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611 Palavras
Joé Narrando A morte do Fabiano mexeu com o morro, e não só aqui, mas lá fora também. A polícia estava enlouquecida, com as sirenes tocando sem parar em volta do morro. O clima estava tenso, a cidade toda parecia estar em alerta. O morro do Atibaia tinha duas zonas distintas: a parte que a polícia achava que controlava, e a parte onde, se tentassem entrar, iam levar bala. Nossos moradores sabem das regras e, embora o clima esteja pesado, sabem como se portar. O destino de Fabiano foi só um recado para os vermes lá de baixo, um aviso de que aqui não é lugar pra quem vacila. — E a mulher? — Atibaia pergunta, com uma expressão fechada, que só de olhar já dá medo. — Tá morta — eu respondo, sem pestanejar. — Tem certeza? — E você acha que eu brinco em serviço, Atibaia? — retruco, com um tom sério. — É bom que não esteja brincando. Se ela aparecer viva, quem roda é você — ele avisa e começa a andar, com aquela presença intimidadora. Atibaia era o próprio demônio, não tinha pena de ninguém e não se importava se a pessoa era aliada ou inimiga. Se alguém vacilava, era cova na certa. O morro tinha suas regras, e respeitar era a única opção. Mas Atibaia era imprevisível, e sua fúria podia atingir qualquer um. As pessoas viviam com medo, sempre na ponta dos pés. Me aproximo da Persefone, uma cria do morro que estava sempre se metendo em encrenca, devendo grana e pegando mais droga. Atibaia não se preocupava muito com devedor pequeno, tinha muita coisa mais séria para lidar, mas se um dia ele resolvesse pegar Persefone, o negócio ia ficar feio para ela. — Seu sobrenome deveria ser Confusão — eu falo, com um sorriso de quem já sabe o que vem pela frente. — Vim pagar o que devo — ela responde, me entregando um montante de grana. — Isso aqui não paga nem a metade da sua dívida. — Tá de caô comigo, Joé? Eu peguei tanta droga assim não — ela se defende. — Pegou sim — eu retruco, com firmeza. — Se eu abrir a boca para o Atibaia, já era pra você. — Faz isso não, eu preciso de mais grana, preciso vender — ela implora. — E o que tá fazendo com o dinheiro? — eu pergunto, curioso. — Tenho uns bagulhos pra pagar — ela me responde, com um olhar que não diz muita coisa. — Então começa a pagar a dívida. Quando ela ficar maior, tu tá ferrada, mano. — Me libera a droga — ela pede, com desespero na voz. — Nem pensar — eu digo, com firmeza. — Aqui você não pega mais droga nenhuma. — Fala sério, Joé — ela insiste, nervosa. — Me libera a p***a da droga, compro sempre aqui, não vou deixar de pagar não. — Paga a dívida — eu falo, com um tom impiedoso. — Ou não leva nada. — Merda, seu filho da p**a, tu acha que sou bagunça, c*****o? — ela explode, claramente frustrada. — Paga a p***a da dívida, Persefone. Da próxima vez, te dou um aviso, e se não pagar, vai pra p***a do microondas. — Seu merda — ela manda, saindo com raiva, andando rápido. Fico tranquilo, acendendo um baseado enquanto a situação no morro ferve. Atibaia está mais preocupado em descobrir quem é a tal herdeira, e o clima está pesadíssimo. Castro não quis que Atibaia soubesse, mas o boato já está se espalhando. Logo, o morro todo vai ficar sabendo, e aí é que o bicho vai pegar de vez.
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