Dulce
Nunca uma semana foi tão agradável quanto essa última tinha sido.
Morar com Christopher estava sendo a melhor experiência da minha vida. E sinceramente, eu até preferia que ele parasse de procurar por apartamentos e decidisse ficar aqui de vez. Mas eu não podia esperar por isso. Nós ainda não namorávamos e tinham poucos dias que estávamos juntos. Tudo viria no seu tempo certo.
Ele me ajudou a organizar a social que eu faria no jardim de minha casa. Encomendei mesas, contratei um bufê e montei um pequeno palco que serviria pra que os candidatos se apresentassem.
Na sexta à noite, depois de um banho quente, eu me dirigi até o quarto para finalmente dormir.
Deitei ao lado de Christopher, que estava concentrado em seu notebook enquanto digitava rapidamente, sem desviar o olhar da tela.
— O que está fazendo? — perguntei.
— Terminando os detalhes da minha palestra. — falou sem me olhar.
— Aposto que você vai arrasar. — eu disse acariciando seu rosto. Ele segurou minha mão e depositou um beijo.
— Seria um marco pra mim. Acabei de começar a trabalhar com publicidade e ter a chance de apresentar algo tão importante, daria um salto na minha carreira. — ele parecia animado com isso.
— Então, ainda tem vontade de subir mais? — perguntei curiosa.
— E quem não? — sorriu de lado. — Claro que entrei pra esse ramo porque amo toda essa magia, mas também quero ter um nome forte, um cargo de importância e quem sabe, até a minha própria empresa.
— Olha, eu não quero te dar uma forcinha só porque gosto de você. Isso seria errado. Mas... — sorri divertida. — Se os diretores te escolherem pra nos representar no evento e você se destacar entre as outras empresas, eu te promovo à chefe do departamento de produção.
— Tá falando sério? — perguntou desacreditado.
— Claro. Seria por mérito.
— Ai, meu Deus, eu te amo! — disse rápido e logo depois me abraçou.
Não esperava ouvir o primeiro "eu te amo" nesse momento, nem mesmo sabia se ele tinha falado sério, ou se só sentiu uma onda de adrenalina que o impulsionou a dizer a primeira coisa que viesse em sua mente.
Independente do que fosse, eu fiquei sem reação. E enquanto ele ria abraçado em mim, eu continuava séria, tentando controlar a minha respiração que fazia meus pulmões pulsarem como duas bombas.
Ele finalmente parou de me abraçar e segurou meus braços, ainda sorrindo para mim. Eu estava boquiaberta e ele logo se deu conta do que havia acontecido. Seu sorriso sumiu vagarosamente, até dar espaço à uma expressão tão séria quanto a minha.
— Desculpe. — ele disse.
— Por que está pedindo desculpa?
— Er... eu não sei... — falou nervoso. — Eu falei aquilo por impulso... não era pra ser assim.
— Então... não é verdade? — franzi a testa.
— É! Quer dizer... não... er... eu não sei...
— Tem razão. Não era pra ser assim. — suspirei. — Boa noite, Christopher. — virei para o outro lado, desliguei o abajur e me enrolei no cobertor.
Senti ele me observar durante longos minutos, até finalmente fazer o mesmo que eu.
Durante a noite, senti ele tatear o meu braço com as pontas dos dedos, como se fizesse desenhos em minha pele. E de forma tímida, foi chegando mais perto até envolver meu corpo em seus braços e enterrar seu rosto em meus cabelos.
{...}
A social aconteceria à tarde e aquela manhã de sábado na minha casa estava tão corrida que me deixou completamente perdida.
Antes de mais nada, eu queria convidar alguém importante pra mim e que com toda certeza me acalmaria se estivesse nessa festa comigo.
Peguei meu celular e liguei para a Miranda.
— Alô? — falou ao atender.
— Oi, Miranda! É a Dulce, como vai?
— Vou bem, e você?
— Estou ótima. Enfim, eu liguei pra te convidar pra uma social que vai ter na minha casa hoje à tarde. Não é nada muito grandioso, apenas comes e bebes e algumas apresentações dos meus funcionários.
— Isso seria muito agradável, mas infelizmente eu vou me encontrar com o prefeito pra decidir algumas mudanças no orfanato.
— Ah, que pena. — eu disse com desânimo.
— Mas eu sei que você quer que o Bernardo vá e eu posso deixá-lo com você se me prometer que vai ficar de olho nele.
— Sim, eu prometo! Eu vou mandar o motorista ir buscá-lo às 14:00, ok?
— Ele vai estar pronto. Até mais.
— Até e obrigada, Miranda.
— Imagina, querida.
{...}
A maioria das pessoas já havia chegado e eu conversava com algumas funcionárias enquanto esperava Christopher descer e me fazer companhia.
Não falamos sobre o incidente da noite anterior e eu preferia não forçar a ter essa conversa. No momento certo, Christopher teria certeza do seu amor.
— Olha só quem chegou! — ouvi a voz dele atrás de mim.
Na verdade, ele não estava anunciando a si mesmo, mas sim o Bernardo, que veio correndo até mim e me deu um forte abraço.
— Meu amor! Que lindo que você está! — falei me agachando para ficar da mesma altura que ele.
— Você está parecendo uma princesa, Dul! — sorriu. — Não acha, tio Christopher? — ele disse olhando para o Christopher.
— É a mulher mais linda do mundo. — falou com sinceridade.
Eu me recompus e sorri pra ele de forma serena.
— É verdade que vocês estão namorando? — Bernardo perguntou.
— Ah... — fiquei sem saber o que responder.
— Sim. — Christopher respondeu firme. Eu o olhei surpresa. — Nós estamos namorando. — me encarou.
— É, estamos. — falei com um sorriso bobo.
— Algo me diz que vocês não tinham certeza disso até agora, então... é uma honra oficializar essa união. — Bernardo falou abrindo os braços nos fazendo rir. — Acho que eu vou te chamar de tia Dul agora.
— Isso me deixaria muito feliz. — afaguei seus cabelos e dei um beijo em sua bochecha. — Quer conhecer a casa?
— Sim! O tio Christopher disse que você tem um super vídeo game! Eu preciso ver! — ele disse dando pulinhos.
— Senhorita Saviñon? — Rodolfo, meu mordomo, se aproximou. — Tem alguém querendo falar com a senhorita lá na sala de estar.
— E quem é?
— É melhor que a senhorita veja com os próprios olhos. — franzi a testa um pouco temerosa.
— Pode ir. — Christopher disse. — Eu vou levar o Bernardo pra comer alguns doces e depois, nós mostramos a casa pra ele. — eu assenti e após me dar um selinho, ele se afastou segurando a mão de Bernardo.
Segui até a parte interna da casa, em direção à sala de estar.
Paralisei assim que a vi, sentada confortavelmente, com suas roupas totalmente pretas, rodeada de malas e sustentando aquele olhar desafiador que por muito tempo eu imitei muito bem.
Ela sorriu, ficou de pé e como sempre fazia, ao invés de vir até mim, esperou que eu me aproximasse, mas eu me mantive estática.
— Não vai dar um beijo na sua mãe? — ela disse, abrindo os braços, me convidando a toca-la.