Pré-visualização gratuita Capítulo 1
Narrado por Dakota Warney
— Você só pode estar maluco! Mas que ideia s*******o é essa? — Questionei durante uma reunião com os diretores, produtores e elenco da série “Amizade ou Amor” da qual sou a protagonista, Anne Newman.
— Se você analisar friamente, vai perceber que não é uma ideia tão s*******o assim…
— Jamie tentou argumentar.
Jamie Rock é o diretor da nossa série, que já está na terceira temporada, aliás. Ele é um pouco temperamental e egocêntrico, mas um ótimo profissional. Pelo menos era isso o que eu pensava até dois minutos atrás, antes dele aparecer aqui com essa proposta maluca para todos nós, durante uma reunião de elenco e produção da nossa série, que faz sucesso em um famoso canal de streaming.
— Quer dizer que você, quer que eu e Jack nos casemos… De mentira? — perguntei ainda incrédula com aquela proposta chocante.
— Exatamente! — ele confirmou com a maior naturalidade, como se estivesse propondo a coisa mais simples do mundo para nós — Proponho a vocês dois um casamento por contrato, pelo período de um ano.
— Mas por quê? — Eloisa questionou confusa.
Eloisa Clark interpreta Cate, a melhor amiga da minha personagem na série que trata de dois policiais que resolvem crimes mirabolantes, brigam feito cão e gato e também, acabam se apaixonando ao longo das temporadas da série de comédia com uma pitada de mistério. Ou vice-versa.
— Calma, eu vou explicar tudo com calma. Como vocês sabem, as primeiras temporadas da nossa série foram um tremendo sucesso de audiência. Porém, nessa última temporada, a audiência vem baixando e com a greve dos roteiristas aqui nos Estados Unidos, contratamos outros que quase ferraram nossa série com enredos totalmente s*******o ao longo dos episódios. Ok, foi um erro nosso não nos atentar a isso, mas os episódios já estão no ar e não há como voltar. Por conta disso, a diretoria do canal está pensando seriamente se vão ou não realizar a próxima temporada da série, pois além de tudo isso, nosso canal continua passando por uma crise financeira nessa pós-pandemia.
— A coisa está tão grave assim? Não tinha ideia disso. — Jack perguntou com os olhos bem arregalados e uma expressão preocupada no rosto.
Pela primeira vez na reunião, ele se pronunciou. Jack Parker interpreta meu par romântico na história, Christian Rosemberg, e é meu colega de elenco na “vida real”. Apesar de brigarmos feito cão e gato, ou melhor, cão e gata, eu sei que ele é uma boa pessoa e um talentoso ator, além de muito bonito fisicamente.
— Sim, muito preocupante mesmo. — Jamie concordou — Por isso mandamos fazer uma pesquisa com o público e descobrimos o quanto eles são muito apaixonados por vocês dois juntos.
Jamie me entregou um tablet com alguns tweets dos fãs da série nas redes sociais:
“Céus! Amo demais o Christian e a Anne, eles são perfeitos juntos! Chrisne é vida!”
“Quase morri com a cena do beijo dos dois no elevador! De tirar o fôlego! Chrisne forever.”
“Tomara que a vaca da Mrs. Hacker não consiga separar nosso casal na próxima temporada!”
“Eles têm uma química muito forte em cena. Seria incrível se ficassem juntos na vida real!”
“Quem assistiu à cena de sexo da Anne e do Christian naquela mesa de sinuca, hein? Parecia estar rolando um clima além dos sets, não?”
Sinceramente, fiquei vermelha ao ler o último tweet. Depois, entreguei o tablet para o diretor, que repassou para Jack, que leu todos os tweets atentamente e até deu um sorrisinho sacana após ler o último. Ele pareceu gostar do que leu. É um safado mesmo.
— E então? Vocês entenderam agora? Os fãs criaram até um shipper para vocês! Chrisne! — Jamie comentou batendo palmas — Tenho certeza que quando os fãs souberem que vocês estão juntos, a estreia da próxima temporada vai bombar! Vamos lá gente, é só por um ano! Passa rápido, vocês sabem que passa.
— E depois desse “um ano”? — Jack perguntou fazendo aspas com as mãos.
— Depois é só vocês dizerem que decidiram se separar amigavelmente. Os fãs vão continuar amando vocês, como sempre. E sempre terá aquela esperança de “Ah, um dia eles vão voltar a namorar”. É o plano perfeito! — Jamie sorriu vitorioso.
— Não, não é. — Falei com firmeza. Levantei da cadeira e peguei a minha bolsa. — Sou um ser humano, não um produto de marketing. — abri a porta e antes de sair, completei — Não vou me sujeitar a isso.
Bati a porta com força e fui direto para o meu camarim, onde entrei e fechei a porta. Fiquei me olhando no espelho e reparei que não sou mais uma adolescente. Eu já tenho quase trinta anos. Ok, acho que exagerei um pouco, pois tenho apenas vinte e oito e sim, sou muito jovem ainda.
Nasci em uma família de artistas. Minha vó, Holly, foi uma modelo de sucesso e um dos grandes ícones pop dos anos 60. Já minha mãe, Melissa, é uma atriz de cinema, cantora e me criou como pode, mesmo sofrendo de depressão e vícios com álcool. Meu pai, Donald, também é ator e por conta da agenda puxada, sempre foi um pouco mais distante de mim, mas quando estávamos juntos, era sempre ótimo.
