Episódio 2

1902 Palavras
Xander estava perdido naqueles olhos castanhos, sentindo a estranha sensação de que aquela mulher seria alguém importante na sua vida. Percebeu o olhar vago dela. Ela estava corando e parecia angustiada. Seu idi*ota, você está tocando o braço dela como se ela fosse sua. Ele censurou-se. Será que ele não via que ela era tímida? René estava inquieta não só pela presença do homem, mas também porque ela não conseguia vê-lo com clareza e não conseguia encontrar os óculos. — Senhorita, você está bem? Ele perguntou, preocupado. Ela balançou a cabeça, afastando-se e abaixando-se para procurar os óculos na neve, sem sucesso. O magnata ficou ali, encarando-a por vários segundos. — Está procurando alguma coisa? Ele insistiu. — Sim... Ela respondeu, constrangida. Não queria lhe dizer que não conseguia enxergar nada sem os óculos. Ela não confiava em estranhos. Ela o sentiu agachar-se ao seu lado e inalou a sua colônia masculina. René não estava acostumada a lidar com homens. Mesmo na faculdade, ela era reservada em interagir com homens, devido à lavagem cerebral que a sua família sofreu durante anos pelo pastor da sua igreja. — Pare, ou você vai se machucar. Ele ordenou, segurando a suas duas mãos, já que ela não estava usando luvas no momento para proteger os seus dedos macios da neve fria. Ela olhou para cima e só conseguiu distinguir belos cabelos castanhos, mas nada mais. Subitamente, tomada por um instinto protetor incomum, ela cobriu as mãos vermelhas e doloridas com as palmas aquecidas pelas luvas de inverno. E lá estava René, sentindo uma descarga elétrica na palma dolorida ao toque suave do estranho. Ela lembrou-se daquela cena do filme Orgulho e Preconceito, em que Elizabeth e o Sr. Darcy se tocaram brevemente e ambos sentiram a corrente entre eles. Você é uma idi*ota, René. Ela repreendeu-se. Então agora você está incutindo os seus desejos literários em estranhos? Ela piscou várias vezes, desesperada para ver melhor o rosto dele. Xander observou os seus olhos se abrirem, fecharem e estreitarem-se, estranhamente, como se ela quisesse entender o que via. — Estou procurando os meus óculos. Ela falou com mais clareza desta vez, e a sua doce voz chegou aos ouvidos dele como o canto de uma sereia. — A sua voz. Ele notou os seus lábios. Sentia-se estranho. Queria traçá-los como um esboço diante dos seus olhos, para nunca perder aquele rosto de vista. — Minha voz? — Não, nada. Desculpe... Estou ficando louco. Ele deixou escapar, despreocupado, começando a procurar os óculos. — Louco? Ela não entendia nada. — Sim, a sua beleza me deixa louco. Ele confessou sem nenhuma vergonha. Não havia um centímetro do rosto de René que não estivesse vermelho pela provocação do estranho. Depois de vários segundos, ele encontrou finalmente os óculos azuis, cobertos de neve. Ele observou enquanto ela continuava procurando, lentamente. O que ele estava fazendo? Em poucas horas, ele estaria comprometido com outra mulher. Em vez de se preocupar com ela, ele estava lá. Ajoelhado na neve, fascinado por uma estranha. Ele não disse a ela que estava com os óculos, mas, em vez disso, pegou a mão dela novamente e colocou os óculos na palma da sua mão. Desta vez, o toque não a pegou desprevenida, mas ela sentiu a mesma corrente. — Muito obrigado. Ela disse. — Não me agradeça, eu cobro o favor. Ele gostava demais da sua voz mandona e rouca, e ela não pôde deixar de rir da arrogância do homem. Ela colocou os óculos e finalmente conseguiu vê-lo. E precisou se lembrar de respirar. Ele era um homem bonito, com feições firmes e bastante masculinas. Parecia esculpido, não delicadamente, mas como um homem