Capítulo 30. Maldita Francesca

522 Palavras
A tarde caiu pesada sobre a mansão Cavalcante. As nuvens se adensavam, prenunciando uma chuva que parecia combinar com o clima dentro da casa. Amélie terminava de recolher os lençóis lavados no quintal quando ouviu o som firme e ritmado dos saltos de Francesca ecoando pelo corredor.Era um som que todos aprendiam a temer. Poucos segundos depois, uma das criadas surgiu aflita na porta da cozinha. — Amélie, a senhora Francesca quer vê-la. Agora. O coração da jovem se apertou.Ela limpou as mãos no avental e subiu as escadas, sentindo o estômago revirar a cada passo.Quando entrou no salão, encontrou Francesca Cavalcante parada junto à lareira, impecável em um vestido escuro, as mãos cruzadas e o olhar de quem acabara de descobrir algo que não devia ter sido visto. — Então é verdade — começou a matriarca, a voz baixa e cortante. — Entrou no quarto do meu filho, seu senhor. Amélie congelou. Tentou responder, mas as palavras se perderam antes de chegar aos lábios. — Eu… ele estava ferido, senhora. Ninguém cuidou dele, e… — E você achou que era seu dever? — interrompeu Francesca, erguendo o queixo. — Uma criada, ousando entrar no quarto de um Cavalcante sem ser chamada? — Eu só queria ajudar… Francesca deu um passo à frente, os olhos faiscando. — Ajudar? — repetiu, com desdém. — Você acha que engana quem? Eu já vi esse olhar antes, menina. As pobres sempre acreditam que um pouco de bondade pode comprá-las uma vida melhor. Amélie recuou, o rosto corando de vergonha e raiva. — A senhora está enganada. Eu nunca quis nada dele. — Não minta pra mim! — a mulher estalou a mão sobre a mesa, a voz subindo. — Eu sei o que está fazendo. Primeiro, o pobre t**o do seu pai se afunda em dívidas… depois, a filha aparece, tão disposta, tão submissa, entrando onde não deve. Ela se aproximou tanto que Amélie pôde sentir o perfume intenso e sufocante que a matriarca usava. — Escute bem, menina Pérez: meu filho é um Cavalcante. Você, uma serva por compaixão. Se eu voltar a ouvir que chegou perto dele, nem as lágrimas das suas irmãs vão salvá-la. Amélie cerrou os punhos, tentando conter as lágrimas que ardiam nos olhos. — Eu entendo, senhora. — Espero que entenda mesmo. — Francesca endireitou a postura, o tom gélido. — A partir de agora, trabalhará apenas nos fundos da casa.Cozinha, lavanderia e estábulos. E não quero vê-la fora desses lugares. Ela virou de costas, como quem despacha um incômodo. — Agora saia. Amélie obedeceu em silêncio, a garganta apertada, o coração latejando de humilhação.Mas antes de atravessar a porta, ouviu Francesca dizer, num sussurro quase audível: — Se Estefano se aproximar de você outra vez, juro que o farei se arrepender de ter nascido. Amélie desceu as escadas sentindo o chão tremer sob seus pés.Quando alcançou a cozinha, respirou fundo, as mãos trêmulas.A dor no peito era aguda, mas junto dela, algo novo começava a nascer uma chama pequena, silenciosa, que se recusava a morrer. Ela murmurou para si mesma. — Posso obedecer, mas não vou me quebrar.
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