Pré-visualização gratuita UM: Pertence Unicamente a Ele
Jungwoo sentia seu corpo sendo arremessado de um lado para o outro, enquanto vozes repetiam várias vezes o quão desprezível sua existência era. O beta sentia uma imensa vontade de chorar, mas de certa forma o seu orgulho segurava as lágrimas e os gritos que tanto sentia vontade de soltar. Pisavam em sua cabeça, puxavam seu cabelo e rasgavam suas roupas, sempre repetindo as mesmas coisas.
— Você é nojento! — ouvira um deles, o mais velho, dizer — Seus pais são aberrações! Aberrações nojentas!
Por ser o filho adotivo de dois alfas, Oh Jungwoo cresceu rodeado pelo preconceito, por mais que na maioria das vezes ele viesse disfarçado, o pequeno beta sabia que todos o viam como alguém diferente, julgando-o como inferior aos outros, e tudo isso apenas por ser criado por dois alfas.
Sehun e Lu Han haviam lhe dado todo o amor que precisava, lidando todos os dias com os traumas e medos do garoto, que havia sido o único sobrevivente do m******e contra a sua antiga alcateia. Desde muito pequeno, foi obrigado a entender que a união entre alfas não era vista com bons olhos, e que algumas pessoas não perdoariam sequer uma criança, que era inocente de todos os fatos.
— Eles são sujos! — disse o outro, praticamente berrando em seus ouvidos, enquanto o chutava mais uma vez — Assim como você.
Muitas vezes o pavor calava Jungwoo completamente, e o beta sequer conseguia revidar das ofensas que eram referidas aos seus pais e a si mesmo. Os olhos agora se marejavam, a dor em seu coração por estar ouvindo aquilo era forte demais para ser suportada.
— Fiquem longe dele! — ouviu uma voz vinda de trás, e a imagem de um garoto mais velho e bem mais alto surgir entre eles.
Assim que o rapaz apareceu, os garotos que o batiam pareceram recuar, o mais velho possuía uma voz grossa, grossa demais até mesmo para alguém de sua idade. A presença de alfa que ele tinha era marcante demais, e assim que se aproximou, os ombros dos demais baixaram.
— Mas Lucas... — um deles tentou argumentar, assim que viu o mais velho se aproximar do beta caído no chão, que agora se encolhia ainda mais — Ele é o filho daqueles dois alfas.
O mais alto virou seu rosto para os demais, e Jungwoo não conseguiu enxergar sua expressão, mas pelo rosto dos outros, dava para se imaginar que ela não era de aprovação.
— Deixem ele em paz. — foi a única coisa que o alfa disse, se erguendo e fazendo menção de ir atrás deles.
Os garotos saíram correndo rapidamente, como se todos não passassem de meros ratinhos, bem diferentes dos alfas valentes que há pouco agrediam um beta que sequer tinha alguma chance de se defender.
— Você está bem? — o rapaz alto perguntou, estendendo uma de suas mãos para o que estava jogado no chão — Não precisa ter medo de mim.
Inseguro, porém sem muitas opções, Jungwoo aceitou sua ajuda, se apoiando na mão do mesmo para se pôr de pé. O alfa lhe sorriu gentil, tentando passar alguma confiança para ele, por mais que o Oh ainda estivesse bastante recuado. Não confiava em quase ninguém, sempre esperando que todos acabassem fazendo o mesmo, Jungwoo não estava acostumado com gentileza, principalmente quando vinha de alfas mais jovens.
— O-obrigado. — sua voz saiu baixinha, e ele ainda olhava para os próprios pés.
Uma das mãos do rapaz segurou seu queixo, fazendo-o olhar para ele. Com calma e tentando não fazer nenhum movimento brusco, o alfa limpou a sujeira que havia se prendido no rosto do menor. As bochechas do mesmo estavam cheias de terra, além de seu cabelo, e havia folhas secas presas no alto de sua cabeça. Ele acabou ficando vermelho enquanto o alfa fazia aquilo, algo que não era de seu desejo, mas havia sido inevitável.
— Qual o seu nome? — o rapaz mais alto o perguntou, assim que terminou de limpar seu rosto.
— Oh Jungwoo.
— Eu sou Wu YukHei, mas todos me chamam de Lucas. — o alfa sorriu gentil, em seguida abaixou seu corpo, até estar diante dos olhos do menor, que afastou um pouco a cabeça pela aproximação repentina — Não precisa mais ter medo daqueles garotos, Jungwoo, eu vou proteger você, e quando formos adultos, vamos nos casar, e você vai ser o meu beta.
[... Doçura de Beta ...]
Jungwoo teve paz, e ele nunca ficou sabendo sobre as ameaças que YukHei fez a todos que possuíam o hábito de destratar o beta. Wu YukHei era um lúpus, que havia herdado a maior parte de suas características de seu pai, Wu Yifan, um alfa lúpus puro, e também algumas de seu pai ômega, Huang Zitao, que já era maior do que os demais ômegas.
