Dulce
Como era de costume, eu acordei assim que o sol nasceu. Levantei da cama com cuidado para não acordar o Christopher e desci até a cozinha para supervisionar o café da manhã que Rosa estava preparando.
Depois de ver que tudo estava em ordem, eu voltei para o quarto e tentei acordar Christopher sutilmente, o cutucando de leve.
— Mais cinco minutos. — resmungou.
— Já está quase na hora do café, acorde.
— Não, vem pra cá você também. — ele puxou meu braço e eu praticamente fui arremessada na cama.
— Christopher! — tentei me levantar, mas ele me abraçou e me apertou contra si. — A gente tem que se arrumar e ir trabalhar!
— Daqui a cinco minutos. — insistiu.
— Ok, chega. Levante, isso é uma ordem! — falei num tom mais grosso. Ele me largou e sentou na cama, me encarando. — Agora que chamei a sua atenção, será que a gente pode se arrumar e tomar café da manhã juntos? — voltei ao meu tom doce.
— Você é esperta demais. — riu. Ele levantou e calçou seus chinelos.
— Achei que não tivesse medo de mim. — sorri de canto.
— E não tenho, mas toda vez que escuto essa sua voz de comandante, automaticamente eu sinto a obrigação de te dar tudo o que eu tenho. É mais forte do que eu. — deu de ombros.
Nós descemos para o café da manhã e depois, seguimos até a garagem.
— Vamos no seu carro ou no meu? — perguntei.
— Posso pedir uma coisa incomum? — ele sorriu ansioso.
— Pode.
— Deixa eu dirigir aquela Mercedes preta, por favor! — implorou apontando para um dos carros do meu pai.
— Bem... eu não sei se a gente devia. Imagina o que todos vão achar quando chegarmos lá num carro desses.
— Pois é, imagina! — ele disse como se isso fosse a melhor coisa do mundo.
— Se isso vai fazer você se sentir bem, por que não? — sorri de lado.
— Ótimo! — comemorou.
— As chaves devem estar aqui em algum lugar. — tateei por baixo do capô e encontrei. — Achei. — entreguei na mão dele.
— Ai meu Deus, ai meu Deus! — murmurou destravando.
Nós dois entramos no carro e antes de dar a partida, ele observou todo o painel, totalmente encantado com a luxuosidade.
Quando o primeiro ronco soou, Christopher riu como uma criança que acabara de ganhar o melhor brinquedo da loja.
— Isso é incrível! — falou quando chegamos até a rua. — Por que você só usa um carro enquanto tem tantos outros incríveis na sua garagem?
— Sou uma pessoa pública, não gosto de ficar chamando a atenção por aí. — dei de ombros.
— Então por que tem os carros?
— Não fui eu que comprei. Meu pai e meu irmão tinham um hobby de arrematar carros de luxo em leilões. Eu por outro lado, nunca tive interesse em ter os melhores carros, um já me basta.
— Por que leilões? — franziu a testa. — Dá pra comprar numa concessionária.
— Não é apenas pelo carro, mas pela história. Esse carro já pertenceu à alguém importante, que eu não me lembro quem é porque nunca me interessei. — ri.
— Tipo uma pessoa famosa?
— Sim.
— Isso é demais!
Como eu previ, muitos olhares atentos se prenderam em nós assim que estacionamos e descemos do carro. Mas Christopher se quer se importava com a atenção das pessoas, apenas analisava a lataria do carro fascinado por ele.
— Podemos entrar? — perguntei.
— Ah, claro.
No caminho até o nosso andar, ele me falou sobre todas as peculiaridades de uma Mercedes e como aquele carro tinha uma potência incrível e um tempo de duração de dar inveja.
Até eu que não sabia nada sobre carros amava ver ele tão animado enquanto me contava coisas que eu não conseguia compreender.
Depois de sair do elevador, ele seguiu até sua sala e eu até a minha.
— Bom dia, Anahi. — eu disse ao passar por ela.
— Senhorita Saviñon? — me chamou.
— Sim?
— Será que a senhorita pode me ouvir por um instante? Prometo ser breve.
— Prossiga.
— Eu só queria dizer que o Christopher é o meu melhor amigo e contanto que ele esteja feliz, eu sempre vou apoiá-lo, aconteça o que acontecer. Foi difícil pra mim, eu confesso, mas eu aprendi a entender as necessidades dele e o quanto você está sendo importante. Eu não devia ter olhado isso com negatividade, já que a senhorita é a pessoa que eu mais admiro. Sei que é perfeita pra ele.
