Tyler
Ao entrar na cozinha, a exaustão pesa sobre meus ombros como um fardo invisível. m*l tive tempo de processar a presença de Carter resmungando algo sobre a hora matinal quando noto um movimento perto da porta.
Minha atenção se afia.
Por um segundo, acho que estou delirando de cansaço, mas não.
Há uma mulher na minha cozinha.
Uma mulher usando um vestido de noiva.
E, por algum motivo, ela está tentando fugir.
Um milhão de perguntas explodem na minha mente ao mesmo tempo em que meu corpo age por instinto. Dou dois passos rápidos e intercepto sua saída, minha mão se fechando com firmeza, mas sem força, ao redor de seu braço.
— Espera aí. Aonde você pensa que está indo? — Minha voz carrega a surpresa que ainda estou tentando processar.
Ela congela. Seus olhos arregalados refletem puro pânico.
— Eu... eu sou Ailyn. — Sua voz treme. — Eu não sei como cheguei aqui. Mas eu preciso ir.
Minhas sobrancelhas se franzem, a confusão se aprofundando.
Carter, ainda m*l-humorado, resmunga atrás de mim:
— Ela deixou de fora a parte em que estava invadindo uma propriedade privada. Não podemos simplesmente deixá-la ir sem obter algumas respostas.
Ele está certo. Isso não faz sentido.
Solto seu braço e dou um passo para trás, tentando avaliar melhor a situação. Há algo nela — na forma como ela se mantém rígida, no brilho hesitante em seus olhos — que me diz que não estamos lidando apenas com uma invasora comum.
— Senta — digo, indicando uma cadeira.
Ailyn hesita, mas obedece. O contraste entre o vestido elegante e a madeira rústica gasta da cadeira me faz perceber o quão deslocada ela parece aqui.
Então, ela olha para mim e para Andrew, e seus olhos se estreitam.
— Espera… vocês são gêmeos idênticos.
Andrew solta um suspiro exagerado.
— Ótimo, você tem olhos.
Mas Ailyn continua me encarando.
Sem fazer nada, essa mulher já conseguiu entrar na minha pele.
Respiro fundo, mantendo meu tom controlado.
— Ailyn, precisamos entender o que aconteceu. Como você veio parar na nossa casa? Por que estava tentando fugir?
Ela umedece os lábios, o olhar piscando de um lado para o outro, como se calculasse as palavras antes de soltá-las.
— Eu… eu não queria invadir. — Sua voz é baixa, mas carregada de tensão. — É que... eu precisava de um lugar seguro.
Lugar seguro.
Minhas costas enrijecem.
Carter se inclina para frente, os braços cruzados sobre o peito.
— Seguro de quê, Ailyn?
Ela desvia o olhar.
— Eu… eu não posso dizer isso. É… complicado.
— Complicado? — Carter solta um riso sem humor e revira os olhos.
— Por favor — ela insiste, sua voz implorando. — Você tem que confiar em mim.
Confiança.
Esse fio frágil que agora balança entre nós, oscilando entre a verdade e a mentira.
Troco um olhar com Carter, que claramente não está convencido.
Eu poderia pressioná-la mais. Poderia forçá-la a falar. Mas há algo na sua postura, na maneira como seus dedos se fecham contra o tecido do vestido, que me faz hesitar.
Ela está assustada.
Para ela, nós somos a ameaça.
Três homens corpulentos, tatuados, quase o dobro da sua idade, praticamente a interrogando em um espaço desconhecido.
Não posso culpá-la por se retrair.
Solto um longo suspiro.
— Estamos aqui para ajudar — digo, mantendo minha voz firme, mas gentil. — Mas não podemos fazer isso se você esconder informações. Se quer nossa assistência, precisamos saber a verdade.
Ailyn exala devagar, como se carregasse o peso do mundo nos ombros. Seu olhar vacila antes de finalmente ceder.
