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1080 Palavras
Persefone Narrando Eu coloco meu pote em cima do banco e deixo a mochila ao lado. Com uma garrafa de água em mãos, dou um gole, tentando me refrescar um pouco. O calor do Rio de Janeiro estava insuportável, aquele tipo de calor que parece que a cidade está cozinhando sob um sol abrasador. Olho ao redor e avisto uma viatura da polícia se aproximando. Imediatamente, guardo o pote na mochila e dou um jeito de disfarçar, andando como se fosse uma cidadã comum em Copacabana. Assim que entro na praia e vejo a viatura se afastar, sinto um alívio imediato. Pego o pote novamente e começo a oferecer aos passantes. — E aí, galera, querem comprar brisadeiro? — chamo, tentando manter um tom casual e simpático. A rotina não muda, e eu continuo oferecendo um por um. Minha vida estava uma verdadeira bagunça, sem dúvida. Cresci sozinha nas ruas do morro do Atibaia, e apesar das dificuldades, nunca abaixei a cabeça para nada e nem ninguém. Desde cedo aprendi a me virar, a fazer meus corres e a ganhar minha grana. Fome? Nunca passei, mas não era uma vida fácil. Ao voltar para o morro, logo sou parada por um dos seguranças. — Qual é, qual é? — pergunto, irritada, ao ver que ele bloqueia meu caminho. — Por que você tá me parando? — Ordens lá de cima — ele responde, com um tom autoritário e impiedoso. — Abre a mochila. — Não tem nada de mais aí — eu digo, tentando parecer tranquila. — Anda logo, precisamos revistar todo mundo. Não complique, senão vai pro desenrolo — ele avisa, com uma ameaça implícita. — Fala sério. Abro a mochila, e ele dá uma olhada rápida, me encara com um olhar de desconfiança. — Fala sério, você tá trazendo droga de fora? Quer ir pro desenrolo, Persefone? — ele pergunta, claramente irritado. — Aqui ninguém me vende nada — eu retruco, tentando não demonstrar medo. — Claro, você é a maior x9 que tem. Vive devendo grana por aí. — Tu sabe das minhas necessidades — eu explico, um pouco irritada com a insinuação. — Atibaia não curte caridade, não. — ele afirma, com um tom que não admite contestação. — Deixa passar, vai — eu peço, tentando manter a calma. — Na próxima, tu vai tentar respirar e não vai conseguir — ele ameaça. — Vai respirar terra, garota. — Valeu, Confusão. Subo o morro e começo a ouvir os murmúrios dos moradores. Parece que a situação está quente. Atibaia, o chefe do morro, matou um PM, e agora a coisa tá feia. Quando a PM mata alguém, eles não ficam na deles; eles sobem o morro e fazem uma limpa. A situação fica tensa, e eu sei que preciso tomar cuidado quando saio de casa. Chego ao bar da Olivia, onde fico alojada em um quartinho nos fundos. Ela é a mãe do Castro, o sub do morro. O quarto é pequeno e escuro, com uma cama e um banheiro, mas é o suficiente para não ter que dormir na rua. Ajudar Olivia na cozinha do bar é uma das poucas coisas que me mantém ocupada. As coisas mudaram muito desde que Atibaia assumiu o morro. Agora, tudo é cheio de regras e os moradores vivem na corda bamba, sempre com medo de infringir alguma norma. — Esses brigadeiros estão vendendo bem? — pergunta dona Olivia, com um olhar curioso enquanto eu estou ocupada preparando mais doces. — É brisadeiro — respondo, fazendo o possível para manter uma expressão neutra. — Deixa eu provar um — ela insiste, com um sorriso que parece um pouco esperto. — Não dá, vai faltar para amanhã — eu digo, tentando evitar a situação. — Eu compro — ela oferece, com um olhar decidido. — Não, por favor — imploro, pegando o pote rapidamente. — Vou tomar um banho e já volto. Dona Olivia fica curiosa com os brisadeiros, mas imagina se ela provar e ficar doidona. Melhor deixar quieto. Quando saio para o banheiro, minha mente está a mil. Tenho que pensar em uma forma de melhorar minha vida sem acabar na rua ou pior. O morro está ficando cada vez mais perigoso, e a última coisa que preciso é atrair mais problemas para mim. No banho, fico pensando sobre a situação. Meus pensamentos vão e vêm, tentando encontrar uma saída para os problemas que estou enfrentando. Se eu conseguir me manter fora do radar, talvez eu possa fazer alguns contatos e conseguir uma grana melhor. Só preciso de uma chance, algo que me permita sair desse ciclo interminável de sobrevivência. Volto para a cozinha, e Olivia ainda está lá, fazendo um esforço para não parecer interessada demais nos meus brisadeiros. Ela está distraída com outras tarefas, mas o olhar curioso dela não me escapa. — Persefone, a situação aqui no morro tá complicada — diz Olivia, enquanto mexe na panela. — Ouvi falar que Atibaia tá fazendo um monte de mudanças por aqui. As coisas estão ficando cada vez mais rígidas. — É, eu sei — respondo, tentando parecer desinteressada. — Mas a vida continua, né? A gente tem que se virar. — Verdade — concorda Olivia, embora ainda pareça preocupada. — Mas tem gente aqui que tá começando a ficar nervosa. Eles tão falando que a PM vai fazer uma operação grande. Eu dou uma rápida olhada ao redor, tentando manter a calma. Não é uma novidade que a situação está tensa, mas ouvir isso de Olivia só confirma meus receios. — Bem, eu vou me ajeitar por aqui — digo, tentando mudar de assunto. — Se precisar de alguma coisa, é só chamar. Olivia me dá um sorriso cansado e volta ao trabalho. Eu, por outro lado, fico pensando em como posso usar esse tempo para fazer algo que realmente mude minha situação. Tenho que encontrar uma forma de sair dessa enrascada e conseguir algo melhor para mim. Enquanto continuo a preparar os brisadeiros, minha mente está a mil, procurando uma saída para a vida que eu tanto desejo melhorar. A luta pela sobrevivência é dura, mas eu estou determinada a não deixar que ela me vença. Se eu tiver que enfrentar o que vier, farei isso com coragem e com a certeza de que vou encontrar uma maneira de mudar minha vida para melhor. E enquanto a vida no morro continua, eu sigo fazendo meus corre, lutando para conquistar um futuro mais seguro e melhor.
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