— Obrigada. — sorri. — É muito bom ouvir isso de você. Espero que nós possamos... ser amigas. — falei incerta, mas ela abriu um largo sorriso.
— Seria maravilhoso, senhorita Saviñon!
— Dulce. Me chame de Dulce.
— Ok. — indagou surpresa.
— Marque uma reunião para as dez com todos os publicitários dessa empresa. É um assunto importante.
— Sim, senhorita... digo, Dulce. — sorriu.
Todos já se encontravam na sala de reuniões quando eu cheguei. Pareceram curiosos e me olhavam com ansiedade.
— Bom, como vocês sabem, todos os anos o governo organiza um evento que celebra a publicidade e a propaganda. Esse ano, cada empresa terá que ter um representante para palestrar sobre a visão própria do que é a publicidade. Eu e os diretores da empresa concordamos em designar alguém que esteja mais próximo da área criativa da coisa. Então, vocês, produtores, editores, roteiristas e demais funcionários, podem ter a chance de se apresentar diante do maior público publicitário do país. Isso será ótimo pra carreira de vocês. — deixei que eles fizessem especulações sobre o assunto.
— E quem será o escolhido? — perguntou um dos funcionários.
— Vamos decidir isso num teste. Qualquer um de vocês pode ser o escolhido, basta mostrar que é capaz de preparar uma boa palestra e proferi-la diante de um grande público com firmeza e segurança. Neste sábado, eu vou organizar mais uma social na minha casa. — eles começaram a conversar comemorando. — Pois é, eu sei que vão gostar. — sorri. — Mas também vai ser dia de trabalho. Nesta social, nós vamos simular o evento publicitário e aqueles que se candidatarem, podem nos mostrar do que são capazes. Estamos de acordo? — todos afirmaram positivamente. — Ótimo! Por favor, se tiverem interesse nisso, passem na sala da Anahi e deem o nome de vocês para ela. Estão dispensados.
Enquanto eles saíam, iam me cumprimentando da forma mais simpática possível. Eu finalmente estava conquistando a confiança dos meus funcionários.
O único a não falar comigo foi o Henri. Que com a cabeça baixa, seguiu até a porta logo atrás de Christopher.
— Ei, Cortez! — o chamei. Ele parou e me olhou, assim como Christopher, que segurou a porta aberta e franziu a testa para mim. — Vai se candidatar?
— Eu não sei... — desviou o olhar.
— Espero que faça isso. Sei que você é capaz. — sorri. Ele me olhou surpreso e abriu um largo sorriso.
— Obrigado. — ele se retirou me deixando sozinha com o Christopher.
— O que foi isso? — me perguntou.
— Ele está meio esquisito comigo, só quis ser gentil. — dei de ombros.
— Esquisito ele sempre foi.
— É que... sei lá... eu sei que ele gosta de mim, mas parece que está me evitando. — Christopher arqueou as sobrancelhas como se tivesse lembrando de algo, mas permaneceu em silêncio. — O que foi?
— Nada. — coçou a nuca.
— Como nada? Você sabe de alguma coisa.
— É que... tá... eu posso ter me gabado por estar saindo com você.
— Você o que? — fiquei boquiaberta. — Isso é... patético.
— Sério? Tão r**m assim? — cruzou os braços.
— Eu entendo que queira que as pessoas saibam sobre nós, eu também faço questão de gritar ao mundo que eu estou apaixonada por você, mas sinceramente, se gabar por estar comigo é me tratar como se eu fosse um troféu.
— Eu nunca faria isso! — pareceu ofendido. — Acontece que eu e o Henri nunca nos gostamos e ele percebeu que eu estava com você, eu só confirmei. Zombando dele, mas confirmei. Nunca faria isso se fosse com qualquer outra pessoa.
— Você jura? — perguntei com insegurança.
— Juro. Eu não estou com você por seus bens ou o nome forte que você tem. Estou com você pela mulher que você mostra ser quando está sozinha comigo, pela sua personalidade forte que eu aprendi a gostar e o bom coração que você tem e não faz questão que os outros saibam que tem. — senti minhas bochechas corarem e abri um sorrisinho.
— Desculpe, eu não quero brigar com você.
— Nem eu. Acho que a gente já zerou nossa cota de brigas. — rimos.
Nós nos abraçamos e nos envolvemos em um beijo cheio de ternura, porém rápido, pra não correr o risco de alguém nos ver tão íntimos no local de trabalho.
Por incrível que pareça, os funcionários pareciam mesmo interessados naquilo e vários nomes já haviam sido dados para se apresentar no sábado, inclusive o Christopher. Não seria eu a escolher o palestrante, mas se fosse ele, eu ficaria muito feliz.