadeira vazia que claramente estava reservada para Rafael. Clara trocou cumprimentos tímidos com os outros finalistas, mas sentiu sua garganta secar ao ouvir a porta se abrir.
Rafael entrou.
Vestindo um terno impecável, ele parecia ainda mais imponente do que na lanchonete. Seus olhos percorreram a sala com familiaridade, mas se demoraram um segundo a mais em Clara. Ele cumprimentou os finalistas com um sorriso cortês antes de ocupar seu lugar no centro da mesa.
— Boa noite a todos. É um prazer conhecê-los. Antes de mais nada, quero parabenizar cada um por chegar até aqui. — Sua voz era firme, mas cheia de cordialidade. — Este jantar é uma oportunidade de conhecermos melhor uns aos outros, além de celebrarmos o talento e a criatividade de vocês.
Clara tentou se concentrar nas palavras dele, mas sentia os olhos de Rafael pousando nela ocasionalmente, como se buscasse algo além do que os outros podiam perceber.
Após a entrada ser servida, Rafael começou a puxar conversa com cada finalista, interessado em ouvir suas histórias e ideias. Quando chegou a vez de Clara, ela quase derrubou a taça ao sentir o olhar dele diretamente sobre ela.
— Clara, certo? — perguntou, mesmo sabendo muito bem o nome dela. — Me conte um pouco sobre o que a inspirou no projeto.
Ela respirou fundo, tentando ignorar o olhar dos outros à mesa.
— Bem, eu sempre acreditei que a publicidade deve ser mais do que vender produtos. Deve criar conexões reais entre as pessoas e as marcas. Meu projeto é baseado na ideia de histórias compartilhadas, porque acredito que as experiências que dividimos são o que mais nos aproxima.
Rafael inclinou levemente a cabeça, parecendo genuinamente interessado.
— Uma abordagem interessante. E o que motivou você a escolher esse tema?
Clara hesitou por um momento.
— Acho que... minha própria história. Crescer em um ambiente difícil me ensinou que compartilhar experiências pode ser a única maneira de encontrar apoio e significado.
Houve um breve silêncio na mesa, mas Rafael manteve os olhos fixos nela, como se analisasse cada palavra.
— Sua visão é autêntica, Clara. Isso é raro e valioso.
O calor subiu ao rosto dela, e ela apenas assentiu, agradecendo baixinho.
O jantar seguiu com uma mistura de conversas e risadas, mas Clara não podia deixar de sentir que a dinâmica entre ela e Rafael era diferente da que ele tinha com os outros. Havia algo na maneira como ele a observava — como se enxergasse além da estudante humilde, como se estivesse tentando descobrir mais.
Quando o jantar se aproximava do fim, Rafael levantou sua taça, propondo um brinde.
— A todos vocês, que nos inspiram com suas ideias e talentos. Que este seja apenas o começo de grandes histórias.
Clara ergueu sua taça junto aos outros, mas não pôde evitar pensar que, para ela, aquilo era mais do que apenas o começo de uma história profissional. Talvez fosse também o início de algo muito mais complicado... e pessoal.
Após o brinde, os convidados começaram a se dispersar, animados com os planos futuros e carregados de expectativas. Clara juntou coragem para se aproximar de Rafael e agradecer pela oportunidade, sem saber que sua noite tomaria um rumo inesperado.
— Rafael, obrigada por acreditar em nós. Você não imagina o quanto isso significa para mim — disse ela, tentando manter a voz firme, apesar do nervosismo.
Ele sorriu, aquele sorriso seguro que parecia desarmar qualquer pessoa.
— Clara, você tem algo especial. Sua paixão transparece em tudo o que faz. Isso é raro, e espero que você nunca perca isso.
Antes que ela pudesse responder, ele sugeriu um passeio até o terraço do restaurante, alegando que o ar fresco faria bem depois de tantas horas na sala cheia. Ela hesitou por um momento, mas acabou aceitando, curiosa para entender mais sobre aquele homem que parecia uma mistura de enigma e carisma.
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No terraço, a noite estava serena, iluminada pela luz da lua e pelas estrelas que contrastavam com a agitação da cidade abaixo. Clara sentiu o coração bater mais rápido quando Rafael se aproximou da grade, gesticulando para que ela o acompanhasse.
— Gosto desse contraste. O caos lá embaixo e a calma aqui em cima — disse ele, olhando para ela de soslaio.
Clara riu nervosa, cruzando os braços como se quisesse se proteger da intensidade daquele momento.
— Acho que combina com você. Você parece calmo, mas tem algo... intrigante, quase caótico, por trás disso tudo.
Ele ergueu uma sobrancelha, intrigado pela percepção dela. Então, se aproximou mais, o suficiente para que Clara sentisse o calor de sua presença e o perfume marcante que ele usava.
— E você, Clara? O que há por trás dessa fachada de garota determinada e prática?
Ela tentou rir, mas sua voz falhou. Rafael a olhava de um jeito que parecia desnudá-la, atravessando suas defesas com facilidade.
— Acho que você está imaginando coisas, Rafael.
— Estou? — ele perguntou, inclinando-se levemente para mais perto. — Ou talvez eu esteja apenas enxergando o que os outros ignoram?
Clara sentiu o mundo ao redor desaparecer. Ele era intenso, mas de uma maneira que a puxava como um ímã. Antes que pudesse racionalizar, Rafael ergueu uma das mãos, tocando de leve a lateral de seu rosto.
— Me diga para parar, Clara, e eu paro agora.
Ela fechou os olhos por um segundo, tentando ignorar a batalha interna entre a razão e o desejo que a consumia. Quando abriu, sabia qual resposta daria.
— Não pare.
Rafael tomou aquilo como o sinal que precisava. Seus lábios encontraram os dela com um fervor que ela não sabia ser possível. A intensidade de sua aproximação era avassaladora, e Clara se deixou levar, entregando-se ao momento sem pensar nas consequências.
As mãos dele exploraram sua cintura, a puxando para mais perto, enquanto ela se agarrava à sua nuca, sentindo o calor subir pelo corpo. Era uma mistura de desejo reprimido e uma conexão inegável que, naquele instante, não podia ser negada.
A noite parecia congelada no tempo, envolta pela tensão e pela promessa de que aquele momento mudaria tudo.