— Tudo bem, sério. — Tentei acalma-lo percebendo que o que havia caído em mim era cerveja.
— d***a, sério me perdoe.
— Meu Deus, eu disse que está tudo bem. — Disse rindo e indo até o bar novamente para pegar alguns guardanapos e secar o meu peito.
— Eu te ajudaria se não fosse assédio. — Olhando para o lado vi que ele havia vindo atrás de mim.
— Acidentes acontecem... Não é o fim do mundo e ninguém vai morrer por isso. — Disse sorrindo para ele perceber que estava tudo realmente bem.
— E-Eu... Posso te pagar uma bebida para compensar? — Perguntou parecendo um pouco sem graça.
— Obrigado, mas eu já estava de saída.
— Ah, por favor. Deixa eu me desculpar direito por ter te dado um banho de cerveja.
Nesse momento eu tinha duas opções: Eu poderia aceitar e conhecer um completo estranho que por sinal era um homem muito atraente de cabelos e olhos castanhos, ou eu podia dar minha noite como encerrada e voltar ao hospital...
— Tudo bem. — Assenti sorrindo e voltando a me sentar no banco do bar.
— Amigo! Por favor! — Chamou o barmen que logo veio até nós secando um copo. — Uma cerveja e...
— Um suco de... Cranberry.
— E um suco de cranberry. — Disse o moreno ao barmen com o cenho franzido. — Você é a primeira pessoa que eu conheço que vem a um pub e bebe suco. — Ambos rimos.
— É, por mais que eu seja britânica, nunca fui de beber muito. — Na verdade devo ter bebido uma vez em toda minha vida e mesmo assim foi um gole de vodka.
— A propósito... Meu nome é Tony. — Ele sorriu timidamente esticando a mão em minha direção.
— Anabel, mas pode me chamar apenas de Anna. — O cumprimentei apertando sua mão.
— É um prazer conhecê-la oficialmente de uma forma descente, Anna. — Disse fazendo ambos soltarem um riso nasal.
Não demorou muito para o barmen trazer nossas bebidas colocando-as em nossa frente. Enquanto tomava a minha não pude deixar de observá-lo... Tony não parecia o tipo de cara que reparava em mulheres como eu, na verdade, talvez por essa noite eu seja o seu tipo de mulher...
— Eu sei que não é da minha conta, mas por que veio sozinha? — Perguntou tomando sua cerveja.
— Não sou de muitos amigos e só precisava sair um pouco e... Tomar um suco em um pub.
— Entendo, as vezes só precisamos relaxar depois de um dia exaustivo.
— Você não faz ideia do quanto... — Disse lembrando de quantas agulhadas levei hoje em meu braço dolorido coberto por uma camada de base.
— Você é daqui? — Tony parecia querer puxar assunto comigo ao invés de voltar aos seus amigos, talvez se sinta culpado pelo acidente com a cerveja.
— Olha... — Fiz uma breve pausa para medir minhas palavras. — Não precisa ficar e tentar interagir comigo só pelo incidente, sério.
— Não estou fazendo isso só pelo incidente... — Ele soltou um riso nasal olhando para os seus dedos que seguravam a garrafa de cerveja gelada. — Na verdade eu estava vindo falar com você e pedir para te pagar uma bebida, mas não vi que você havia se levantado.
— Por que faria isso? — Perguntei franzindo meu cenho.
— Porque queria te conhecer... Você chegou sentou no bar e só pediu suco, mesmo sozinha pareceu se divertir dançando... Falando essas coisas em voz alta eu me sinto um...
— Stalker. — O interrompi fazendo ambos rirem.
— É, eu me sinto um stalker, mas você chamou minha atenção.
— Mulheres como eu geralmente não chamam atenção de homens como você. — Quando dei por mim as palavras já tinham simplesmente saído da minha boca.
— Como assim homens como eu? — Perguntou fazendo uma careta parecendo achar graça do meu comentário.
— Bom... Você está vestindo roupas caras, assim como seus amigos, só o seu relógio deve custar mais que o meu apartamento, o que indica que você deve ter uma vida confortável e sai com loiras altas com peitões.