Sempre me virei sozinha. Já trabalhei até como garçonete de bar e com o dinheiro que ganhava, pagava minhas aulas de teatro, pois meus pais nunca foram de me bancar não. Fui descoberta por um olheiro aos 19 anos. Meus olhos azuis e cabelos longos, lisos e castanhos me valeram trabalhos como modelo fotográfica de grifes de renome, como a Chanel.
Consegui algumas pontas como figurante em filmes de baixo orçamento, até que consegui um papel em um filme indicado ao Oscar, apesar da minha participação pequena de apenas 15 minutos. A partir daí, fui conseguindo papéis de mais destaque até que depois de muitas negociações, consegui o papel principal na série “Amizade ou Amor” e estou finalmente sendo reconhecida pelo meu trabalho. Sou apaixonada pela minha personagem, Anne Newman, uma policial honesta, divertida e nada romântica, que se apaixona pelo colega de trabalho, totalmente oposto a ela.
Não sou o tipo de atriz que adora os holofotes e festas. Sou bem discreta e não gosto de dar satisfações da minha vida privada, nem ficar postando tudo o que acontece na minha vida nas redes sociais. Por isso, não posso aceitar esse tipo de proposta indecorosa.
Não quero me expor desse jeito.
— Posso entrar? — rapidamente reconheci aquela voz. Era Jack, que deu duas batidas na porta e entrou no meu camarim.
— Fazer o que se você já entrou… — respondi dando de ombros e me sentando no sofá, que era todo rosa, minha cor favorita.
Jack se sentou ao meu lado. Ficamos alguns segundos calados, até ele quebrar o silêncio.
— Por que não quer aceitar a proposta do diretor? É só um contrato. Um casamento midiático. — perguntou e olhei fixamente para ele.
— Jack, você sabe muito bem que eu jamais me prestaria a isso. De tão i****a, isso chega a ser ridículo. Já pensou em como seria nós dois morando juntos na mesma casa, por 365 dias?
— Mas é só um acordo, Dak! E será bom para todos. Inclusive, para nós dois.
— Bom? Em que sentido criatura? — perguntei arqueando a sobrancelha.
— Ah, pensa em como vai ser divertido fingir para todos que somos um casal e, ainda por cima, um casal feliz!
— Eu já disse que não aceito, Jack. Você sabe que não sou de ficar voltando nas minhas decisões. — neguei novamente virando o rosto para o outro lado.
— Pensa bem, não vai ser só pela nossa carreira. Será por todos. Pelos profissionais envolvidos, da faxineira ao produtor. Imagina o tanto de gente que ficará desempregada com o cancelamento da série? Você já pensou nisso?
— Também não precisa apelar, Jack Parker! — falei com ironia.
— Você acha por acaso que quero me casar com você? Adoro a minha solteirice, Dakota. Mas amo meu trabalho e o personagem que interpreto, entende? E não quero ficar desempregado.
— Eu já disse que não, Jack. Não é não! — Exclamei estressada e nós ficamos novamente calados.
Vi ele coçar a cabeça e depois dar um pequeno sorrisinho. Em seguida, Jack se levantou, ficando de pé e me olhando de um jeito que realmente me incomodou.
— Sabe o que eu acho? — ele começou — Que você está com medo. — levantei rapidamente, ficando de frente para ele.
— Medo? De quê? — perguntei dando de ombros.
— Sim, muito medo. — ele se aproximou de mim, ficando a centímetros de distância do meu rosto.
Agora nós estávamos perto.
Até demais.
— Medo de não resistir ao meu charme. — deslizou sua mão esquerda pelas maçãs do meu rosto, que começaram a corar.
Ta aí uma coisa que eu e Anne temos em comum, o fato de corarmos a todo momento. Jack aproximou sua boca da minha orelha direita e sussurrou de um jeito levemente sexy.
— De não aguentar o convívio e se apaixonar de verdade por mim.
Droga! Ele falou aquilo de uma forma tão fodidamente sexy, que me deixou arrepiada. Malditos hormônios! Dakota Warney, você tem que fazer alguma coisa ou acabará não resistindo a esse i*****l. Imediatamente, o empurrei com força, fazendo-o quase cair no chão. Então, eu comecei a gargalhar sem parar, como se eu fosse uma maluca.
— Eu? Me apaixonar por você? Nunca! — neguei pondo a mão na cintura. Jack sorriu.
— Por acaso você conhece aquele ditado que diz… Nunca diga… Dessa água não beberei? — Indagou irônico.
Quando Jack Parker quer ser irritante, ninguém o súpera! Dei um olhar mortal para ele e abri a porta do camarim. Percebi que ele foi atrás de mim, mas nem me importei, pois estava indo até a sala do nosso diretor. Então, bati na porta apenas uma vez e já entrei.
— Oi, diretor! — O cumprimentei entrando na sala e vi Jack entrar logo em seguida.
— O que houve, Dakota? — Jamie perguntou com a testa franzida, surpreso ao me ver ali.
— Eu mudei de ideia. Aceito a sua proposta. Vou me casar com Jack Parker. De mentirinha, é claro!