— Você parece bem, querida. — Disse vovó Ruth me olhando sentada na poltrona ao seu lado.
— Eu me sinto ótima! — Era impossível não sorrir depois da minha noite de aventuras bem sucedida.
— Viu um passarinho verde?
— Quase isso. — Respondi fazendo ambas rirem.
— Eu tenho um presente pra você querida... — Levantando um pouco a sua colcha ela tirou um embrulho de presente prateado amarrado com uma fita vermelha entregando-me. — Feliz aniversário.
— Obrigado vovó! — Disse com um sorriso maior ainda no rosto enquanto tirava a fita.
Dentro do embrulho havia uma máscara médica com um sorriso bordado e um cachecol de tricô vermelho extremamente macio, dava até mesmo para sentir o carinho com que ela tricotou e bordou aqueles presentes o que foi o suficiente para fazer meus olhos lacrimejarem.
— E-Eu simplesmente amei. — Minha voz saía falha devido às lágrimas de pura emoção.
— Vai te manter protegida e aquecida minha filha, quero você bem forte para recebe seu pulmão novo.
— Você é um anjo... — Sussurrei tirando a máscara que eu usava e colocando a que ela havia me dado. — Como estou?
— Sorridente!
— Vovó... Eu quero te contar uma coisa... — Disse enrolando o confortável cachecol ao redor do meu pescoço. — Eu sai... Sai ontem à noite.
— Saiu? Para onde você foi minha querida? — Perguntou tossindo com um lencinho branco na boca.
— Eu fui a um pub a poucas quadras daqui, eu bebi sucos, dancei e conheci um homem. — Abaixando a máscara até o queixo mostrei a ela o quanto eu sorria de fato. — O nome dele é Tony.
— Anna, você saiu do hospital? Não pode se arriscar assim. — Ela parecia preocupada voltando a levantar a minha máscara.
— Eu estou bem vovó, de verdade... Eu nunca me senti tão viva quanto naquela noite em toda a minha vida. — Disse tirando a máscara novamente. — Ele tem meu número.
— Querida eu sei que não teve muito tempo para viver coisas da sua idade, mas não se arrisque assim, não arrisque sua vida... — Vovó Ruth me olhava séria da forma que poucas vezes a vi. — Não faça mais isso.
— Tudo bem... — Assenti baixando a cabeça e a deixando levantar a minha máscara novamente.
— Melhor voltar ao seu quarto querida, descanse para ficar forte. — Ela sorriu para mim apertando minha mão.
— Descansa...
Me levantei beijando sua testa mesmo com a máscara impedindo que meus lábios tocassem sua pele. Saindo do seu quarto caminhei até o meu guardando a máscara sobre o criado mudo e subindo em minha cama.
Vovó Ruth não estava errada em dizer aquelas coisas, eu realmente não devia ter saído escondido colocando a minha vida em risco... Mas que vida? Eu não tenho vivido, apenas sobrevivido, não é a mesma coisa...
Fui arrancada de meus devaneios ao ouvir meu celular tocando, o pegando assim que li o nome "Tony" na tela senti meu coração pular uma batida fazendo-me sentar bruscamente. A atitude de qualquer um seria atender de imediato, mas eu simplesmente travei olhando para tela e ouvindo Lollipop- Chordettes tocando ao mesmo tempo que o celular vibrava em minhas mãos.
— Vamos Annabel, não seja uma covarde! Atenda. — Esbravejei respirando fundo e enfim atendendo pouco antes da ligação cair. — Alô?
— Hey Anna! Ainda lembra de mim? — Perguntou com certo humor em sua voz.
— Como poderia esquecer do cara que me deu um banho de cerveja?! — Respondi rindo baixo.
— Desculpe de novo por isso. — O ouvi rir baixo também. — O que está fazendo?
— Nada de mais... Por que?
— Estava pensando... — Tony fez uma breve pausa como se tomasse fôlego para terminar sua fala. — Não gostaria de sair comigo? Dar uma volta no parque talvez ou um jantar se preferir, conheço um restaurante ótimo no centro.
— Tipo... Tipo um encontro? — Perguntei surpresa.
— Sim, um encontro. — Apenas pelo timbre de sua voz sabia que ele estava a sorrir.
Droga... Eu queria ir, realmente queria, mas algo me dizia que aquilo era uma péssima ideia, tanto o parque como o restaurante, muitas pessoas, muita exposição...
— Desculpe Tony... Não acho uma boa ideia... — Respondi com grande pesar.
— Ah... Tudo bem... — A decepção era clara em sua voz o que estranhamente causou-me um certo aperto no peito.