deve ser: robusto, alto e largo. Nada como o seu noivo, que era mais um dândi da alta sociedade. Este homem não tinha um único traço suave, das mãos grandes ao queixo quadrado, o peito bem definido, bastante perceptível, mesmo com roupas de inverno. Macho, essa palavra o definiria. Ele devia ter uns dez anos a mais que ela. — Você não enxerga bem? Ele questionou com interesse. — Não, tenho astigmatismo severo. Neste verão farei a minha última cirurgia. É a definitiva. Voltarei a enxergar ou ficarei cega. Ela admitiu. Por algum motivo, ele não gostou de ouvir ela falar de cegueira. Desejava que aquelas piscinas azuis pudessem sempre brilhar. — Você vai ficar bem. Ele afirmou, confiante. — Senhorita. Gritou alguém. — O grupo da expedição já está partindo. Você vai conosco? Ela, fascinada pelo estranho, não se lembrava de que visitaria as montanhas brevemente por algumas horas com um grupo de turistas. — Sim, já vou. Ela respondeu, levantando-se e olhando para Xander. — Muito obrigada... — Eu vou com você. Ele disse, aproximando-se dela. — Já lhe disse para não me agradecer. — Você vai na expedição? — Você vai? — Sim. — Então eu vou. Disse ele, indo em frente. Ela balançou a cabeça, seguindo o grupo e o magnata. — Você é um perseguidor ou algo assim? Só para lembrar, tem um público que pode te dedurar, e eu sou faixa preta. Ela mentiu sobre a última parte. Ele sorriu divertido, mordendo o lábio. — Xander Rutherford. Ele apresentou-se. — Magnata do petróleo, tudo o que você precisa saber sobre mim está no Google. É claro que aquele perfil poderoso e arrogante combinava perfeitamente com a profissão. Pensou René. — René Dallas. Ela estendeu a mão. — Psicóloga e faixa preta. Ele teve que rir antes de pegar a mão dela e beijá-la. Os lábios quentes dela na mão fria dele eram tão bons. — Chega, eu não vou te machucar, querida. Disse ele antes de pegar o bonde e sentar-se ao lado dela. Sem saber que não seria capaz de cumprir aquela promessa. Xander fez uma careta de decepção durante o trajeto quando ela confessou que hoje era sua festa de noivado. — Então você vai se casar. Disse ele, sentindo um peso no peito. Ela engoliu em seco, nervosa. — Sim, estou com meu namorado há muitos anos. Ela não entendia por que parecia errado contar a verdade. Eles estavam no ponto da conversa em que as perguntas embaraçosas surgiram. Ela nunca havia experimentado algo parecido antes. Por quê? Talvez porque ele era bonito? Ou por que passaram uma hora conversando sobre as suas vidas e os seus gostos, sentindo uma conexão especial com o estranho? Uma conexão que ela não tinha com o noivo. — Devo confessar, também vou ficar noivo hoje à noite. Ele foi honesto. Ela franziu a testa e lhe deu um soco no ombro. — Noivo e flertando comigo! — Juro que tenho sido fiel e sincero com a minha parceira desde que estou com ela. Não sou daqueles que sai por aí conversando com mulheres desconhecidas, juro... Não sei se são as minhas dúvidas antes de dar um passo tão grande. Ele observou-a profundamente. — Ou a sua beleza... e a sua boa conversa. Ela o olhou desconfiada por vários segundos. — Eu também tenho dúvidas... sobre o meu compromisso. Ela confessou. — E você foi gentil. Xander e René compreenderam uma triste realidade. Ambos haviam chegado tarde na vida um do outro. — Duvidar não nos torna pessoas más. — Flertar descaradamente com outras pessoas, sim, temos parceiros. Ela caminhou até onde os outros estavam. Ele não queria ir embora. Era loucura. Ele a conhecia há apenas algumas horas, e talvez ela nem fosse o que dizia ser. Talvez ela fosse uma psicopata louca ou uma má pessoa, mas lá estava ele, indo atrás dela porque