Christopher
Acordei e depois de perceber que Dulce já havia levantado, peguei minhas roupas do chão, vesti a calça, calcei meus sapatos e saí do quarto sem camisa mesmo, certo de que encontraria apenas a Dulce em casa.
Mas a medida que me aproximava da escada, eu ouvia uma voz masculina conversar com ela.
E não gostei nada quando notei o tom galanteador da parte dele.
Me enfiei no final da conversa e a expressão no rosto de Allan não pareceu nada agradável.
— E quem é você? — ele perguntou.
— Christopher Uckermann. — respondi. — Você não precisa se apresentar. Sei exatamente quem você é.
— Claro que sabe. Como o seu sobrenome não me é estranho, deduzo que me reconheceu das fotos que viu em minha casa, quando Catarina te levou lá. — ouvi Dulce arfar desconfortavelmente com a menção do meu breve relacionamento com Catarina.
— Perde tempo decorando os nomes dos homens que saem com a sua irmã? Deve ser algo cansativo. Ouvi falar que a lista é imensa.
— alfinetei e ele escureceu ainda mais sua expressão.
— Ouviu falar? Até imagino onde. — ele olhou de relance para a Dulce.
— Só falei a verdade. — ela disse.
— E é verdade que a Catarina atrai muitos pretendentes. Ela possui um charme em seu sangue. — ele disse orgulhoso.
— Também é de família a mão leve que passa pelo corpo de qualquer um. — falou Dulce com um sorriso sarcástico no rosto.
— Você me subestima tanto, Dulcinha. — franzi a testa sem acreditar que ele havia usado aquele tom.
— Já percebeu que a dona da casa não te quer aqui? Pelo amor de Deus, se arraste aos pés de outra pessoa. — cruzei os braços.
— Isso mesmo. — Dulce empurrou o buquê que possivelmente ele havia trazido, em seu rosto.
— Só vou porque você pediu com carinho. — ele disse e Dulce instantaneamente revirou os olhos. — Vou mandar lembranças de você à Catarina, Uckermann. — falou caminhando em direção à porta.
Ignorei aquela provocação e assim que ouvi a porta bater, eu agarrei a cintura de Dulce e a coloquei contra a parede, lhe arrancando um beijo cheio de fúria, que descarregava a tensão formada por aquele crápula.
Ela envolveu uma de suas pernas em minha cintura e nós nos encaixamos ainda mais, seguindo o ritmo cheio de paixão do nosso beijo.
Parei o beijo quando ambos estávamos ofegantes.
— Uau... — ela disse com um sorriso de canto.
— Bom dia pra você também. — dei risada e depositei um beijo em sua testa.
— O que ele queria com você? Não ouvi toda a conversa.
— Veio me convidar pra almoçar. Acredita nisso? Ele acha que me engana com o papinho de querer reaver nossa antiga amizade. — falou com desgosto. — Eu o odeio e sei que ele também sente o mesmo por mim.
— Ele acha que você é o que? Tapada? — ri. — Só espero que agora ele fique ciente de que você está focada em interesses bem distantes dele.
— Com certeza. — ela sorriu e me deu um selinho demorado. — Fiz café da manhã pra gente.
— É quase hora do almoço. — falei olhando meu relógio de pulso.
— Eu posso pedir algo pra gente comer depois.
— Dulce, eu não posso ficar o dia inteiro aqui. Tenho alguns trabalhos que preciso adiantar.
— me expliquei.
— Não precisa, eu aumento o seu prazo. — falou despreocupada.
— Dulce...
— E então? O que você quer no almoço? — ela andou até o telefone da sala.
— Dulce...
— Qual restaurante você prefere? Vai comer comida vegana como eu? Confesso que eu iria preferir que você optasse por algo vegano. — riu.
— Dulce, me escuta. — segurei os braços dela pra que parasse de falar.
— Qual o problema? — franziu a testa.
— Eu tenho mesmo que trabalhar e eu prefiro que você não me dê privilégios dentro da empresa só porque a gente tá saindo.
— Mas eu faço o que eu quiser lá dentro.
— Eu sei e por isso mesmo eu prefiro que a relação entre funcionário e chefe continue sendo totalmente profissional. Vamos separar as coisas. Não quero te dar a impressão de estar com você por interesse.
— Bem, se você prefere assim. — deu de ombros.
— Sim, eu prefiro. Melhor eu ir pra casa agora.
— E o que eu vou fazer pelo resto do dia? Não queria ficar sozinha. — fez bico.