— Mas... O que acha de um jantar na minha casa? — Quando dei por mim já tinha falado sem nem ao menos pensar por um único segundo.
— Acho ótimo. — Pude sentir a empolgação voltar a sua voz. — Hoje à noite?
— Não... Hoje não... Pode ser amanhã? — Perguntei apertando meus olhos pensando na burrada que eu estava fazendo.
— Amanhã eu não vou poder, pode ser na sexta então?
— Sexta está ótimo...
— Certo... Eu levo o vinho.
Pude ouvir que alguém estava se aproximando do meu quarto.
— Tony eu preciso desligar. Nos falamos depois, tchau. — Disse desligando em seguida sem nem esperar por uma resposta.
Mal havia desligado a ligação e a enfermeira Jackie adentrou o meu quarto empurrando um carrinho com uma espécie de prato metálico que eu conhecia muito bem e mais alguns instrumentos.
— Belo cachecol Anna, mas está calor hoje, está com frio? — Perguntou pegando o termômetro do carrinho e já enfiando embaixo do meu braço.
— Não Sra. Delicadeza, eu ganhei da vovó Ruth, não é lindo? — Perguntei encolhendo meus ombros para apertar o cachecol contra o meu pescoço.
— É lindo sim... — Disse pegando o termômetro que havia apitado. — Hmm... Está normal. Estique o braço querida.
— Sabe, acho que tenho mais sangue dentro de tubinhos nos laboratórios do que no meu próprio corpo. — Bufei esticando o braço como Jackie pediu.
— Não seja ranzinza Anna. — Jackie prendeu o torniquete no meu braço com cuidado, mas ao mesmo tempo forte como sempre. — Olhe pelo lado bom, você pode estar forte o suficiente para ir para casa, e se estiver, esse exame vai mostrar.
— Espero que esteja certa. — Disse apertando meus olhos ao sentir a agulha da seringa penetrar o meu braço.
Logo que Jackie saiu do quarto com amostras do meu sangue e um exame de esforço pulmonar relativamente satisfatório, Jess entrou fechando a porta em seguida, e para minha surpresa a deixaram entrar sem máscara.
— Me conta tudo! — A ruiva correu sentando ao meu lado. — Como foi?
— Ótimo! — Sussurrei fazendo ambas rirem. — Eu bebi, sucos, mas bebi, dancei, conheci um cara.
— Hmm, um Cara? — Jess olhou-me maliciosamente. — Quem?
— O nome dele é Tony, ele meio que me deu um banho de cerveja e pagou alguns drinks pra mim.
— Ele era gato? — Perguntou já começando a brincar com meu cachecol.
— De mais!
— Pediu seu número?
— Na verdade ele acabou de me ligar... — Jess arregalou os olhos para mim enquanto eu terminava de falar. —... Me chamou para um encontro...
Percebi o exato momento em que Jess até mesmo puxou o fôlego para dar um dos seus famosos gritos de entusiasmo, rapidamente sem nem pensar por um segundo a mais, cobri sua boca antes que ela o fizesse.
— Passou? — Perguntei ainda tampando sua boca quase que a vaco. Ela apenas assentiu.
— O que você disse? — Jess estava até vermelha de "prender" seu grito.
— Que não podia hoje... — Ela me olhou assentindo entendendo perfeitamente o motivo. — Mas convidei ele pra jantar lá em casa na sexta...
— VOCÊ O QUE? — Tenho certeza que todos os pacientes daquele corredor a ouviram.
— SHHH! Sua louca! Estamos em um hospital!
— Exatamente! Estamos em um hospital! Como você marca um jantar lá em casa daqui a três dias sendo que você não está lá?
— Talvez eu receba alta hoje. — Respondi querendo acreditar no que eu dizia. — E se eu não receber é só dizer que houve um imprevisto.
— Hm. — Jess me olhou cruzando os braços. — Suponhamos que tudo dê certo, você vai cozinhar?
— Claro.
— Vai m***r o bichinho de intoxicação alimentar!
— Ei! Eu sei cozinhar! Vou usar as receitas da mamãe.
— A mamãe cozinhava m*l pra caramba. — Disse fazendo ambas rirem. — Mas Anna, sabe que quando receber alta talvez tenha que tomar alguns cuidados em casa também não é?
— Eu sei... Mas Jess... Eu me sinto tão tão viva ao lado dele... É uma sensação diferente sabe?
— Sei, é fogo. — Disse rindo e me fazendo revirar os olhos.
— Besta... — Acabei cedendo a sua risada contagiante e rindo também.