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Tubarão
Saio da cela sem olhar para os lados, tô puto por passar mais um dia nesse lugar, é sempre a mesma coisa, tá ligado? E as horas não passam. Acendi meu baseado e me sentei no chão, onde estava sol. Faz 7 dias que eu não vejo nada aqui no pátio, fui posto na solitária por matar um carcereiro p*u no cu que estava tramando pra me matar. Eu não sei mais quanto aguento essa barra, tá ligado? Eu tô a ponto de ficar maluco, tô me sentindo incapaz. Às vezes me questiono por que nasci.
Dona Inês sempre vem me visitar, traz várias fotos da família e diz que logo logo eu vou tá lá fora, mas eu não acredito. Mas mesmo assim finjo que ela está me salvando do fundo do poço em que ando me enfiando.
Tem um ódio que me corrói por dentro e é ele que ainda tem me deixando vivo.
Vim parar nesse lugar dos infernos por quem dizia me amar. Eu já estava com a Kaline há 2 anos, conheci ela em um baile. No começo, nem dei atenção, mas foi só ela se mudar para o PPG que as coisas mudaram. Ela começou a se aproximar, fomos ficando amigos e, quando percebi, já estava apaixonado. Essa paixão foi o que me fudeu.
Me levantei do chão, entrei na cela e comecei a socar a parede até minhas mãos sangrarem. Era a única maneira que eu tinha de aliviar a dor que estava sentindo por dentro. Todos os dias me pergunto como caí nessa e por que ela fez isso comigo.
Flashback
Eu estava na boca fechando os bagulhos do baile para apresentar a Kaline como minha fiel. Eu estava animadão, já morava com ela há um tempinho, mas queria formalizar o bagulho para a facção. Minha mãe e minha vó bateram mó neurose, falaram que ela não servia para mim, mas eu nem escutei, estava cego.
Kaline: amor, vou no asfalto fazer meu cabelo e minha unha.
Tubarão: toma cuidado, os canas estão marcando em cima, tentando me pegar. Vê se não demora na pista, hein.
Kaline: vai ser rápido, pow, relaxa.
Tubarão: suave.
Ela me deu um beijo e saiu, e eu continuei ali agitando os bagulhos. Eu queria que tudo estivesse perfeito.
Mano, só sei que deu 18, 19, 20, 21 e nada dela. Comecei a ficar desesperado. Nessas horas, várias coisas passam na mente de vagabundo, ainda mais na minha, que estava sendo procurado há mó cota pelos cu azul. A hora só foi passando, o baile estava comendo solto, e eu em casa preocupado, até meu celular tocar.
Olhei para a tela e era o número dela. Eu respirei aliviado por alguns minutos até o meu pesadelo começar.
Ligação:
Tubarão: c*****o, amor, que me matar, eu já estava surtando aqui.
Delegado Siqueira: E vai ficar pior.
Tubarão: Quem está falando, p***a?
Siqueira: Quem está falando aqui é o cara que está te procurando há anos e que finalmente achou um jeito de te pegar. Então escuta bem, seu arrombado, ou tu se entrega ou eu vou meter uma bala no meio da cabeça dessa marmita de traficante.
Tubarão: Vai se fuder.
Siqueira: Eu vou fuder mesmo ela todinha. Você tem cinco minutos para aparecer no endereço que eu te mandei. Aí, se vier com alguém, eu mato ela antes de você chegar aqui.
Ligação encerrada
Eu comecei a me desesperar, tá ligado, e nem passou pela minha cabeça que aquilo era uma armadilha. Fui até o galpão e tinha vários caras armados. Vi a Kaline armada e o arrombado com a arma na cabeça dela. Foi aí que me entreguei. Ele a soltou na hora e fiquei ali durante três dias apanhando. Eles queriam que eu entregasse a minha família, e isso não ia acontecer. Eles podiam me matar, mas eu não ia trair os meus.
Flashback off.
Vim para Bangu todo quebrado e a minha cara estava estampada em todos os jornais. Mas eu a tava porque ela estava bem, pelo menos era o que eu pensava, até o meu mundo desabar.
Fui até a cela de um mano que tinha televisão e começou a passar o jornal. Foi aí que vi aquela merda.
Tenente Kaline Dias acabou de ser promovida pela prisão de um dos traficantes mais perigosos do Rio de Janeiro. Quando ouvi aquilo, meu corpo gelou. Eu achei que ia cair para trás, mas não caí. Foi aí que vi ela beijando o filho da mãe que me jogou aqui naquela noite. Voltei para a cela e me isolei, chorei como um condenado, me perguntando o que tinha feito de errado. Quase entrei em depressão, lembrando das coisas que vivemos juntos e dos conselhos das minhas coroas.
Desde então, tem sido uma luta para sobreviver aqui dentro. Os cu azul já me humilharam e tentaram me matar de todas as formas, mas o cara lá de cima me protege e eu sempre sobrevivo. Como sempre digo, a pena é longa, mas não é perpétua, e uma hora ou outra vou sair daqui e vou matar aquela v***a que um dia eu disse que seria minha fiel.