Capítulo - Ruan narrando
Era sábado, e eu já estava com a energia lá em cima para a noite que me aguardava.
- Tudo certo? – Armando, meu empresário, perguntou, parecendo um pouco desconfortável. – Por mais que eu ache que show em favela... – Ele coçou a cabeça, claramente desconfortável com a ideia.
- Não é uma favela qualquer – Eu respondi com firmeza, tentando transmitir a importância daquele lugar. – É a minha casa.
Ele ficou quieto por um momento, antes de assentir. Sabia que eu estava falando a verdade.
De longe, avistei Maria chegando, acompanhada das suas amigas Gabriela e Alice. Maria era linda, com seus cabelos longos e negros, e uma pele radiante. Já começava a imaginar o que poderia ser eu e ela juntos. Sentia algo ali, uma conexão, e só de ver ela sorrindo, meu coração dava um salto.
- Tua mãe vem? – Renan, que estava por perto, perguntou com aquele sorriso de quem sabe que pode provocar.
- Tira o olho da minha mãe – Eu disse rapidamente, olhando para ele com um ar protetor. – Você é uma criança para ela.
- Sua mãe nem é tão velha assim – Renan rebateu, rindo.
- Renan, não enche – Eu falei, já irritado, e ele estourou em gargalhadas.
Esse era o problema de ter uma mãe tão nova e bonita. Qualquer um que a visse, logo começava a dar em cima dela, e Renan não era diferente. Renan era filho da Tais, e embora eu gostasse dele, não conseguia suportar muito a ideia de ele brincar com a minha mãe dessa forma.
Eu então mandei uma mensagem para minha mãe, perguntando se ela ia vir ao show. Queria que ela estivesse lá, independente de tudo. A presença dela significava muito para mim. Ela sempre esteve ao meu lado, apoiando minhas escolhas, mesmo quando eu era um filho falho.
- Já tá tudo certo? – Marcos, meu pai, entrou no camarim perguntando, com o olhar atento.
- Sim, pai – Respondi. – Já passei tudo milhões de vezes.
- Seu primeiro show profissional – Ele disse, com um sorriso orgulhoso. – O primeiro de muitos.
- Pode crer – Eu disse, tentando segurar a ansiedade.
- Armando já falou? Vou patrocinar o videoclipe – Marcos continuou, empolgado. – Como é o nome daquela MC mesmo?
- Laurinha? – Eu perguntei, e ele assentiu.
- Pai, você é dez – Eu falei, sorrindo, e dei um abraço nele.
- Eu sou só o melhor – Ele respondeu com aquele sorriso convencido.
Laurinha era uma das cantoras de funk mais famosas do país, cheia de seguidores. Um videoclipe com ela seria um passo enorme para minha carreira, talvez o primeiro grande passo.
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Capítulo - Gustavo narrando
- Poderia marcar uma janta? – Diego, o delegado, sugeriu, com aquele tom meio provocador. – Chama a sua mãe, e eu chamo a minha filha, a Camila.
- Ando muito ocupado, e a minha também – Eu respondi, tentando desviar da conversa, sem muito interesse.
- Para de bancar o filho ciumento – Ele riu. – Eu sou um bom partido para ela, faria a sua mãe muito feliz.
Eu apenas assenti com a cabeça, sem me aprofundar no assunto. O fato de ter uma mãe nova e bonita como a Natália fazia com que todos os meus colegas de serviço caíssem em cima dela. Eles se aproveitavam dessa situação, achando que podiam ser respeitosos, mas a verdade é que, para eles, o respeito não existia. O respeito real, sim, eu vi com ela, com todo o que aprendi ao seu lado. Uma das primeiras lições foi nunca desrespeitar uma mulher, principalmente uma mulher como ela.
- Tá sabendo do show que vai ter no Alemão? – Artur, meu colega, perguntou, interrompendo meus pensamentos. – Estão mandando a gente fazer ronda lá perto.
- Bora – Eu respondi, sem pensar muito.
Era melhor estar perto do que longe. Não confiava naquele cara, e a história de minha mãe subir lá me deixou ainda mais alerta. Não sabia o que exatamente estava acontecendo, mas sentia que a situação poderia esquentar. Eu não estava disposto a deixar minha mãe em qualquer risco.