Wu YukHei era maior e mais forte do que os outros, além de possuir uma personalidade encantadora. Logo o alfa lúpus se tornara muito respeitado entre os que eram de sua idade, e também os mais novos, e ninguém ousava ir contra ele em nada, principalmente quando o assunto envolvia Oh Jungwoo. A verdade era que o alfa passara a protege-lo em segredo, para não ferir o orgulho do beta, e mesmo assim não deixar que ninguém o machucasse.
Todavia, seus planos de que Jungwoo se tornasse o seu beta, pareciam frustrados. O Oh parecia ter medo dele, sempre evitando contato ou qualquer aproximação que fosse. YukHei e Jungwoo se falavam pouco, por mais que suas famílias fossem amigas, e costumassem sempre se encontrarem vez ou outra em aniversários ou confraternizações.
Era o aniversário de YukHei, o alfa estava completando seus 30 anos de idade, o que marcava o início da “vida adulta real” de um alfa. Era uma data importante, pois a partir daquele dia, o rapaz não viveria mais com seus pais, e sim, passaria a morar em sua própria cabana, tendo que sobreviver sozinho e mostrar para os demais lobos que ele já era um macho alfa independente.
Yifan não havia economizado, havia bebida e carne em abundância, além de ter contratado músicos para animarem a festa, e ter convidado todos os amigos e até mesmo os que não eram muito próximos, o que incluía a família de Jungwoo, que sempre foram muito bem-vindos naquela casa.
O desejo do aniversariante era conseguir ter um tempo a sós com Jungwoo, e reafirmar para ele mais uma vez o que já vinha lhe dizendo há 16 anos, dizer para ele que continuava apaixonado, uma paixão que em momento algum havia mudado ou sofrido qualquer perda.
Ficara muito tempo apenas observando o movimento, vendo as pessoas entrarem e saírem da casa, sendo que algumas já estavam bastante alteradas pela bebida. Via os demais alfas se divertindo com brincadeiras perigosas, que pareciam divertidas ao seu ver, porém, a busca por um momento para falar com Jungwoo era bem mais importante naquele momento. Quando já estava quase anoitecendo, viu o beta se afastar dos demais e entrar na casa, e sem perder a oportunidade, o seguiu até a cozinha, que por muita sorte estava vazia.
Seus momentos a sós com Jungwoo não podiam ser desperdiçados.
Se aproximando por trás do beta e sem fazer nenhum barulho, o lúpus encostou sua cabeça no ombro do mesmo, que se encolheu tentando se afastar. Ao virar-se para olhar de quem se tratava, acabou dando um passo para trás, como fazia na maioria das vezes que o mais alto se aproximava.
— Por que você sempre faz isso? — o indagou, um pouco frustrado talvez, já estava começando a se cansar dos desvios de Jungwoo — Eu m*l posso me aproximar de você.
O menor desviou os olhos, se sentia m*l quando o alfa o olhava daquela maneira, parecendo um tanto magoado.
— Quando eu me mudar para a minha própria cabana, Jungwoo, você irá me visitar?
Um frio percorreu pela espinha do beta, a malícia na voz do alfa não dava para ser disfarçada. Os dois nunca tiveram esse tipo de contato, claro, por vontade sua, porque se dependesse do Wu, as coisas seriam bem diferentes. Os momentos em que se encontraram, sempre foram marcados por investidas vindas do maior, que nem sempre conseguia ser sutil, por mais que o menor já tenha lhe dito várias vezes que pretendia se unir a um ômega, e não a um alfa.
— Admiro a sua perseverança. — o disse — Mas você não vai me levar pra sua cama, YukHei.
O beta deu as costas para ir embora, porém passos depois, sentiu os braços do alfa rodearem sua cintura e o impedirem de continuar a andar. Não podia negar que a aproximação de YukHei mexia com ele em alguns momentos, mas o fato dele ser um alfa lúpus, fazia o Oh ter medo de estreitar seus laços com ele.
Jungwoo gostava de ômegas, ômegas nunca o machucaram, ao contrário dos alfas.
— Você sabe que o que quero é bem mais que isso. — o alfa passou o nariz por seu pescoço, aspirando o cheiro bom que Jungwoo tinha — Sonho todos as noites com o momento em que eu me tornarei o seu alfa, Jungwoo.
O menor mordeu seu lábio inferior, o cheiro do alfa se espalhava com total intensidade, ele estava próximo de um cio, e por mais que não fosse afetado com isso, não podia negar que o cheiro dele era muito bom e atrativo. Aliás, tudo em YukHei sempre foi muito atrativo.
