Christopher
Depois de Dulce ter entrado em casa, levei Bernardo até a mesa de doces e ele logo começou a se fartar de comida.
— Que sabor diferente. — ele disse.
— São doces veganos, não tem nada de origem animal.
— Então não é chocolate de verdade?
— É, só que com ingredientes diferentes.
— Legal. — sorriu e continuou a comer.
— De babá, Uckermann? — Henri se aproximou de mim.
— É da sua conta? — respondi áspero.
— Uau. — colocou a mão sobre o peito, fingindo estar ofendido. — Está nervoso, Uckermann? Isso é normal, já que vai competir com o melhor hoje. — orgulhou-se.
— Não sabia que eu estava competindo contra mim mesmo. — alfinetei.
— Muito engraçado. — ironizou. — Não importa que você esteja saindo com ela, isso não te garante nada. Para a Dulce, o profissionalismo é mais importante do que essas relações extraconjugais.
— Em primeiro lugar, eu e Dulce estamos namorando e não apenas saindo. — e assim o sorriso em seu rosto começou a se desfazer. — Em segundo lugar, não estou com ela com o intuito de garantir algo em benefício próprio. O único benefício que eu espero é poder estar junto da mulher por quem sou apaixonado. E em terceiro e último lugar, me provocar não faz você ser o melhor, só vai aumentar o grau da humilhação que irá sentir depois de perder para mim.
— Essa foi forte! — Bernardo riu enquanto assistia tudo.
— E quem é você? — Henri apoiou as mãos nos joelhos e agachou para olhar Bernardo de perto.
— O melhor amigo da sua chefe, então não olhe pra mim assim. — ele deu um peteleco no nariz de Henri e eu caí na risada.
— Pois é, Cortez. Não se mete com o protegido da Dulce. — eu disse.
— Ainda não posso acreditar que você está tão dentro da vida dela assim. — ele cerrou os olhos me encarando.
— Isso está tão sério que eu estou morando aqui faz uma semana.
— Não é verdade! — indagou incrédulo.
— Ela mesma me convidou. Pode perguntar se quiser.
— Dulce não faria isso.
— Você não a conhece.
— Que seja! Não vai ter a glória por muito tempo, Uckermann. — pegou um brigadeiro de cima da mesa e se virou indo embora.
— Que chato! — exclamou Bernardo.
— Nem me fale! Vamos conhecer alguém legal. — segurei sua mão e fui até onde Anahi estava.
— Annie!
— Christopher! — ela veio até mim e me deu um forte abraço. — E quem é esse rapaz lindo com você?
— Olá, moça. Me chamo Bernardo. — muito educado, ele estendeu a mão e os dois se cumprimentaram.
— E eu me chamo Anahi.
— Bernardo é uma das crianças do orfanato que a Dulce visita. — expliquei.
— Ela visita um orfanato? — franziu a testa surpresa.
— Você não sabia?
— Não. Enfim... você e Dulce são muito amigos? — perguntou olhando para Bernardo.
— Melhores amigos. — sorriu.
— Que incrível! — afagou os cabelos dele — E onde está a Dulce? — me perguntou.
— Foi atender alguém dentro da casa. Deve ser importante, já que o mordomo nem quis se atrever a anunciar.
— Tio Christopher, eu posso ir ver se ela já está desocupada? Prometo não interferir na conversa, só vou dar uma olhada. — me encarou com aqueles olhos pidões.
— Pode. — ele se despediu e saiu andando em direção à casa.
— Que menino doce! — Annie disse.
— Sim, ele é um amor. — sorri.
— Dulce deve gostar muito dele, a ponto de trazê-lo até aqui.
— Ela tem uma conexão especial com ele e você pode agradecer ao Bernardo pelas mudanças positivas da Dulce. Desde que ela o conheceu, parece estar muito mais completa.
— Desde que se apaixonou por você também. — deu um saquinho em meu ombro e eu sorri. — E como andam as coisas entre vocês?
