Missão de Paz

2019 Palavras
“Pra onde você vai com essa mala?” — questionou Belisário enquanto recebia toda a água no meio daquela chuva que insistia em não parar. Sei que não preciso avisar o tempo todo, mas Belisário, nosso herói, como bem sabemos, é s***o/mudo, logo, para conseguir se comunicar, ele revela a mensagem de texto na tela de seu celular para que Angélica pudesse entender. Bem típico e normal, afinal, era assim que se comunicavam anteriormente. Angélica, bem que pareceu querer ficar, mas ao encarar Dona Antônia, que próxima do portão do condomínio, ela se vira e pega na mão de sua mãe que entra num taxi. O passado a muito tempo selado, estaria retornando aos poucos. Acredite, o f**a de perder alguém na era digital é que ficam inúmeros stories de histórias que acabaram. Quantas vezes você já entrou nos stories de alguém que se foi, única e exclusivamente para se despedir? Tem pessoas que simplesmente nunca mais veremos seus sorrisos ou escutaremos suas melodias, não voltam, e a pergunta de cima não se responde, e de forma melancólica ela se repete, e vai se repetir para sempre. "Para onde você vai, para onde você foi?" — estes são questionamentos que perduram para sempre. Devemos viver o hoje, pois os stories somem, mas a HISTÓRIA fica PARA SEMPRE. O Rio de Janeiro está inundado num misto de agonia chuvosa profunda e ansiedade pré-bienal que somente os participantes nervosos e irritados conseguem viver e sentir. É neste clima inusitado que Angélica, a mais bela antagonista existente, dá o seu primeiro passo rumo a terceira guerra mundial. Tsunamis de tristeza se aproximam para a vida de nossos personagens. Nossa bela antagonista, ainda envolta em nostalgia branca ao ver aquele lugar que já foi o seu reduto de energias boas, caça o número do apartamento que nunca saiu de sua cabeça e toca o interfone do condomínio no número exato de onde Belisário morava. "Será que eles se mudaram? Será que acertei? Será que ele vai me abraçar como sempre?" — imaginou. — Bom dia! — anunciou a delicada voz feminina. — Bom dia, é da casa do Belisário? — questionou ela. — Sim, quem fala? — a delicada voz começou a sair um tanto atravessada. Angélica finalmente caiu na real e realmente se assustou. Parecia que a nostalgia de rever Belisário novamente lhe cegou para muitas coisas que poderiam ter acontecido na vida dele. Como outras pessoas que ele pode estar bem próximo ou começando a se aproximar. Ela escutou uma fala de alguém que desconhecia. Aquele sem dúvidas não era o tom voz grosseiro da Dona Antônia, mas de alguém que ela realmente não conhecia. "Quem será?" — imaginou espantada. — Desculpa, mas quem fala? — questionou nossa antagonista. Sei que vai soar como um deboche, mas parece que desta vez, nossa antiga antagonista está fazendo o papel de mocinha, protegendo Belisário de seja lá o que o senhor do destino e a deusa da casualidade inventaram desta vez. Mas acreditem em mim, às coisas ainda vão piorar. "COMO É?" — pensou Débora extremamente irritada com a situação. — Querida, olha, quem liga é quem deve se apresentar, não acha? Creio que você está um pouco equivocada com seu pensamento. Quem é você? — replicou Débora. Como já suspeitávamos, era até que bem óbvio de que Débora desconhece a existência de Angélica, que por sua vez, sabia que eles não tinham nenhuma empregada. O encontro entre as antagonistas está apenas esquentando. — Mas o que é que está acontecendo aqui? — perguntou Dona Antônia. Nossa intrépida e destemida personagem rabugenta, surge por trás de Débora. Dona Antônia cruzou um olhar atravessado para nossa nova antagonista. Sorte que Angélica já o conhecia bem. Aqueles olhos furiosas saindo de um tom bem claro de uma velha senhora decidida que cuidava da vida do filho com unhas e dentes, tratadora de seus agenciados com mãos de ferro e CEO da Feira Literária mais famosa de toda a América Latina, quiçá, deste lado do planeta. — O que veio fazer aqui? — Dona Antônia voltou a questionar irritadíssima com a situação. “Ela está aqui, mas por quê? E qual é a probabilidade disso dar m***a? Caralh@#$%!”  — ponderou. Dona Antônia claramente escondia e guardava mágoas para com Angélica que certamente fazia o mesmo. Era nítido demais a animosidade entre as duas. — Relaxa, eu vim em missão de paz. — rebateu Angélica com o seu melhor sorriso. Antônia franziu sua testa de maneira irritada, ela não sabia esconder sua antipatia por esta garota. O vento vindo do sul e a mudança repentina no ritmo sequenciado da chuva. Eu não sou nenhum metereologista, mas aquilo certamente anunciava fortes temporais e trovões. Uma verdadeira tempestade estava para cair. O tempo pareceu piorar ainda mais no exato momento em que Angélica disse "paz". Até mesmo o clima conspirava contra as duas. Qual é a probabilidade desse problema piorar ainda mais? Dona Antônia lhe encarou de volta. — Vejo que o aparelho funcionou, certo? Você já parece um pouco mais adaptável. Angélica meio que se assustou um pouco com o fato dela ter se atentado. “Como ela reparou?” — Você anda um pouco mais atenciosa então? Realmente não esperava isso de você. — brincou. — Nós aprendemos coisas novas todos os dias queridinha, vai dizer que não sabia? — E quem andou ensinando truques a esta velha senhora, queridinha? — implicou. — É SENHORITA, É VOCÊ SABE! — reclamou furiosa. Angélica sorriu, sabia que aquilo certamente iria irritá-la de muitos modos. Infelizmente não é a mesma pessoa que lhe ensinou escrita, né? — debochou Antônia. Nossa antiga antagonista realmente mudou para melhor quando Zoe entrou para a família. — Me matricula no curso online de etiqueta que você foi então. — Vou mandar o link da escrita criativa junto, ok? Aquilo pareceu mexer com Angélica. — Vejo que a senhora desconhece o que andei fazendo, não? — Por quê? Quer que eu rejeite outro original seu? Ou quer iludir meu filho novamente? Ele não está mais aqui. — Como assim? — questionou. — Quero dizer que ele não mora mais aqui. — O Belisário não mora contigo? — Angélica estava realmente incrédula com a situação. — Sim, ele mora com sua namorada, não sabia disso, né? — implicou. Por esta, Angélica realmente não esperava. Aliás, sequer havia passado por sua cabeça essa possibilidade. O deboche de Dona Antônia realmente irritou Angélica. Nesse momento, ao mesmo tempo em que Belisário estava apontando na esquina com o Uber que estava lhe levando para casa, Zoe começou a notar que seu namorado estava demorando mais do que o costume e o Senhor Gonçalves havia acabado de pedir um Taxi executivo para lhe levar até a localização de Angélica no celular. — Não precisa mentir para mim assim, eu não sou burra, tão pouco quero entregar um original nas mãos de uma pessoa incapaz de ver e reconhecer o que sou. — reclamou. Dona Antônia, irritada, passou por Angélica e tocou o interfone de seu apartamento. "Ela está com uma sacola pesada, como sempre, o Belisário a ajudará, afinal, porque ela apertaria o interfone do próprio apartamento?" — pensou Angélica. — O QUE VOCÊ QUER MULHER? — gritou Débora. Ela provavelmente acreditou que era Angélica no interfone, mas era sua chefe. — O QUE FOI QUE VOCÊ DISSE? — berrou Dona Antônia. — Não... Não... Perdão Senhora, eu pensei que fosse uma criança de novo. Antônia olhou para trás com cara de deboche. — Vem aqui embaixo pegar umas compras pra mim, por favor, estão pesadas. — Ok Senhora! "Mas quem diabos é essa m***a de garota?" — pensou Angélica. Débora saiu apressada e irritada, ela simplesmente desceu as escadas, sequer pegou o elevador. E em poucos segundos, cruzava a porta principal do condomínio. Angélica pode admirar a beleza rara de nossa antiga antagonista. Dava pra ver o choque de raios e labaredas de fogo que saíam dos olhos das duas. Era como se um vilão dos Vingadores e outro da Liga da Justiça estivessem se encarando. Foi terrível. Débora, uma morena dourada encantadora abriu a porta principal do condomínio e caminhou em direção à portaria de