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1985 Palavras
Christopher  Depois de Dulce ter entrado em casa, levei Bernardo até a mesa de doces e ele logo começou a se fartar de comida.  — Que sabor diferente. — ele disse.  — São doces veganos, não tem nada de origem animal.  — Então não é chocolate de verdade?  — É, só que com ingredientes diferentes.  — Legal. — sorriu e continuou a comer.  — De babá, Uckermann? — Henri se aproximou de mim.  — É da sua conta? — respondi áspero.  — Uau. — colocou a mão sobre o peito, fingindo estar ofendido. — Está nervoso, Uckermann? Isso é normal, já que vai competir com o melhor hoje. — orgulhou-se.  — Não sabia que eu estava competindo contra mim mesmo. — alfinetei.  — Muito engraçado. — ironizou. — Não importa que você esteja saindo com ela, isso não te garante nada. Para a Dulce, o profissionalismo é mais importante do que essas relações extraconjugais.  — Em primeiro lugar, eu e Dulce estamos namorando e não apenas saindo. — e assim o sorriso em seu rosto começou a se desfazer. — Em segundo lugar, não estou com ela com o intuito de garantir algo em benefício próprio. O único benefício que eu espero é poder estar junto da mulher por quem sou apaixonado. E em terceiro e último lugar, me provocar não faz você ser o melhor, só vai aumentar o grau da humilhação que irá sentir depois de perder para mim.  — Essa foi forte! — Bernardo riu enquanto assistia tudo.  — E quem é você? — Henri apoiou as mãos nos joelhos e agachou para olhar Bernardo de perto.  — O melhor amigo da sua chefe, então não olhe pra mim assim. — ele deu um peteleco no nariz de Henri e eu caí na risada.  — Pois é, Cortez. Não se mete com o protegido da Dulce. — eu disse.  — Ainda não posso acreditar que você está tão dentro da vida dela assim. — ele cerrou os olhos me encarando.  — Isso está tão sério que eu estou morando aqui faz uma semana.  — Não é verdade! — indagou incrédulo.  — Ela mesma me convidou. Pode perguntar se quiser.  — Dulce não faria isso.  — Você não a conhece.  — Que seja! Não vai ter a glória por muito tempo, Uckermann. — pegou um brigadeiro de cima da mesa e se virou indo embora.  — Que chato! — exclamou Bernardo.  — Nem me fale! Vamos conhecer alguém legal. — segurei sua mão e fui até onde Anahi estava.  — Annie!  — Christopher! — ela veio até mim e me deu um forte abraço. — E quem é esse rapaz lindo com você?  — Olá, moça. Me chamo Bernardo. — muito educado, ele estendeu a mão e os dois se cumprimentaram.  — E eu me chamo Anahi.  — Bernardo é uma das crianças do orfanato que a Dulce visita. — expliquei.  — Ela visita um orfanato? — franziu a testa surpresa.  — Você não sabia?  — Não. Enfim... você e Dulce são muito amigos? — perguntou olhando para Bernardo.  — Melhores amigos. — sorriu.  — Que incrível! — afagou os cabelos dele — E onde está a Dulce? — me perguntou.  — Foi atender alguém dentro da casa. Deve ser importante, já que o mordomo nem quis se atrever a anunciar.  — Tio Christopher, eu posso ir ver se ela já está desocupada? Prometo não interferir na conversa, só vou dar uma olhada. — me encarou com aqueles olhos pidões.  — Pode. — ele se despediu e saiu andando em direção à casa.  — Que menino doce! — Annie disse.  — Sim, ele é um amor. — sorri.  — Dulce deve gostar muito dele, a ponto de trazê-lo até aqui.  — Ela tem uma conexão especial com ele e você pode agradecer ao Bernardo pelas mudanças positivas da Dulce. Desde que ela o conheceu, parece estar muito mais completa.  — Desde que se apaixonou por você também. — deu um saquinho em meu ombro e eu sorri. — E como andam as coisas entre vocês?  — Nós estamos namorando.  — Sério? Desde quando?  — Desde hoje. — ri. — O Bernardo perguntou se a gente namorava e eu disse que sim. Agradeci aos céus quando ela confirmou.  — Awn, que fofo!  — E como vai a May?  — Ela ficou um pouco chateada depois que soube que você veio morar com a Dulce, mesmo que temporariamente. Mas eu vejo que ela está seguindo em frente e tentando sustentar uma imagem feliz.  — Ela se candidatou para a palestra?  — Não. Ela e o Christian acharam melhor não ficar sob a pressão dessa responsabilidade.  — Entendo. Não vi eles aqui, não vieram? — olhei em volta em busca dos dois.  — Acho que você vai gostar de saber que os dois andam mais próximos ultimamente... foram juntos passar o dia na praia.  — Isso é ótimo. — falei assentindo.  — Tio Christopher!! — Bernardo gritou correndo até mim.  — O que houve? — perguntei.  — Acho melhor você ir ver o que está acontecendo lá dentro. A tia Dul está discutindo com uma mulher mais velha que ela. Está gritando muito, eu até fiquei assustado.  Eu e Annie nos entreolhamos e logo começamos a caminhar até a casa.  A medida que chegávamos perto da sala de estar, o volume da voz de Dulce aumentava. Parecia estar morrendo de raiva.  — Eu só queria entender!! Só isso!! — gritou.  — Querida, eu... — outra voz feminina, parecendo mais calma, tentava conter a Dulce.  — Não me chame assim!! Você me deixou aqui!! Foi embora e me deixou aqui!! E só voltou porque precisa de ajuda!! Você só me procura quando precisa de mim!! — agora ela chorava. — Como consegue conviver consigo mesma, Mary??  — Mary? — Annie sussurrou ao meu lado. — Meu Deus, é Mary Saviñon, mãe dela.  — Pare de se precipitar, Dulce Maria! — Mary gritou.  — Por que mais você estaria aqui?? Eu te conheço, Mary!!  — Me conhece porque é igualzinha à mim!!  — Não mais. Nunca mais. — ela disse com firmeza.  — Como assim "igual"? — perguntei para a Annie.  — Dizem que a Dulce só era megera porque a Mary a ensinou a ser assim.  — Sei, acho que a Catarina já me disse algo sobre isso.  Agora as duas berravam alto e ao mesmo tempo, tornando a conversa impossível de ser compreendida. Eu precisava intervir antes que as coisas piorassem.  Entrei na sala e Anahi veio atrás de mim.  — Por favor, as duas poderiam se acalmar?? — abafei a voz delas e logo elas se calaram.  — E quem é você? — Mary me perguntou com desdém em sua voz. — Meu namorado. — Dulce veio até mim e enlaçou seu braço no meu.  — E como o seu namorado se chama?  — Christopher Uckermann. — eu respondi.  — "Uckermann"? — franziu a testa. — Não me lembro de ter ouvido esse sobrenome por aí.  — Deve ser porquê o Christopher não é um grande empresário, ou artista. Ele é só um homem comum, que trabalha para mim na empresa. — Dulce sorriu, quase como se quisesse se gabar para a mãe.  — Um funcionário? — Mary me olhou de cima a baixo. — Dulce, você só pode estar louca! — riu. — Você nunca ficaria com um funcionário.  — Viu mamãe? Eu não sou igual a você! — sorriu vitoriosa.  — Será que a gente pode conversar? — perguntei para a Dulce.  — Claro, meu bem. Annie, pode fazer companhia para a Mary?  — Sim, Dulce.  Nós dois subimos até seu quarto e depois de fechar a porta atrás de mim, eu a encarei com os braços cruzados.  — O que foi? — ela perguntou.  — O que foi aquilo com a sua mãe? Por que parecia que você estava querendo esfregar o nosso namoro na cara dela? — perguntei sério, mostrando que não havia gostado daquilo.  — Eu não quero que você me leve a m*l. — ela se aproximou e enlaçou seus braços em meu pescoço. — A minha mãe é uma megera. Ela tem horror à pessoas de classe média ou baixa. Eu só queria mostrar que eu não sou igual à ela.  — Mas você já foi. Naquele dia que a gente se beijou no elevador...  — Christopher. — me interrompeu. — Não vamos falar disso, por favor. Me odeio por ter dito aquelas coisas. Eu vivia numa bolha onde eu achava que ninguém abaixo do meu poder econômico podia entrar. E era esse pensamento que me tornava uma mulher tão solitária e tão m*l vista. Eu mudei. — sorriu fraco.  — Eu sei. Mas até onde você mudou? — tirei os braços dela dos meus ombros e sentei na cama. — A mulher que acabou de me usar pra irritar a própria mãe não me pareceu alguém de coração puro.  — Olha, me perdoa. — ela se ajoelhou entre minhas pernas. — Eu não quis magoar você, te juro. Talvez eu não tenha percebido que agir assim fosse algo r**m. Por favor, me desculpa! — implorou.  — Eu só não quero me sentir usado. Estou com você pelo que representa pra mim, não pelo que representa para os outros. Não quero me decepcionar.  — Você não vai, eu prometo! Me perdoa?  — Sim. — ela sorriu, ficou de pé e sentou em meu colo.  — Meu relacionamento com a minha mãe é muito complexo. A única maneira que eu encontrei de me defender de suas críticas foi agindo da mesma forma que ela. — seu olhar estava distante, como se tudo aquilo doesse.  — É exatamente isso que ela quer. Que você seja igual à ela. Então, minha querida, você tem que ser o contrário. Trate a sua mãe como se fosse uma mãe como todas as outras, não a trate como uma inimiga.   — Eu sempre cuidei dela e todas as vezes que ela me ligou, nós tivemos boas conversas, mas era só isso. Nunca pensei que ela voltaria.  — Mas é claro que ela voltaria, ela é a sua mãe. — citei o óbvio.  — Você não sabe nada sobre a minha família, Christopher. — fiquei em silêncio. — Obrigada por estar aqui comigo. Você me acalma.  Acariciei o seu rosto e a trouxe para mim, lhe dando um beijo carinhoso que pudesse lhe transmitir confiança e que pudesse lhe dizer que eu estava aqui e sempre estaria, aconteça o que acontecer.  — Eu te amo. — ela sussurrou sobre os meus lábios, ainda com os olhos fechados.  Senti como se uma rajada de vento adentrasse a minha pele e uma camada de êxtase tremeu em meu estômago. Ouvir aquelas palavras saindo dos lábios dela era a melhor sensação que já tive em minha vida. Como se todos os meus desejos mais profundos estivessem se realizando.  Tornei a beija-la com mais fervor, apertando seu corpo contra o meu, não deixando nenhum espaço entre nós.  Aos poucos, ela foi me deitando na cama, sem cessar os nossos beijos.  Batidas frenéticas na porta fizeram com que nós parássemos o que estávamos fazendo.  — Dulce?? Sua mãe quer entrar no quarto! — Anahi gritou do outro lado.  — Por que ela quer entrar aqui? — perguntei.  — Claro, porque o quarto era dela antes de ela ir embora e agora ela o quer de volta. — Dulce revirou os olhos e saiu de cima de mim, caminhando em direção à porta.  — Ei? — a chamei antes que ela abrisse.  — Sim?  — Eu também te amo.  E então seu rosto se acendeu, sendo tomado por um brilho e um sorriso suave, que transbordava satisfação.  Dizer aquelas palavras e poder fazer com que ela soubesse que eu a amava era muito mais gratificante do que eu imaginei. E eu diria aquilo o máximo de vezes possíveis enquanto eu vivesse.
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