— Nós estamos namorando.
— Sério? Desde quando?
— Desde hoje. — ri. — O Bernardo perguntou se a gente namorava e eu disse que sim. Agradeci aos céus quando ela confirmou.
— Awn, que fofo!
— E como vai a May?
— Ela ficou um pouco chateada depois que soube que você veio morar com a Dulce, mesmo que temporariamente. Mas eu vejo que ela está seguindo em frente e tentando sustentar uma imagem feliz.
— Ela se candidatou para a palestra?
— Não. Ela e o Christian acharam melhor não ficar sob a pressão dessa responsabilidade.
— Entendo. Não vi eles aqui, não vieram? — olhei em volta em busca dos dois.
— Acho que você vai gostar de saber que os dois andam mais próximos ultimamente... foram juntos passar o dia na praia.
— Isso é ótimo. — falei assentindo.
— Tio Christopher!! — Bernardo gritou correndo até mim.
— O que houve? — perguntei.
— Acho melhor você ir ver o que está acontecendo lá dentro. A tia Dul está discutindo com uma mulher mais velha que ela. Está gritando muito, eu até fiquei assustado.
Eu e Annie nos entreolhamos e logo começamos a caminhar até a casa.
A medida que chegávamos perto da sala de estar, o volume da voz de Dulce aumentava. Parecia estar morrendo de raiva.
— Eu só queria entender!! Só isso!! — gritou.
— Querida, eu... — outra voz feminina, parecendo mais calma, tentava conter a Dulce.
— Não me chame assim!! Você me deixou aqui!! Foi embora e me deixou aqui!! E só voltou porque precisa de ajuda!! Você só me procura quando precisa de mim!! — agora ela chorava. — Como consegue conviver consigo mesma, Mary??
— Mary? — Annie sussurrou ao meu lado. — Meu Deus, é Mary Saviñon, mãe dela.
— Pare de se precipitar, Dulce Maria! — Mary gritou.
— Por que mais você estaria aqui?? Eu te conheço, Mary!!
— Me conhece porque é igualzinha à mim!!
— Não mais. Nunca mais. — ela disse com firmeza.
— Como assim "igual"? — perguntei para a Annie.
— Dizem que a Dulce só era megera porque a Mary a ensinou a ser assim.
— Sei, acho que a Catarina já me disse algo sobre isso.
Agora as duas berravam alto e ao mesmo tempo, tornando a conversa impossível de ser compreendida. Eu precisava intervir antes que as coisas piorassem.
Entrei na sala e Anahi veio atrás de mim.
— Por favor, as duas poderiam se acalmar?? — abafei a voz delas e logo elas se calaram.
— E quem é você? — Mary me perguntou com desdém em sua voz.
— Meu namorado. — Dulce veio até mim e enlaçou seu braço no meu.
— E como o seu namorado se chama?
— Christopher Uckermann. — eu respondi.
— "Uckermann"? — franziu a testa. — Não me lembro de ter ouvido esse sobrenome por aí.
— Deve ser porquê o Christopher não é um grande empresário, ou artista. Ele é só um homem comum, que trabalha para mim na empresa. — Dulce sorriu, quase como se quisesse se gabar para a mãe.
— Um funcionário? — Mary me olhou de cima a baixo. — Dulce, você só pode estar louca! — riu. — Você nunca ficaria com um funcionário.
— Viu mamãe? Eu não sou igual a você! — sorriu vitoriosa.
— Será que a gente pode conversar? — perguntei para a Dulce.
— Claro, meu bem. Annie, pode fazer companhia para a Mary?
— Sim, Dulce.
Nós dois subimos até seu quarto e depois de fechar a porta atrás de mim, eu a encarei com os braços cruzados.
— O que foi? — ela perguntou.
— O que foi aquilo com a sua mãe? Por que parecia que você estava querendo esfregar o nosso namoro na cara dela? — perguntei sério, mostrando que não havia gostado daquilo.
