Pré-visualização gratuita Capítulo 1: A Luta de Clara
Capítulo 1: A Luta de Clara
Clara tinha apenas 12 anos quando sua mãe, Beatriz, saiu pela porta de casa com uma mala e nunca mais voltou. Não houve despedidas calorosas ou promessas de retorno. Apenas um bilhete deixado sobre a mesa da cozinha:
"Não posso mais. Preciso cuidar de mim. Um dia, vocês entenderão."
Clara não entendeu. Como poderia? Patrícia abandonou o marido e os três filhos, fugindo para outro país em busca de liberdade — ou talvez apenas para se livrar do peso que a vida ao lado do marido alcoólatra representava.
Por muito tempo, Clara esperou por cartas, mensagens, qualquer sinal da mãe. Mas os anos se passaram, e a única coisa que restou foi a cicatriz deixada pela ausência. O fardo da casa caiu sobre os ombros dela, que, mesmo tão jovem, precisou amadurecer rápido.
Hoje, aos 18 anos, Clara evita pensar na mãe. Era um assunto que a machucava e a enchia de raiva. Quando via sua irmãzinha, Ana, dormir agarrada a um ursinho de pelúcia — o mesmo que a mãe deu antes de partir —, Clara sentia o peito apertar.
Ela queria odiar Patrícia. Queria mesmo. Mas, em noites solitárias, quando o peso da vida parecia insuportável, às vezes desejava que ela aparecesse. Uma parte de Clara ainda queria entender o porquê.
Mas, como sempre, ela abafava esses pensamentos. Não havia tempo para isso.
O despertador toca às 5h30 da manhã.
Clara se levanta no pequeno quarto que divide com seus dois irmãos. A cama improvisada no chão range quando ela se mexe, tentando não acordá-los. No canto do quarto, uma foto antiga da família repousa em uma moldura lascada. A mãe está sorrindo na imagem, como se nada pudesse quebrar aquela união. Clara desvia o olhar, sentindo a familiar pontada de dor.
Ela vai até a cozinha, mas a visão já não é mais uma surpresa: uma garrafa de cachaça vazia está largada sobre o balcão, e o cheiro amargo de álcool impregna o ar. Na sala, seu pai está jogado no sofá, roncando alto, com a camisa desabotoada e uma pilha de bitucas de cigarro no chão.
Clara limpa a bagunça em silêncio, tentando ignorar o nó crescente em sua garganta.
— Sempre a mesma coisa... — ela murmura, pegando os cacos de vidro de um copo quebrado.
De repente, o pai se mexe no sofá, resmungando. Ele tenta se levantar, mas cambaleia e derruba uma cadeira.
— Clara! Onde tá meu cigarro? — ele pergunta, a voz rouca e arrastada.
Clara encara a figura decadente diante dela. Por um momento, o rosto abatido dele lhe lembra os dias melhores, quando o pai era um trabalhador honesto e afetuoso. Mas esses dias pareciam tão distantes quanto as lembranças da mãe.
— Não tem cigarro, pai. Nem dinheiro pra isso. E, por favor, vá pro quarto. As crianças vão acordar.
Ele ri, um riso amargo e cheio de desprezo.
— Eu sou o homem da casa! Você não manda em mim, menina.
Clara respira fundo, engolindo a raiva que cresce dentro dela. Ela sabia que confrontá-lo não levaria a nada.
— Vai pro quarto, pai. Só isso que eu tô pedindo.
Ele resmunga algo inaudível e desiste de argumentar, deixando-se cair de volta no sofá. Clara volta para a cozinha, já pensando no que pode preparar para o café da manhã com o que sobrou na despensa.
Com os irmãos
Pouco depois, Lucas, de 9 anos, e Ana, de 6, aparecem na cozinha, esfregando os olhos. Lucas, mesmo tão novo, parece mais maduro do que deveria ser. Ana segura o ursinho de pelúcia gasto que a mãe deixou antes de partir.
— Bom dia, meus amores! — Clara força um sorriso, embora o cansaço transpareça em seu rosto. — Comam rápido, temos que correr.
Lucas se senta à mesa, cruzando os braços.
— Pai tava gritando de novo ontem. Não deixa ninguém dormir.
Clara abaixa-se até ficar na altura do irmão e segura suas mãos.
— Lucas, eu sei que é difícil. Mas a gente vai sair dessa. Eu prometo.
Ele a encara por um momento e balança a cabeça, tentando demonstrar a mesma força que vê na irmã.
Ana, mais inocente, olha para Clara com os grandes olhos castanhos.
— Clara, a mamãe vai voltar?
A pergunta atinge Clara como um soco. Ela respira fundo, sentindo a garganta apertar.
— Não agora, Ana. A mamãe... ela foi morar longe. Mas eu tô aqui, tá bom? Eu nunca vou sair do lado de vocês.
Ana se aproxima e a abraça forte. Clara fecha os olhos, tentando conter as lágrimas.
