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1538 Palavras
Dulce  Como Christopher havia sugerido, pela tarde eu fiz uma visita ao orfanato e aproveitei bastante a companhia do Bernardo.  O resto do meu domingo foi regado de um bom vinho e uma maratona dos episódios da minha série preferida.  Na segunda, cheguei cedo à empresa e fui direto para a minha sala, disposta a trabalhar sem interrupções. Mas meus planos foram quebrados por uma visita inesperada e um tanto quanto desagradável.  Confesso que apenas autorizei a entrada dela porque fiquei curiosa com o fato de ela estar ali, levando em consideração que Catarina detestava pisar em solo rival.  — Ao que devo à honra de sua ilustre visita, Morgan? — eu disse com todo o sarcasmo possível.  — Me poupe, Dulce. — revirou os olhos e em seguida, sentou na cadeira em minha frente. — O governo já começou a organizar aquele evento anual celebrando a publicidade e a propaganda. E eu, Catarina Morgan, fui convocada para chefiar a coordenação do evento. — falou com orgulho. — Esse ano as empresas publicitárias deverão palestrar e dar a melhor visão de si sobre o que é a propaganda.  — Vão fazer a gente palestrar? Argh! — arfei com desgosto.  — Não, bobinha. Não precisa ser obrigatoriamente o dono da empresa, nós podemos escolher um dos nossos funcionários.  — era estranho ver ela tão animada com aquilo.  — Por que você parece tão feliz?  — Porque a empresa que se sair melhor, ganhará pontos com os clientes do estado inteiro. É como uma competição indireta e eu sei que você vai amar fazer isso.  — Pode ser. — dei de ombros.  — Aqui está o seu convite. — ela me entregou um envelope dourado. — Boa sorte com a palestra, Dulce. — levantou-se. — Ah, antes de ir... tem uma coisa que eu quero te perguntar.  — O que?  — Você sentiu o mesmo que eu com o Christopher? — sorriu. Eu continuei séria. — O que? Achou que o Allan não me contaria? — riu. — Sempre soube que morria de inveja de mim.  — Inveja de você? — gargalhei. — Vai embora logo.  — Você o odiava, mas foi só saber que saí com ele que as coisas mudaram, não é? E ele é tão hipócrita! Sempre deixou claro que te achava um ser humano horrível e agora transa com você? Homem é uma desgraça.  — Ele falava isso de mim pra você? — aquilo me entristeceu.  — Todo mundo fala isso de você. Enfim... melhor eu ir. Só vou deixar avisado, Dulce, que se ele quiser outra noite comigo eu não vou negar. Aquele homem é uma delícia. — me provocou.  — Tá, dane-se. — disse despreocupada. — Pode sair? — apontei para a porta.  — Tenha um bom dia, Dulcinha. — deu uma piscadela antes de sair. Eu não ia deixar ela me infernizar, mas saber que Christopher me desprezou tanto ao ponto de falar m*l de mim com ela me deixou muito m*l. É claro que ele nunca escondeu suas opiniões de mim, mas compartilhar isso com Catarina fazia aumentar o desprezo que ele sentia. Me pergunto se ainda existem resquícios dessas opiniões dentro dele.  {...} Convoquei uma reunião com os diretores pela tarde, para decidirmos como realizar e quem faria a palestra nesse evento. Eu queria me destacar e sem sombra de dúvida conseguiria.  Assim que coloquei a mão na maçaneta para sair da minha sala, a porta foi aberta e Christopher entrou.  — Ia sair? — perguntou.  — Vou ter uma reunião agora.  — Antes eu posso te pedir uma coisa? É rápido.  — O que?  — Posso sair mais cedo? É que eu vou procurar um novo apartamento e a imobiliária fecha cedo. — Você vai se mudar? — franzi a testa.  — É... o clima em casa não tá muito legal e eu não sou obrigado a viver sendo tratado igual um saco de lixo, não é? — riu. — Além disso, já tá mais do que na hora de procurar meu próprio canto.  — Sinto muito por você ter que fazer isso. Sei que é por minha causa. — falei sem jeito.  — Não, não é por sua causa. Anahi e Maitê que são muito exageradas. — ele enlaçou minha cintura. — Quero começar a procurar logo, sei que esses contratos demoram até um mês pra sair.  — Eu tenho uma ideia... — sorri.  — Que ideia?  — E se você ficasse um tempo na minha casa? Pelo menos até encontrar um apartamento novo.  — Uau... — ele desviou o olhar. — Essa é uma decisão importante, levando em consideração que a gente tá se conhecendo melhor.  — Não pense dessa forma, pense que é apenas um favor que eu estou te fazendo. A gente não vai se casar. — dei risada.  — Não? — franziu a testa.  — Er... bem... — comecei a ficar nervosa.  — Estou brincando. — riu e eu pude relaxar. — Eu posso pensar na sua proposta?  — Claro.  — De qualquer forma, obrigado. — ele se aproximou e me beijou por um breve momento. — Agora eu vou te deixar trabalhar, chefinha. — ele se afastou e abriu a porta para que eu passasse primeiro.  Quando nós dois saímos da sala, Anahi que antes estava distraída em seus afazeres, nos olhou com a boca levemente aberta e com um olhar que escondia uma chama de raiva que eu reconhecia bem.  Ela teria que se acostumar a me ver junto com ele, pois eu faria questão que todos ficassem cientes de que agora Christopher pertencia à alguém. E esse alguém era muito perigosa.  Caminhamos juntos até a porta da sala de reuniões.  — Christopher? — o chamei quando ele já estava indo embora.  — Sim?  — Você viu a Catarina aqui hoje? — esfreguei meu braço esquerdo tentando minimizar a ansiedade.  — Vi ela entrando na sua sala.  — Ah... — um silêncio constrangedor se fez presente.  — Tá... eu preciso perguntar... o que ela queria?  — Ela tá chefiando a coordenação de um evento publicitário que o governo faz todos os anos e veio aqui me entregar o convite da empresa.  — E precisava ela vir pessoalmente? — franziu a testa.  — Não, mas a Catarina adora ter um pretexto pra me incomodar.  — A reunião de agora é sobre esse evento?  — Sim. Cada empresa precisa mandar alguém palestrar sobre a própria visão publicitária, então eu convoquei os diretores pra nós escolhermos a pessoa mais qualificada.  — Essa pessoa não seria você? — riu. — É a dona da empresa.  — Eu não sou muito boa falando com as pessoas. — ri sem jeito.  — Eu não vou discordar. — ele sorriu, mas eu fiquei séria e lembrei das palavras de Catarina.  — Você ainda me acha uma pessoa r**m? — tinha medo da resposta, mas precisava saber.  — O que? Por que tá perguntando isso? — questionou confuso.  — É que eu não quero que você me veja com maus olhos... — fitei o chão.  — Ei, Dulce. — ele se aproximou e segurou meu rosto para que eu o olhasse. — Você é uma mulher de personalidade forte e isso assusta as pessoas, dá sim uma má impressão, mas isso é por causa do preconceito em achar que mulheres têm que ser frágeis o tempo inteiro. Você já fez algumas coisas cruéis, isso é fato. Mas é notável que você está tentando mudar e está conseguindo. Vejo em você uma das melhores pessoas que eu já conheci. Eu só precisava... te conhecer. — sorriu com ternura.  — Você é incrível.  Sem me importar com o fato de estarmos no ambiente de trabalho, eu o beijei ali mesmo no meio do corredor. E de forma instantânea, ele me apertou contra si e devolveu com toda a paixão do mundo.  Ser agraciada com o toque daqueles lábios valia mais do que qualquer coisa que eu tivesse.  Mais do que o meu dinheiro, mais do que o legado que meu sobrenome carregava e mais do que toda a dureza que eu guardava em meu coração.  Christopher estava me tornando alguém melhor e isso era inegável. Tive muita sorte em encontrá-lo. Nos soltamos do beijo com um sorriso satisfatório em nossos rostos. Mas de repente, o rosto dele se escureceu quando ele olhou por cima do meu ombro, para o final do corredor. Me virei e encarei o rosto de Maitê, que estava enrijecido e quase chocado por ter presenciado a cena. Ela deu as costas rapidamente e saiu andando.  — Vai falar com ela? — perguntei com receio.  — Não. Ela vai ter que se acostumar com isso, porque eu vou ficar com você por muito tempo. — sorrimos e nos abraçamos.  — Agora vai trabalhar, mocinho. — dei um peteleco em seu nariz.  — É pra já, chefinha. — me deu um selinho e saiu andando.  A reunião foi extensa e nós acabamos optando por convocar um funcionário do meio criativo da empresa. As outras empresas provavelmente mandariam um diretor executivo, mas nossa cartada seria mandar um funcionário que trabalhasse num setor mais direto com as propagandas. Alguém que não perdeu a alma do negócio. Seria uma jogada de destaque para nós.
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