— Princesa, eu sinto muito. — suspirei. — E se você fosse ver o Bernardo?
— É uma boa ideia. — sorriu.
— Ótimo. Te vejo amanhã.
Lhe dei um último beijo e depois de nos despedirmos, eu dirigi até em casa.
Abri a porta de casa e avistei Annie assistindo televisão. Ela me olhou de relance, com um semblante sério.
Resolvi não falar com ela e fui direto para a cozinha. Mas para o meu azar, ela faria questão de me cutucar o quanto pudesse.
Abri a porta do armário, peguei uma caixa de biscoitos e assim que fechei, lá estava ela, de braços cruzados e me encarando.
— Bom dia, Anahi. — eu disse me sentando no balcão.
— Não acredito que dormiu com ela! — esbravejou.
— Olha, não enche o meu saco, tá?
— Mas é claro que eu vou te encher! Nunca vou te perdoar pelo que fez com a May!
— Quer saber? — a encarei. — Faz o que você quiser! Eu tô muito feliz, tive uma noite maravilhosa e com toda certeza vou continuar saindo com a Dulce.
— Que audácia! — berrou.
— O que você quer que eu faça? Quer que eu finja que estou apaixonado pela Maitê?
— Você só devia ter sido mais justo!
— Eu sei e eu sinto muito! — aumentei o tom de voz. — Admito que errei e me arrependi por isso! Eu não posso mudar o passado, Annie! Então, não adianta você ficar reclamando no meu ouvido o quanto eu sou uma pessoa r**m! Isso não muda as coisas! — vi nos olhos dela que não sabia o que responder, mas ainda me olhava com fúria. — O que eu tenho que fazer pra você me deixar em paz?
— Vai se ferrar.
Depois de me xingar, ela deu as costas e me deixou sozinho.
Suspirei pesadamente e desisti de comer. Guardei os biscoitos e fui direto para o meu quarto.
Tomei um banho, peguei meu material de trabalho e fui até a sala.
— E aí, irmão! — Christian entrou pela porta da frente.
— E aí. — respondi.
— A gente vai pedir comida ou alguém vai cozinhar? — eu sabia que aquilo havia sido uma indireta.
— Pede comida aí, tô muito ocupado pra preparar a sua papinha agora, neném. — brinquei.
— Qual é, você tá saindo com a patroa. Podia deslizar um pouquinho.
— Nada disso. Separo totalmente o meu profissional do meu pessoal.
— Se isso fosse verdade, você não estaria transando com a sua chefe. — riu. Peguei uma almofada e joguei nele.
— Para de ser i****a. Pede a comida logo!
Não demorou muito até que o almoço chegasse. Maitê e Anahi saíram de seus quartos e foram para a cozinha assim que Christian avisou que a comida estava na mesa.
Fui alguns minutos depois. Os três já estavam sentados na mesa com seus devidos pratos.
Peguei um prato e sentei entre Christian e Anahi.
— Tô morto de fome! — falei.
— Claro, gastou muitas energias ontem à noite e não comeu nada quando chegou. — Annie me alfinetou. A olhei com os olhos cerrados. Vi o quanto Maitê ficou desconfortável com esse comentário.
— Annie, a gente pode comer no meu quarto?
— ela perguntou.
— Claro.
As duas levantaram e eu as acompanhei com o olhar até que sumissem da minha visão.
— Agora vai ser assim? Uma vai ficar me atacando o tempo todo e a outra vai me dar um gelo? — falei me virando na direção de Christian.
— Mulher é assim mesmo, uma hora elas te perdoam e tudo volta ao normal.
— Você acha?
— Cara, você é o melhor amigo da Annie e a May te adora. Elas não vão ficar de birra com você pra sempre.
— Assim espero.
Terminei de almoçar junto com Christian e depois voltei aos meus afazeres profissionais.
No dia seguinte, as duas saíram de ônibus bem mais cedo e apenas Christian foi comigo de carro. A birra era real e séria.
No meio da manhã, eu saí da minha sala com o intuito de buscar um café para mim, quando saindo do elevador, eu avistei um par de pernas bastante familiar vindo em minha direção.
Assim que ela passou por mim, eu a observei com a testa franzida, até que ela abrisse a porta que dava acesso à secretaria da sala de Dulce.
Antes de entrar, Catarina virou o rosto na minha direção e deu uma piscadela.
— Mas que porra...? — indaguei confuso.