— Eu gosto de ômegas, YukHei, os alfas, eles... — era o seu único argumento contra as aproximações dele — Não me interesso por alfas, e sendo quem você é, pode ficar com quem quiser, insistir em mim é perda de tempo.
Não era a sua intenção ferir os sentimentos de alguém que nunca lhe fez nenhum m*l, todavia, o Oh não queria que o alfa continuasse a insistir com aquilo, se enganando cada vez mais. Era necessário que a verdade fosse dita deste o começo, e repetida até que ele entendesse. E o problema era justamente isso.
YukHei não entendia.
— Eu tenho o direito de perder meu tempo com quem eu quiser. — o respondeu, convicto, e nessa frase o beta viu que aquela conversa ainda não tinha acabado, e nem acabaria tão cedo — Minha paixão por você não acaba, Jungwoo, eu te disse isso quando éramos crianças, e sempre vou dizer, você será o meu beta, e no fundo você também sente e espera o mesmo.
O menor balançou a cabeça, ele estava errado, pois Jungwoo não esperava o mesmo, estava convicto que se casaria com um ômega, que construiria um lar como um pai de família, e não como uma mãe. Jungwoo não queria acasalar com alfas, e muito menos gerar filhos deles. Alfas eram em sua grande maioria, prepotentes e arrogantes, e não era isso que ele queria.
Tinha medo de que YukHei se tornasse assim futuramente, assim como muitos se tornaram.
— É meu aniversário, Jungwoo, me conceda um desejo.
A voz rouca, porém lenta, do alfa, invadiu seus ouvidos lhe causando um pequeno arrepio, ele ainda estava abraçado ao seu corpo, pelas costas, o segurando pela cintura com a delicadeza que era possível para alfas.
— O que você quer? — cedeu, no fundo queria retribuir um pouco da gentiliza que o alfa lhe dedicou sempre. Todavia, se soubesse o que ele lhe pediria, não teria perguntado.
— Um beijo.
Os olhos do beta se alargaram, o fazendo dar dois passos para frente e se soltar do mais velho, virou-se para ele, encontrando uma expressão que não passava informação alguma, o alfa apenas o encarava esperando qualquer resposta que viesse do outro.
Ele só pensava em negar, nunca havia beijado ninguém antes, nem ômegas e muito menos alfas. Todavia, o problema não estava na falta de experiencia, e sim em YukHei, ele não queria ter esse tipo de aproximação com ele, e sabia muito bem que um beijo era a porta de entrada para que outros viessem a ocorrer, e assim acabar perdendo o controle da linha de limite que havia traçado entre eles.
Essa linha só existia em sua cabeça.
— Só um beijo, Jungwoo, e tornará o meu dia o mais feliz de todos.
Seus olhos se prenderam nos olhos do alfa, seu coração estava acelerado e ele queria sair correndo dali o mais breve possível. Procurou por brechas que lhe facilitariam isso, porém sequer conseguia se mexer. Voltou novamente a encarar os olhos do outro, que parecia impaciente diante da demora de uma resposta, e quando percebeu, ele já se aproximava.
Sentiu as mãos grandes apertarem sua cintura, e a testa colar com a sua. Seus olhos ainda continuavam alargados, espantados, e quando o mais alto fechou os olhos, ele acabou os fechando também de uma maneira automática. Esperou pelo momento em que seus lábios se uniriam, porém isso não aconteceu.
—Me deixe beijar você, Jungwoo. — o alfa sussurrou, com os olhos ainda fechados e as testas coladas, as mãos do mesmo ainda o apertando — Eu sou completamente louco por você.
Jungwoo não disse sim, mas também não disse não.
O Wu cortou o espaço que havia entre eles, finalmente juntando seus lábios uns aos outros. De início, ambos ficaram parados, apenas sentindo a maciez da boca alheia, o que durou alguns longos segundos. Empurrando sua língua na direção dos lábios até então trancados do beta, o mais alto conseguiu que ele lhe cedesse uma passagem, escorrendo sua língua para dentro da boca alheia.
Era um beijo calmo, em vista de que o beta nunca havia experimento aquilo, era lento e com um sabor único. Da boca de YukHei, vinha o gosto da bebida amarga, do salgado da carne, enquanto de Jungwoo, vinha uma doçura única, que o alfa não sabia dizer a que fruta pertencia. Talvez Jungwoo apenas fosse doce por natureza própria.
Depois que o mais alto se afastou, o Oh ainda o encarou com uma respiração pesada por alguns instantes, antes de colocar a mão na frente da boca e sair correndo. YukHei não conseguia decifrar as coisas que se passavam na cabeça daquele jovem beta, todavia, a única coisa que sabia naquele momento, era que seu coração pertencia unicamente a ele.
[...]