— Tudo bem. — Sua voz é um sussurro cansado. — Mas há coisas que não posso explicar agora. Apenas… faça suas perguntas, e eu farei o meu melhor para responder.
Meus instintos me dizem que ela ainda está escondendo parte da história.
Mas, por ora, é o suficiente.
Dou um passo para trás, tentando dar-lhe algum espaço. Andrew me observa com uma expressão intrigada, como se tentasse decifrar o que há de errado comigo.
Carter balança a cabeça, claramente desaprovando minha abordagem mais branda. Mas ele não consegue ver o quanto ela está abalada?
— Primeiro as coisas mais importantes — digo, mantendo minha voz firme, mas controlada. — Como você chegou aqui?
Ailyn hesita por um instante antes de finalmente responder:
— Eu fugi do meu casamento. Então me escondi dentro de um caminhão.
Puta merda.
Troco um olhar com Carter, que parece processar a informação ao mesmo tempo que eu.
— Espera um minuto, Tyler — ele diz, sua expressão se fechando. — Você não esteve ontem naquela igreja para entregar madeira?
Merda.
— Você se escondeu dentro do caminhão? — repito, minha mente correndo para conectar os pontos.
Ailyn permanece em silêncio.
Carter me encara como se isso fosse de alguma forma culpa minha.
— Como diabos você não percebeu que havia uma mulher no seu caminhão? — ele exige.
— Ela obviamente se escondeu — rebato. — Eu pareço um traficante para você?
— Espera, o quê? — Ailyn pisca, confusa.
— Obviamente, não somos — esclareço rapidamente. — Mas é verdade? Você era a noiva daquela igreja?
Ailyn baixa os olhos, e sua hesitação apenas confirma o que já suspeitávamos.
— Isso já não é óbvio? — Carter murmura sarcasticamente.
Minha cabeça lateja. Cheguei tarde ontem à noite e ainda preciso de mais algumas horas de sono. Mas agora tenho uma noiva fugitiva sentada na minha cozinha.
Os olhos de Ailyn disparam entre Carter e eu, um misto de ansiedade e incerteza marcando seu rosto. Então, relutantemente, ela assente.
— Sim… eu era a noiva. Mas as coisas… as coisas não saíram como planejado.
— Uau. Meu irmão agora é suspeito de um possível sequestro — Andrew comenta, tomando seu café como se isso fosse apenas mais um detalhe qualquer da manhã. — Ótimo jeito de começar o dia.
— Tyler, que p***a é essa? — Carter se vira para mim, os olhos faiscando.
— Eu não a sequestrei — digo, sentindo minha paciência começar a se esgotar. Viro-me para Ailyn. — Eu não sequestrei você, certo?
Ela me encara de um jeito estranho. E então, com uma sinceridade inesperada, diz:
— Não. Você me salvou.
Ah, ótimo. Como se essa situação já não fosse absurda o suficiente.
Ela respira fundo, o olhar fixo em um ponto distante, como se precisasse reunir coragem para falar.
— Eu... eu vi meu noivo com outra mulher. Minha prima. Os dois me traíram. E eu simplesmente… não podia me casar com ele, obviamente. — Sua voz carrega uma mistura de dor e determinação. — Isso me destruiu. Então eu fugi... precisava escapar daquela dor.
Uma onda de empatia me atinge. Tento imaginar o que Ailyn sentiu, mas é difícil.
Carter, por outro lado, não parece tão comovido.
— O mais sensato seria simplesmente informar sua família — ele aponta, a expressão fechada.
Ailyn desvia o olhar.
— Não posso fazer isso.
— Por que diabos não?
Ela levanta os olhos para nós, e há algo na sua expressão que me deixa inquieto.
— Eu não quero me casar com ele.
— Você deixou isso bem claro — murmuro.
E pela primeira vez, me dou conta de que Ailyn pode estar fugindo de algo muito maior do que apenas um casamento arruinado.