Pré-visualização gratuita Como tudo começo
LIZ NARRANDO
Hoje acordei cedo. Tô de viagem pro Rio de Janeiro. Nasci lá no morro da Rocinha, mas saí de lá com 5 anos. Hoje, depois de 18 anos, tô voltando. Não tenho nenhum parente lá; minha mãe e meu pai faleceram quando eu tinha 10 anos. Minha tia me criou como filha.
Fiz faculdade de Medicina, terminei e recebi uma proposta de trabalho no Rio, no postinho do morro. Aceitei na hora — já tava querendo ir pra lá mesmo — e a proposta veio em boa hora. Quem sabe mais pra frente consigo algo melhor.
Vou morar um tempo com minha amiga que mora lá. Já arrumei todas as minhas coisas, tomei banho, coloquei uma calça comprida, uma blusa branca e um salto. Fiz uma make simples, pego minhas malas, saio do meu quarto e fico olhando tudo com atenção. Vou sentir falta do meu cantinho, mas agora é vida nova.
Vou descendo e minha tia já tá chorando. Me abraça, dizendo que vai sentir muita saudade de mim.
Tia: Toma cuidado por lá, minha filha.
Liz: Tá, meu amor. Eu volto, viu? E vou levar a senhora comigo. Assim que me ajeitar lá, venho pegar a senhora pra morar comigo.
Ela me abraçou chorando. Eu agradeço por tudo que ela fez por mim em todos esses anos. O Uber chega, pego minhas malas e saio. O motorista me ajuda a colocar as malas no carro. Entro e vejo minha tia chorando — acabo chorando também.
Vamos em direção ao aeroporto. Chego e meu voo tá pra sair. Faço todos os procedimentos pra entrar no avião. O voo já tá saindo.
Uma hora depois, já tô no Rio. Mando mensagem pra minha amiga avisando que já cheguei. Pego um táxi e falo a localização pro motorista. Em 30 minutos, já tô na barreira do morro.
Saio do táxi e vejo vários homens armados com fuzil. Só cumprimento com a cabeça. Vejo minha gravidinha vindo na minha direção — ela tá linda com essa barriga. A gente se conheceu onde eu morava; ela passou um tempo lá e viramos melhores amigas.
Milena: Amiga, não acredito! Você tá aqui mesmo!
Liz: Ah, amiga, que saudade! E como está meu bebê?
Passo a mão na barriga dela, e o bebê mexe.
Milena: Bora, você deve tá cansada.
A gente vai em direção à casa dela. No caminho até lá tem vários homens armados. Chego na casa dela, coloco as malas no quarto e vou matar a saudade da minha amiga. Quero saber as fofocas, como foi essa história da gravidez e como ela tá com o pai do nenê. Ela me falou muito dele. Ficamos ali conversando por horas.