Capítulo - Marcos narrando
- Cadê o Ruan? – Pergunto, sentindo a irritação crescer dentro de mim enquanto olho para Lucas.
- Desceu asfalto – Ele responde de forma desinteressada. – Deve ter ido na Natalia.
- Ele disse que ia chamar ela – Falo, acendendo um baseado, tentando relaxar a mente, mas as preocupações com o que poderia acontecer logo ali me deixam inquieto.
- Para o baile? – Lucas pergunta, com uma risadinha. – Tá achando que vai surtar, é?
- Não tem que surtar nada, não – Respondo, soltando a fumaça e pensando nos problemas que estavam por vir. O baile seria só o começo, mas depois, quando chegássemos em casa, as coisas iam pegar fogo.
Maldita hora em que deixei Ruan chamar a mãe dele para subir aqui. Aquela desgraçada... Quando fui trazer ela e meus filhos para cá, ela me ameaçou e fez de tudo para que Gustavo me odiasse. Ela não pensou duas vezes antes de colocar o filho no caminho da polícia, mesmo sabendo bem quem era o pai dele. Agora, o pior de tudo: ela deixou de ser minha mulher, e Gustavo... Bem, ele já era o que era, desde sempre.
- Tá sabendo que o garoto vai subir de cargo lá na polícia? – Mateus fala, interrompendo meus pensamentos. – Ele pode trazer problemas.
- Espero que não – Respondo, tentando esconder a frustração, mas já sentindo a tensão aumentar. – Tudo pronto para o show?
- Os parça já estão deixando tudo pronto – Lucas diz, parecendo tranquilo, mas eu m*l consigo me concentrar.
Eu cresci nesse morro, entrei para a liderança depois que o Igor morreu. A gente era quase irmão, ele me passou a liderança, e logo eu virei o dono do morro. Mateus entrou como meu sub. Não fazia tempo que não assumia ninguém, até que Taís veio morar aqui no morro. Estamos de rolo há uns dois anos, mas nada sério. Eu não queria dor de cabeça, nem pressão. Ela aceitava tudo, não me cobrava nada e estava perfeito desse jeito.
- Pai – Maria chama Mateus de longe, enquanto eu observo com um olhar distante.
- Oi, padrinho – Maria tem 19 anos, filha de Mateus com a Rayssa. Apenas assinto com a cabeça, não me importando muito com a conversa deles.
Deixo-os ali, conversando, e saio para fora da boca. A noite ainda estava me dando calafrios, mas a coisa toda estava prestes a estourar.
- Aonde tu tava? – Pergunto, tentando manter a calma quando vejo Ruan se aproximando.
- Na minha mãe – Ele responde, com um sorriso que parece saber mais do que deveria.
- Ela vem? – Pergunto, tentando saber o que ele estava armando. Não que eu fosse me importar, mas a minha cabeça estava cheia de pensamentos sobre o que poderia dar errado.
- Tá interessado por quê? – Ele refaz a pergunta com um sorriso malicioso. – Se ainda gosta dela, né? – Ele solta a risada dele, aquele sorriso de quem está tentando me provocar.
- Ideias erradas aí – Falo, tentando mantê-lo em seu devido lugar. – Se a Taís escutar tu falando uma coisa dessas, ela te mata.
- Taís não é ninguém perto da minha mãe – Ele diz, me encarando com aquele olhar desafiador. – Tô mentindo? – Ele abre os braços, como se fosse um desafio, esperando uma reação.
Eu respiro fundo e, por um momento, me pego pensando. Não, ele não está mentindo.
- Conversa fiada demais – Respondo, balançando a cabeça, não querendo dar mais espaço para esse tipo de assunto. Ele, por outro lado, parece não ligar muito e começa a rir.
Mas algo dentro de mim se aperta. Não era só sobre Taís e Natalia. Era sobre o controle que eu ainda tinha sobre os meus filhos, sobre o que estava para acontecer, sobre o que poderia mudar a qualquer momento.