No ônibus
Depois de deixar os irmãos na escola, Clara pega um ônibus lotado para a faculdade. Enquanto se segura em um dos ferros, equilibra a mochila e revisa mentalmente a lista de tarefas do dia: entregar o trabalho de fotografia, pegar os meninos na escola, ir para o turno na lanchonete.
Uma notificação no celular chama sua atenção. É uma mensagem da professora Renata.
> "Clara, você viu sobre o concurso publicitário? Acho que essa é a sua chance. Você tem talento, não pode deixar passar."
Clara aperta o celular contra o peito, pensativa.
“Chance?” Ela quase ri. “Como vou competir com os outros alunos que têm tempo, dinheiro e nenhum peso nas costas?”
Mas a mensagem ecoa na mente dela. Se vencer, poderia conseguir um estágio e finalmente dar o primeiro passo para sair da vida que leva.
Na faculdade
Clara chega atrasada à aula. A professora Renata está explicando as regras do concurso publicitário, e o nome “Rafael Monteiro” aparece projetado na tela da sala.
— Este é um projeto real de uma grande empresa, liderada pelo CEO Rafael Monteiro — explica Renata. — O vencedor terá a chance de fazer um estágio exclusivo com a equipe dele.
— Rafael Monteiro? — alguém sussurra. — Ele é tipo um gênio da publicidade. E um gato.
Clara m*l ouve os cochichos, concentrada na tela. A chance parecia surreal demais, mas algo dentro dela — uma faísca que ela não sentia há muito tempo — começava a se acender.
Renata a nota no fundo da sala.
— Clara, posso contar com você para participar?
Clara sente os olhares dos colegas sobre ela. Todos sabiam que ela era talentosa, mas também sabiam das dificuldades que enfrentava.
— Eu... vou pensar, professora.
Renata sorri, confiante.
— Pense rápido. Porque sei que você tem o que é preciso.
No trabalho
Após as aulas, Clara vai direto para a lanchonete onde trabalha. O lugar está cheio, e o movimento frenético não dá espaço para pausas. Com um avental amarrado às pressas e um bloco de pedidos na mão, ela atravessa o salão equilibrando bandejas e desviando de clientes apressados.
— Clara! — grita seu chefe, o Sr. Augusto, da cozinha. — Mesa quatro tá reclamando de demora!
— Já estou levando! — ela responde, enquanto coloca pratos na bandeja.
Uma colega se aproxima, colocando a mão no ombro dela.
— Menina, como você aguenta? Depois da faculdade e ainda isso?
Clara dá um sorriso cansado.
— Não é uma questão de aguentar. É de não ter escolha.
Enquanto passa as horas servindo mesas e limpando bancadas, o pensamento sobre o concurso continua martelando na mente dela. Às 22h, quando o movimento finalmente diminui, Clara se apoia no balcão para recuperar o fôlego.
O Sr. Augusto aparece ao lado dela, olhando para os papéis no caixa.
— Você é uma garota forte, Clara. Mas um dia vai precisar cuidar da sua própria vida.
Ela levanta o olhar, surpresa.
— Eu cuido da minha vida, Sr. Augusto. E da dos meus irmãos também.
Ele suspira, balançando a cabeça.
— Isso é verdade. Mas tem um mundo lá fora, sabe? Um mundo que talvez você mereça mais do que isso aqui.
Clara pensa nas palavras dele enquanto troca de roupa no vestiário. Com os sapatos gastos nas mãos, ela olha para o reflexo no espelho: cabelos desalinhados, olheiras profundas e uma expressão cansada, mas determinada.
Em casa
Quando chega em casa, já passa das 23h. Os irmãos estão dormindo no colchão da sala, e a TV está ligada, mas com o volume baixo. Ela desliga o aparelho e cobre os dois com um cobertor.
Na cozinha, encontra o pai acordado, segurando uma garrafa.
— Saiu tarde hoje, hein? — ele comenta, sem sequer olhar para ela.
— Preciso trabalhar para pagar as contas. Alguém tem que fazer isso.
Ele dá um sorriso amargo.
— E acha que vai salvar o mundo, Clara? Que vai mudar alguma coisa? Tudo isso é perda de tempo. Igual sua mãe. Ela também achava que podia fugir e fazer algo grande... e olha só onde estamos.
As palavras dele atingem Clara como um soco.
— A diferença entre mim e ela, pai, é que eu não vou abandonar quem precisa de mim.
Ela pega um copo d'água e se retira antes que a conversa piore.
No quarto, Clara se senta ao lado dos irmãos, observando a respiração tranquila de ambos. Por um instante, sente-se perdida. Será que algum dia as coisas mudariam? Será que todo o esforço faria sentido?
Ela pega o panfleto do concurso, que está amassado dentro da mochila, e o lê mais uma vez. A imagem do logo da empresa de Rafael Monteiro parece brilhar como um farol no meio do caos.
"Talvez isso seja mesmo minha chance."
Clara pega um caderno e começa a rascunhar ideias para o projeto, sem saber que aquela decisão colocará sua vida em um caminho que ela jamais imaginou, ligando-a a um homem poderoso, encantador e com segredos tão profundos quanto os dela.
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