Na casa dos Shelton...
"Quais são as consequências de desobedecer às regras desta casa?" Janice andava de um lado para o outro, segurando uma régua de madeira e encarando com severidade os gêmeos, que olhavam para o chão, de mãos entrelaçadas no colo. Ela batia o objeto na palma da mão como uma professora disciplinadora. De cabelo vinho preso em um coque, óculos grandes de leitura, saia lápis e blazer, ela realmente personificava a professora mais temida dos anos 70.
"Mãe, você não vai usar isso na gente, né?" Juliana perguntou em voz suave, mordendo os lábios. Pelas marcas vermelhas na mão de Janice, a régua parecia prometer uma dor considerável.
"Como assim não vou? É claro que vou!" Janice respondeu, inabalável.
"Mãe! Você é a pessoa mais doce que eu conheço. Não vai bater na sua única filha!" ela implorou, tentando apelar para o sentimentalismo.
"Cala a boca, Juli! Acha que a mãe vai ter pena? Olha para ela! Nem parece a nossa mãe!", Dwyane sussurrou por entre os dentes, lançando um olhar cortante para a irmã.
Os passos de Daniel descendo as escadas fizeram os gêmeos erguerem olhares suplicantes na sua direção.
"Amor, preciso ir. Nossa! Você está... diferente!" Daniel quase tropeçou no último degrau ao ver a esposa. Ela se vestira assim deliberadamente para mostrar seriedade. Janice ajustou os óculos, sorrindo para o marido.
"Dan, eu pareço assustadora?", sussurrou ela.
"Parece, sim! Está bem feroz!", Daniel sussurrou de volta, beijando sua face. "Pune-os com rigor. Ah! Clive já enviou meu novo cinto de couro. Você sabe o que fazer." Ele intencionalmente falou alto e firme, arrepiando ainda mais os gêmeos.
"Pode deixar. Cuida-se!"
Assim que Daniel saiu, Janice voltou-se para os filhos.
"Por onde devemos começar?", perguntou, erguendo a sobrancelha direita.
"Mãe, por favor!", lamentou Juliana.
Suas bochechas, já coradas, pareciam ficar mais pálidas. Ela ainda estava com uma dor de cabeça latejante e tonta. Como suportaria mais castigo?
"Eu te amo, mamãe!", Dwyane soltou rapidamente, tentando a tática oposta.
Ele já conhecia a dor das palmadas da mãe, mas suspeitava que hoje seria pior.
"Não adianta, Dwyane!", Janice manteve a firmeza.
"Posição! Agora!", ordenou.
Se os dois tivessem o poder de teletransporte, já teriam desaparecido.
Na tarde seguinte, na casa dos avós de Jeffrey...
Eddie, o mordomo de longa data da família, preparava café enquanto seu jovem patrão falava ao telefone, o rosto um turbilhão de emoções.
"Tudo bem! E o pai? O quê? Preso à cadeira de rodas? O que os médicos disseram?"
Jeffrey apertava o telefone com força. Seus dedos, apoiados na mesa, cerraram-se em punhos, e sua mandíbula se tensionou.
Algo terrível havia acontecido, ele percebeu.
"Jovem Mestre, seu café." Eddie colocou a xícara no pires à sua frente. Jeffrey apenas acenou com a cabeça, distante.
"Tá bom, diz só à mamãe que eu liguei. Estou bem aqui. E ao vovô para não se preocupar demais. Tchau!" Ele desligou e tomou um gole amargo do café.
"Jovem Mestre, como está o Mestre Donald?", perguntou Eddie, sentando-se à sua frente.
"O Quentin disse que o pai vai usar cadeira de rodas de agora em diante."
Eddie bateu o punho na mesa ao ouvir a notícia. Não conseguia aceitar que seu patrão, um homem atlético no auge, fosse reduzido a isso por uma única bala. Aquilo não era apenas uma lesão; era um ataque à sua vida.
"Ele vai continuar à frente dos negócios, senhor? O senador deve estar devastado."
"Ele continua. Atingiram a perna dele, não o cérebro. O vovô já está investigando o ataque." Os olhos de Jeffrey se estreitaram.
"O senhor acha que tem a ver com seu tio?"
A pergunta de Eddie deixou Jeffrey tenso. Ele se recostou, encarando o mordomo firmemente.
"Eddie, você está com a família da minha mãe há muito tempo. Entende nossa situação melhor do que ninguém. Fome de poder... trair o próprio sangue por uma vida luxuosa... e isso...!", disse ele, a voz carregada.
"Sim, Jovem Mestre. Entendo perfeitamente. Pode ter certeza de que todas as informações que seus pais me confiaram estão seguras."
"Eu sei. Cuidado. Você são nossos olhos e ouvidos contra meu tio e o filho dele." A fúria nos olhos de Jeffrey deu lugar a uma seriedade resignada. Ele confiava em Eddie. Era o alicerce leal da família de sua mãe.
"O senhor também deve ficar vigilante. É o único herdeiro. Devo contratar um guarda-costas discreto?"
"Preciso me disfarçar. Só uma pessoa em Townsend sabe do meu passado."
Um sorriso entendido surgiu nos lábios de Eddie. Ele sabia muito bem de quem se tratava.
"Será a Jovem Senhorita Cooper, da poderosa família Cooper?"
"Deixa pra lá, Eddie. Eu e a Linda somos só amigos. Desisti de tentar algo. Ela realmente só me vê como um amigo." Jeffrey sorriu, um tanto resignado.
Enquanto dizia o nome de Belinda, a imagem da garota que beijara no bar formou-se nítida em sua mente.
"Esse bar era do pai dela...", ele não pôde evitar um sussurro.
"O que foi, Jovem Mestre?", Eddie inclinou-se, intrigado.
Ele ouvira Jeffrey murmurar algo, com um sorriso no rosto. O que estaria pensando?
"Eddie, você sabe quem é o dono do Lotus Bar?", Jeffrey perguntou de repente, quase fazendo o mordomo pular da cadeira.
"Lotus Bar? Foi lá que o senhor foi ontem? Foi lá que se machucou? Jovem Mestre, quem fez isso com você?" A preocupação tomou conta de Eddie instantaneamente, ignorando a pergunta. Ele lembrava do estado de Jeffrey na noite anterior: lábios sangrentos e camisa amassada.
"Só tive um desentendimento com três bêbados atrás do bar. Dei conta deles. Deixei todos 'dormindo'. Agora, me diga: quem é o dono do Lotus Bar?"
Sua voz soou impaciente. Seu olhar era uma ordem: 'Responda agora!'
"Havia câmeras? Podemos denunciar à polícia. Eu vou—"
"Eddie, se denunciar, vou atrair mais problemas e serei exposto. O nome do proprietário, por favor!" Jeffrey o interrompeu.
Eddie limpou a garganta, cedendo.
"Está bem. O Lotus Bar pertence ao diretor do Império Shelton, o Diretor Daniel Morris Shelton."
"Diretor Shelton?! O tio da Linda?", ele perguntou, surpreso.
"Sim, o tio da jovem senhorita Cooper. Por que pergunta?" Eddie estranhou o sorriso súbito e brilhante de Jeffrey.
"Mundo pequeno...", ele murmurou, conectando mentalmente a garota do beijo à sua amiga de infância, Belinda.
"O que quer dizer com 'mundo pequeno'?", Eddie perguntou, completamente perplexo.
O que exatamente aquele sorriso significava? O que Jeffrey havia feito naquela noite?