precisava vê-la. O que estava acontecendo era totalmente ridíc*ulo. Ele disse a si mesma várias vezes. Eles chegaram ao topo da montanha, onde se erguia o ponto mais alto, enquanto o teleférico sobrevoava a floresta. René estava agitada. A sua situação era repreensível. Flertar com um estranho, mesmo estando sozinha com ele, quando estava noiva. Era egoísta e totalmente ridíc*ulo. Ela o sentiu se aproximando e cada centímetro da sua pele estava em alerta. — Vamos pensar nisso como uma cena de romance, como aqueles filmes bobos de Natal em que estranhos se encontram e a mágica acontece. Ele comentou, desculpando-se. — Já temos idade suficiente para engolir essa história. Ela disse. — Essa é a minha única explicação, ou talvez... — O quê? — Não estamos realmente apaixonados por nossos parceiros. Ela ficou indignada, não pelas palavras dele, mas porque aquela declaração só levantou um muro de inseguranças que ela já sentia, e ela ficou na defensiva. — Estou apaixonada pelo meu namorado. Ela declarou ela. — Me beije e prove isso para mim. Ele a desafiou. Ela deu dois passos para trás e balançou a cabeça. — Claro que não. Não tenho nada a provar a um estranho. — Então me beije para que você possa ter uma daquelas experiências ridíc*ulas dos seus livros de romance. Você pode dar o passo, embora eu vá fazer de qualquer jeito. Ele deixou claro. — Você é daqueles que agarra mulheres sem consentimento? — Nunca, eu sou um cavalheiro, mas até os cavalheiros mais decentes roubam beijos de damas em perigo. Ele zombou. — Quantos anos o senhor tem, Sr. Rutherford? Quinze? Ela olhou ao redor e notou que estavam sozinhos no carro e que o teleférico ainda estava no ar. — Tenho vinte e oito anos. — Um pouco velho. Ela disse nervosamente, enquanto ele se aproximava cada vez mais dela. — É. — O que você está fazendo? Ela perguntou, notando as costas dele pressionadas contra o vidro com a proximidade dela. — Estou roubando um pedaço do paraíso de conto de fadas onde, infelizmente, não sou o príncipe. Ele sussurrou antes de beijá-la. Algumas coisas são inevitáveis, e René não pôde deixar de apreciar o beijo do estranho arrogante. Apenas o seu namorado a beijara nos lábios antes, mas agora ela percebia que o que compartilhara com ele não fora beijos, mas sim puros toques. O homem que pressionou os lábios er*oticamente sobre os dela. Sim, ele a beijou. Como deveria ser, com paixão, sem timidez. Como se ela fosse a fruta mais deliciosa da árvore, como se os seus lábios fossem a fonte da vida. Como se fossem água depois de uma seca. Felicidade depois da dor. Os lábios dele acariciavam os dela, as suas línguas se entrelaçavam. Ele sugou o seu lábio inferior, e ela buscou mais, correspondendo ao beijo. O toque sensual da suas bocas dançava ao ritmo do desejo. Quando o beijo terminou, a realidade retornou. Um silêncio constrangedor persistiu durante toda a viagem. O bonde retornou à terra e, sem dizer uma palavra, ela se afastou dele. Xander queria lhe contar tantas coisas, mas optou por permanecer em silêncio. Eles não se conheciam. Ela correu para o hotel, com o coração disparado. Ela havia beijado um homem, um estranho, e aquele fora o melhor beijo da sua vida. Uma lembrança que ela teria que enterrar, de algo que não poderia existir. Ele apenas observou enquanto ela chegava ao hotel e simplesmente sumia. Era melhor assim, que tudo continuaria como estava. Eles nunca mais se veriam. Quão distantes da realidade ambos estavam, já que naquela mesma noite o destino cru*el os uniria da maneira mais inesperada. ‍‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌
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