Jaehyun passara os dedos entre os cabelos, o suor escorria pela testa, era um dia quente. A camisa não estava mais no corpo, a calça aberta e m*l colocada, levantar da cama depois de uma noite bagunçada já era o seu costume, o cansaço sempre vinha acompanhado pela satisfação de ter tido uma boa noite.
Erguera-se devagar, se espreguiçando e saindo do quarto ainda com seus pés descalços, a barriga roncava por comida, e ainda com os olhos piscando pela claridade da casa, se dirigiu até a cozinha. Seu humor estranhamente sempre mudava quando avistava aqueles mesmos cabelos ruivos caídos sobre o rosto, os olhos grandes e redondos o encarando daquela maneira tímida e com um meio sorriso. Jaehyun já conhecia bem o motivo daquele olhar.
Mas não se importava.
Aos seus olhos, Park Taeyong não possuía nada de interessante, por mais que muitos, inclusive seus pais, sempre fizessem comentários nada sutis sobre o ômega, e o instigassem a cortejar e escolher Taeyong como seu parceiro. Kim Jaehyun era o filho alfa mais velho do líder da alcateia, e aos próprios olhos, apenas o melhor ômega da alcateia merecia o posto de seu ômega.
Revirava as panelas e potes procurando por alguma coisa que matasse a sua fome, fingindo sequer notar a presença do ômega Park — e também de seu irmão Chittaphon, que estava sempre grudado com ele —, após escolher algo, saiu da cozinha os deixando sozinhos.
Era notável o quanto o desprezo e arrogância do alfa, feria os sentimentos de Taeyong.
— Não se importe com o meu irmão. — Chittaphon sacudiu o braço do amigo, que teimava em continuar olhando para a porta por onde o alfa havia saído — Ele é só um i*****l que se acha melhor do que os outros.
E de fato Chittaphon não era o único a pensar assim, já perdera as contas de quantas vezes ouvira Jongin dar longos discursos ao filho a respeito de seu comportamento arrogante e prepotente. A verdade era que Kim Jaehyun, por mais que fosse respeitado e admirado por muitos pelo seu jeito de falar e também por sua essência forte de alfa e incrível força, sempre acabava se metendo em escândalos referentes a ômegas e suas famílias.
Kim Jaehyun era promiscuo, algo que não era diferente de outros alfas, a questão estava no fato de ser extremamente bonito, e nunca ser recusado por ninguém, dessa forma acabando por dormir e desonrar ômegas de famílias importantes para a alcateia, o que sempre acabava metendo seus pais em conflitos.
Jaehyun dormia com muitos, mas nunca desejou Taeyong.
— Tem algo de errado comigo, Chittaphon? — acabou soltando a pergunta, o tom triste revelava a sua infelicidade diante da indiferença de Jaehyun.
— Não há nada de errado com você, Tae! — o ômega mais velho sempre se exaltava ao ver o amigo daquela maneira tão triste, especialmente por nunca entender o que de tão especial havia em seu irmão, para ele, Jaehyun nunca passou de um alfa comum, ao qual a única coisa que tinha de especial, era ser filho do líder.
Por serem irmãos gêmeos, Chittaphon não era afetado pela essência dele.
— Então por que seu irmão nem olha pra mim? — seu tom saiu baixo, envergonhado pelo que falaria depois — Quer dizer, ele sempre está com muitos ômegas e betas, mas parece que eu não desperto nada nele. Eu sou tão feio assim?
— Não diga essas bobagens!
Chittaphon já estava começando a se irritar com aquele assunto, sabia muito bem que seu melhor amigo era apaixonado por seu irmão, mas aquela paixão parecia sem sentido algum, ambos os lados pareciam não se encaixarem. E por um lado, o ômega Kim também não entendia o motivo de Jaehyun não se interessar nenhum pouco pelo Park, sendo que o mesmo era um ômega muito bonito e doce, que estava sempre rodeado de alfas que o desejavam, por mais que muitas vezes não enxergasse isso.
A paixão de Taeyong por Jaehyun estava fazendo com que ele parasse de enxergar as próprias qualidades, e visse apenas os defeitos que só Jaehyun via.
— Você é bonito, qualquer alfa menos i*****l que o meu irmão iria te querer, inclusive muitos já te querem e você só os ignora. — de repente, o ômega mais velho riu baixo — Omma me disse que o seu omma era igualzinho com o seu appa, morrer de amores por quem não se importa deve estar no sangue.
— E a promiscuidade deve estar no seu! — retrucou, finalmente tendo animo no rosto e rindo um pouco — Omma também já me contou várias histórias dos seus pais, e vocês estão seguindo o mesmo rumo.
— Eu não sou como eles.
— E o Young Ho?
Chittaphon ficou mudo, ele não tinha nenhum argumento contra isso, Taeyong já sabia de toda a história, não teria como simplesmente dizer que as coisas não eram bem assim. Ponto para o Park.
— Isso é diferente, ele é o único.