5 - Dois quarentões e um xerife

924 Palavras
Ailyn Já estou em pânico, quando o olhar do homem suaviza — quase imperceptivelmente. Um lampejo de empatia cruza seus olhos, mas seu aperto permanece firme, um lembrete silencioso do controle que ele tem sobre meu destino. O silêncio se estende entre nós, interrompido apenas pelo som de nossas respirações. Ele está ponderando, e a espera é sufocante. Então, seu aperto se intensifica, seus olhos cravando nos meus com uma seriedade cortante. — Você não pertence a este lugar. — Sua voz é firme, deixando pouco espaço para discussão. — Eu tenho meus motivos. É melhor você vir comigo pacificamente. Confusão, frustração e medo giram dentro de mim, uma tempestade caótica. Relutante, cedo à sua vontade. Minha mente corre para entender a gravidade da situação enquanto ele me guia para fora do celeiro. O ar fresco bate contra minha pele, mas não alivia o aperto no meu peito. Fugi de Andrei só para acabar em um lugar ainda pior? Meus olhos percorrem o rancho. As colinas ondulantes se estendem até o horizonte, tingidas de verde e dourado sob a luz suave da manhã. No fundo, as Montanhas Adirondack erguem-se majestosamente, suas silhuetas cortando o céu. O cheiro da terra molhada e do capim recém-cortado invade meus sentidos. Apesar da tensão, não posso ignorar a beleza ao meu redor. Tento agarrar esse pensamento, deixá-lo me acalmar. Mas é difícil. O rancho tem um charme rústico: cercas de madeira desgastadas contornam os pastos, onde cavalos pastam tranquilamente. O som de cascos no chão ecoa à distância, misturando-se ao farfalhar das árvores e ao canto ocasional dos pássaros. Lanço um olhar discreto ao homem ao meu lado. Mesmo neste cenário idílico, ele domina a paisagem. Seus braços tatuados se flexionam a cada passo firme, sua expressão cerrada e focada à frente. — Por favor… — Minha voz vacila entre desespero e determinação. — Eu não fiz nada de errado. Não podemos encontrar outra solução? Ele me olha por um instante. Seu olhar suaviza de novo — por uma fração de segundo. Mas logo a frieza retorna. — Você não é daqui. — Seu tom é carregado de cautela. — Até que eu entenda quem você é e o que está fazendo aqui, não posso correr riscos. A apreensão cresce conforme nos aproximamos da casa principal. Meu coração martela dentro do peito. O aperto dele em meu braço continua firme. Ao cruzarmos a porta, o aroma forte de café fresco invade o ar, misturando-se com um leve cheiro de álcool. Meus olhos pousam em um homem sentado à mesa da cozinha. Seu cabelo desgrenhado, um loiro escuro salpicado de fios prateados nas têmporas, e sua expressão cansada dizem muito sobre ele antes mesmo de abrir a boca. Ele segura uma caneca de café, os olhos baixos e sombrios, como se sua mente estivesse longe. Então, ele me vê. Seus olhos se arregalam levemente ao descer pelo meu rosto. Sua boca se abre, como se fosse dizer algo… mas ele muda de ideia. O homem tatuado limpa a garganta, quebrando o silêncio carregado. — Andrew, temos uma situação. Andrew pisca para mim, seu olhar afiado, avaliador. Ele leva a caneca à boca, tomando um gole preguiçoso. — Eu posso ver isso. — Sua voz sai arrastada. Então, ele solta, sem pressa: — Você não me disse que ia se casar. O homem ao meu lado solta um suspiro exasperado, seus dedos apertando um pouco mais meu braço. — Não é uma piada, Andrew. Ela apareceu do nada e diz que não sabe como chegou aqui. Achei melhor levá-la ao xerife. O olhar de Andrew se alterna entre nós dois, sua expressão se fechando. Ele está tentando me ler. Me decifrar. Me preparo, sentindo-me exposta sob seu escrutínio. Então, Andrew ergue a caneca e murmura: — Pelo menos vocês não casaram secretamente. Um brinde a isso. — Andrew, para com isso. Ele sorri de canto, mas há algo curioso em seu olhar. — Você jogou água nela? O outro homem resmunga. — Ela já estava molhada quando a encontrei. Seu tom rouco arrasta a última palavra, e, por alguma razão absurda, um calor traiçoeiro sobe pelo meu corpo. O que há de errado comigo? Ele me encara, claramente irritado. — Então, o que fazemos agora, xerife? Meu olhar se volta para Andrew tão rápido que minha cabeça gira. Xerife? Observo melhor. Ele parece… desgastado. Cansado. Mais velho que o outro — talvez na casa dos quarenta. Seu cabelo caindo sobre os olhos, o jeito que segura a caneca como se fosse a única coisa mantendo-o de pé… Mas a questão mais importante é: o que um xerife está fazendo aqui, sentado na cozinha desse cara? A menos que… O pavor sobe pela minha espinha. Isso tudo era uma armadilha. Eles sabem quem eu sou. Meus instintos berram, e meu corpo entra em modo de sobrevivência. Preciso sair daqui. Agora. — Jesus Cristo, Andrew. Não são nem sete da manhã e você já está bebendo? — pergunta o outro homem, irritado. Andrew ergue a caneca, impassível. — Feliz Natal. O homem tatuado cerra os punhos ao lado do corpo. Ele está perdendo a paciência. Vejo minha chance. Devagar, dou um passo para trás. Depois outro. A porta está logo ali. Posso passar despercebida. Seguro a respiração. Mais um passo. Então, bato em algo sólido. Algo quente. Meu coração dispara. Antes que eu possa reagir, uma mão forte desliza em volta do meu braço. E uma voz baixa e rouca murmura contra meu ouvido: — Espera aí. Aonde você pensa que vai?
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