Persefone Narrando
Eu olho para a Sara e me sento ao lado dela, pegando o baseado da mão dela e tragando uma boa fumada. Ela me encara, parecendo preocupada.
— Joé, aquele merda não quer me vender a p***a da droga — eu reclamo, tentando manter a calma.
— E agora? — ela pergunta, passando a mão no cabelo.
— Eu tenho que pagar a dívida, mas não sei mais onde arranjar grana — eu digo, frustrada. — Se não posso pegar a droga para vender, como vou pagar?
— Desce lá embaixo, os policiais pagam bem — ela sugere.
— Tá maluca? Acabaram de matar um deles — eu falo, olhando para ela com um ar de preocupação. — Vão atrás da gente, querendo saber de tudo que é coisa. Eles podem chegar aqui e acabar me matando também. Não quero confusão, não.
— Tu precisa da grana — ela insiste. — E como é que vai viver?
— Vou dar um jeito — eu falo, determinada. — Vou conseguir a droga em outro lugar.
— E criar mais dívida, Persefone? — ela pergunta, levantando uma sobrancelha. — Pegar droga na biqueira inimiga pra pagar a dívida de lá e ainda ficar devendo pra eles? Melhor você pensar em outra solução.
— Eu me viro — eu respondo, tentando parecer confiante.
— Vai onde a essa hora? — ela pergunta, curiosa.
— Resolver a porcaria da minha vida — eu digo, pegando a mochila.
Desço pelos becos apertados da favela. Aqui, a coisa é feia mesmo, não tem nada de chic. É perrengue atrás de perrengue: casas minúsculas, barracos empilhados e becos que m*l passam uma pessoa. Vejo vários cachorros caramelo para todo lado, atrapalhando a passagem. Desvio de uma área de policiamento e sigo andando, pegando um ônibus com a pouca grana que tenho para ir até o Morro da Santa Marta. Conheço algumas pessoas aqui que podem me ajudar.
— Quer falar com quem? — pergunta o Vapor, com a arma atravessada nas costas.
— Quero falar com o Duda — eu respondo, tentando manter a calma.
— O que você quer com ele?
— Preciso de droga — eu digo, diretamente.
— Vai — ele manda, abrindo o caminho.
O Duda me libera uma quantidade boa de grana, mas se eu não pagar, a situação vai ficar feia. Pego o que preciso e decido aproveitar a noite para vender a maior parte ali mesmo. Encosto em um muro em um dos becos a caminho do morro e começo a contar a grana. Era dinheiro suficiente para quitar tanto a dívida com o morro do Atibaia quanto com o morro do Duda. Finalmente, estava livre de qualquer dívida.
— Ei, garota! — uma voz me faz olhar para o lado. Vejo um policial e outros dois se aproximando. — Que dinheiro é esse aí?
— Ela é moradora lá de cima, do Atibaia — diz um dos policiais, com um tom ameaçador.
— Aé, então é você mesma que queremos — o policial diz, com um olhar ameaçador.
Não pensei duas vezes. Saio correndo o mais rápido que consigo, com os policiais atrás de mim. Eu corro como se não houvesse amanhã, porque se eles me pegarem, a prisão é certa ou, pior ainda, tortura até eu abrir a p***a da minha boca.
— Para aí, garota, se não vamos atirar! — grita um dos policiais.
Tropeço e o que estava mais rápido se aproxima, mas consigo levantar. Ele puxa minha mochila, e quando vejo os outros dois se aproximando, abandono a mochila para trás e continuo correndo o mais rápido possível. Depois de alguns minutos, consigo me livrar deles e encosto na parede, ofegante, para avaliar a merda que aconteceu.
Olho para trás e percebo que perdi toda a grana e a droga que tinha sobrado. Eu estava ferrada! Sem dinheiro, sem droga e agora com a polícia me caçando. A situação não poderia estar pior. A única coisa que consigo pensar é em encontrar uma saída rápida dessa confusão, mas, por enquanto, tudo que eu consigo fazer é esperar e tentar não ser encontrada.