— Meu Deus. — Me surpreendi ao vê-lo rir e não se sentir ofendido. — Quem é a stalker agora? Mas você não está completamente errada, eu tenho uma vida confortável admito, mas a segunda parte está errado.
— Não sou stalker, sou observadora, é diferente. — Disse fazendo ambos rirem.
— Tony. — Um ruivo aproximou-se de nós tocando seu ombro. — Nós já estamos indo, você não vem?
Ele olhou pra mim como se ponderasse uma resposta ao ruivo logo sorrindo discretamente.
— Não, vão na frente eu ainda não terminei a cerveja. — Disse por fim.
— Sei... Boa noite moça. — Acenou para nós saindo em seguida.
— Você ainda não respondeu a minha pergunta... Você é daqui? — Perguntou tomando mais um gole de sua cerveja.
— Sou... Eu moro aqui perto na verdade.
— Eu também, tenho um apartamento a algumas quadras daqui, próximo ao teatro. — Sua voz não parecia carregar segundas intenções.
Pessoas entravam e saíam daquele pub enquanto nossa conversa fluía maravilhosamente bem. Aos poucos o lugar foi ficando vazio e os garços iam colocando as cadeiras sobre as mesas para limpar o chão ao mesmo tempo que o barmen terminava de lavar seus copos e limpar o balcão.
— Está ficando tarde... — Disse por fim percebendo que eu já deveria ter voltado para o hospital horas atrás. — Eu preciso ir.
— Não quer uma carona? — Ofereceu-se enquanto eu me levantava.
— Você não deveria dirigir depois de beber. — O adverti franzindo o cenho.
— Quer dividir um táxi então? — Perguntou fazendo ambos soltarem um riso nasal.
— Não, eu gosto de andar.
— Você poderia... — Ele coçou a garganta também ficando em pé. — Poderia me passar seu número?
Essa noite foi incrível, conhecê-lo certamente melhorou essa experiência, mas essa é apenas a minha máscara, a máscara que eu usei para fugir da minha realidade frustrante e caótica.
— Não acho que seja uma boa ideia... — Havia claramente um certo desânimo em minha voz.
— Por que não? Prometo não te ligar de madrugada.
Parei por um instante apenas para olhá-lo um pouco mais, talvez eu não o visse de novo, mas ao menos teria alguém para conversar além da minha irmã e o pessoal do hospital...
— Tudo bem... Anota. — Assim que me ouviu dizer isso, Tony abriu um enorme sorriso pegando o celular do seu bolso começando a anotar os números que eu lhe ditava. — Boa noite Tony... — Me despedi sorrindo.
— Boa noite Anna... — Ele retribuiu meu sorriso de uma forma meiga o suficiente para aquecer meu peito.
Caminhei em direção a saída do pub com um sorriso todo bobo em meus lábios até sentir meu celular vibrando na pequena bolsa que eu carregava. Enquanto o pegava inúmeros pensamentos me rondavam, eu tinha plena certeza que se tratava de Jess dizendo que havíamos sido descobertas, mas quando olhei a tela não vi seu nome, mas sim um número não salvo.
— Alô? — Disse ao atender.
— Eu só queria ter certeza que você não me passou um número falso, você parecia receosa. — Ouvi a voz do Tony do outro lado da linha.
Rindo incrédula me virei vendo ele sorrir com o celular contra o seu rosto. Revirando os olhos desliguei a ligação saindo do pub, mas ainda parada em frente à fachada salvei o seu número.
Eu me sentia caminhando nas nuvens de volta ao hospital, toda a felicidade que eu tive essa noite me preenchia e estocava o suficiente para uma semana. Se eu pudesse estaria correndo de alegria!
Quando cheguei a porta dos fundos do hospital respirei o mais fundo que eu podia, voltando a tirar meus saltos. Aqui estava eu, voltando para a minha realidade, deixando as máscaras caírem, porque uma hora nós temos que acordar do sonho, não importa o quão maravilhoso ele tenha sido...