— Eu não quero que você me leve a m*l. — ela se aproximou e enlaçou seus braços em meu pescoço. — A minha mãe é uma megera. Ela tem horror à pessoas de classe média ou baixa. Eu só queria mostrar que eu não sou igual à ela.
— Mas você já foi. Naquele dia que a gente se beijou no elevador...
— Christopher. — me interrompeu. — Não vamos falar disso, por favor. Me odeio por ter dito aquelas coisas. Eu vivia numa bolha onde eu achava que ninguém abaixo do meu poder econômico podia entrar. E era esse pensamento que me tornava uma mulher tão solitária e tão m*l vista. Eu mudei. — sorriu fraco.
— Eu sei. Mas até onde você mudou? — tirei os braços dela dos meus ombros e sentei na cama. — A mulher que acabou de me usar pra irritar a própria mãe não me pareceu alguém de coração puro.
— Olha, me perdoa. — ela se ajoelhou entre minhas pernas. — Eu não quis magoar você, te juro. Talvez eu não tenha percebido que agir assim fosse algo r**m. Por favor, me desculpa! — implorou.
— Eu só não quero me sentir usado. Estou com você pelo que representa pra mim, não pelo que representa para os outros. Não quero me decepcionar.
— Você não vai, eu prometo! Me perdoa?
— Sim. — ela sorriu, ficou de pé e sentou em meu colo.
— Meu relacionamento com a minha mãe é muito complexo. A única maneira que eu encontrei de me defender de suas críticas foi agindo da mesma forma que ela. — seu olhar estava distante, como se tudo aquilo doesse.
— É exatamente isso que ela quer. Que você seja igual à ela. Então, minha querida, você tem que ser o contrário. Trate a sua mãe como se fosse uma mãe como todas as outras, não a trate como uma inimiga.
— Eu sempre cuidei dela e todas as vezes que ela me ligou, nós tivemos boas conversas, mas era só isso. Nunca pensei que ela voltaria.
— Mas é claro que ela voltaria, ela é a sua mãe. — citei o óbvio.
— Você não sabe nada sobre a minha família, Christopher. — fiquei em silêncio. — Obrigada por estar aqui comigo. Você me acalma.
Acariciei o seu rosto e a trouxe para mim, lhe dando um beijo carinhoso que pudesse lhe transmitir confiança e que pudesse lhe dizer que eu estava aqui e sempre estaria, aconteça o que acontecer.
— Eu te amo. — ela sussurrou sobre os meus lábios, ainda com os olhos fechados.
Senti como se uma rajada de vento adentrasse a minha pele e uma camada de êxtase tremeu em meu estômago.
Ouvir aquelas palavras saindo dos lábios dela era a melhor sensação que já tive em minha vida. Como se todos os meus desejos mais profundos estivessem se realizando.
Tornei a beija-la com mais fervor, apertando seu corpo contra o meu, não deixando nenhum espaço entre nós.
Aos poucos, ela foi me deitando na cama, sem cessar os nossos beijos.
Batidas frenéticas na porta fizeram com que nós parássemos o que estávamos fazendo.
— Dulce?? Sua mãe quer entrar no quarto! — Anahi gritou do outro lado.
— Por que ela quer entrar aqui? — perguntei.
— Claro, porque o quarto era dela antes de ela ir embora e agora ela o quer de volta. — Dulce revirou os olhos e saiu de cima de mim, caminhando em direção à porta.
— Ei? — a chamei antes que ela abrisse.
— Sim?
— Eu também te amo.
E então seu rosto se acendeu, sendo tomado por um brilho e um sorriso suave, que transbordava satisfação.
Dizer aquelas palavras e poder fazer com que ela soubesse que eu a amava era muito mais gratificante do que eu imaginei. E eu diria aquilo o máximo de vezes possíveis enquanto eu vivesse.