onde estavam Antônia e Angélica. Nossa ex-antagonista obviamente não conhecia nossa nova vilã, mas algo entre elas a atraiu a devolver a encarada. Débora possui olhos negros tão brilhantes quanto uma estrela bem como  lábios vermelhos e provocantes. É dona de belos e longuíssimos cabelos negros esvoaçantes que escorriam sobre um corpo maravilhosamente combinado num shortinho curto jeans preto e uma camisa branca decotada. "Quem é ela afinal de contas?" — imaginou Angélica. — Espere só ao ver a namorado do meu filho, ela é mais bonita ainda". — sussurrou Dona Antônia. — O QUE? — disse Angélica. — Desculpa Senhora, tinha uma criança chamando no interfone. Dona Antônia caiu na gargalhada. — A criança em questão é essa aqui. "Sabia". — imaginou Débora. Débora segurou as compras de Dona Antônia no mesmo tempo em que Belisário havia saído do Uber do outro lado da rua. — Meu amooooooooooor! — brincou Débora. Belisário abriu um sorriso forçado ao vê-la, ele realmente ainda anda lidando com o seu trauma pessoal. Angélica não podia imaginar quem iria aparecer atrás dela, tão pouco Belisário, que mesmo sabendo quem iria encontrar, não esperava que seu coração palpitasse daquela forma. Toda a cena não planejada entre os dois, estava surgindo como uma desajeitada sinfonia clássica. No momento exato em que Angélica olhou para trás, Belisário, que já estava na metade da rua, vindo em sua direção, sentiu sem chão desaparecer no mesmo instante em que o tempo em volta de Angélica parou. "Ele ainda tem aquele olhar que me faz esquecer-se dessa minha necessidade imperiosa de ser perfeita o tempo todo". — pensou Angélica, claramente apaixonada por Belisário. "Que d***a, ainda sinto que quando estamos juntos e os nossos olhares se encontram, noto que os olhos dela estão fixos em mim, dos pés à cabeça". — imaginou Belisário, que certamente ainda nutre sentimentos por Angélica. O que posso dizer sobre eles? Nota-se claramente de que imperfeição também é um claro sinal de vida. Se eu pudesse resumi-los numa frase curta, posso afirmar que tudo é sobre o quanto você quer e o quando você está disposto a fazer para conseguir. — d***a, eu sinceramente, não queria que isso acontecesse. — sussurrou Dona Antônia. Quem não estava nem aí para nada e não tinha nada tinha haver com isso era Débora. Ela abriu um de seus melhores sorridos safados enquanto balançava seus cabelos desgrenhados a fim de admirá-lo. Sua língua chegou a salivar palavras sujas e seu cérebro se lembrou de posições boas ao ver aquele ser que tanto cobiçava novamente. Belisário finalmente atravessou a rua pode encará-la de frente. De certa maneira, Angélica sentia seu coração. Pois sempre que quando ele se aproxima dela, de alguma estranha forma, até os seus átomos o sentiam. Infelizmente, os dois parecem um tanto desconfiados um com o outro, seja na maneira de sentir, falar e respirar. O longo tempo que estiveram afastados, talvez deve servir para algo. Talvez não seja tudo sobre sentir, talvez algumas coisas sejam somente sobre reaprender a respirar e seguir. — Quanto tempo... — gesticulou Belisário em LIBRAS. Angélica sorriu. O coração de Beliário disparou. — Não preciso mais disso. — comentou rindo. Belisário pode ler completamente seus lábios e notou que ela havia melhorado sua dicção, bem como conseguia ouvir as pessoas em seu redor. Aquilo parecia surreal, Angélica fez um grande avanço de verdade, se ninguém perguntasse ou se ela não falasse, não dava para saber que ela era deficiente. — Tem coisas que eu realmente preciso te contar. — argumentou Angélica. — Temos realmente muito a conversar. — sinalizou Belisário. Mas de longe, em seu apartamento, Zoe, foi até a cozinha onde ficam penduradas as chaves da casa e notou que o cordão sinalizados de Belisário estava ali. "Aconteceu alguma coisa" — imaginou. Nossa protagonista começa a pensar que deve seguir em direção à casa de seu amado. O próximo capítulo promete!
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR