2

1710 Palavras
ANTES ALANA CLIVE O som do despertador ecoa no quarto, invadindo os meus ouvidos e me arrancando de um sono inquieto. Eu tive uma péssima noite de sono e tudo fica mais claro agora. Eu aperto forte os olhos antes de esticar a mão e depois, desligo o aparelho. Eu fico deitada por alguns segundos, encarando o teto enquanto a minha mente é invadida novamente pela lembrança da mensagem recebida na noite anterior. “Daniel não merece você. Se você for adiante, saiba que vai sofrer com ele e eu posso provar. Quer mesmo saber quem ele é?” Essas palavras se repetiram na minha cabeça sem parar, como um eco insistente e irritante. Quem teria enviado aquela mensagem? E, principalmente, por quê? O que exatamente queriam dizer? Quanto mais eu tento afastar as perguntas, eu fico com mais dúvidas vazias. A ansiedade já está me deixando maluca e me sinto exausta. Eu jurava que chegaria em casa radiante, que a falta de sono seria a felicidade e não a dúvida e confusão. Sem opção, eu empurro o lençol para o lado e me levanto. Vou caminhando até o guarda-roupa e já vou escolhendo uma saia lápis preta de cintura alta e uma camisa branca de tecido leve. Ainda tenho trabalho hoje. Essa blusa marca levemente as minhas curvas, mas mantém a elegância. Depois de roupa separada, eu corro para o banheiro e começo o meu banho quente ainda com a cabeça fervendo. O que eu faço? Conto ao Daniel ou espero mais? Finalizo aqui, escovo os dentes e vou me vestindo. Eu fecho o look com um salto médio nude e já sei uma maquiagem discreta como pele bem feita, rímel, blush suave e um batom rosado. Está ótimo! No fim, eu prendo parte do cabelo em um coque frouxo, deixando algumas mechas soltas e me vejo no espelho. É, está bom. Só a minha cara de mäu humor que não está boa. Espero que esse dia seja melhor! Ao descer para a cozinha, eu preparo um café preto forte, duas fatias de pão integral com geleia e algumas fatias de morango. O meu café da manhã é sagrado. Sento-me à mesa, encarando a xícara, enquanto mexo lentamente o líquido como se isso pudesse organizar os meus pensamentos. Mas não adianta. A mensagem ainda está martelando a minha cabeça sem parar. Ao pegar o meu celular, já noto algo na tela. Nenhuma notificação nova do número desconhecido, porém, há uma mensagem de Daniel. Daniel: "Bom dia, amor da minha vida. Dormiu bem? Te amo muito e a nossa noite foi perfeita." O meu sorriso dura pouco. Ele sempre foi atencioso, carinhoso, presente. Tão perfeito e isso me deixa mais angustiada. Quem, em sã consciência, enviaria uma mensagem daquele tipo? E se... fosse só alguém querendo causar intriga? Quem poderia querer me incomodar tanto ou nos separar? "Não, Alana... para com isso. Você conhece o Daniel. Não há motivo pra desconfiar." Falo comigo mesma em sussurro aqui. — Drogä! Alana: "Bom dia, meu amor. Dormi sim. E você? Tá tudo bem aí? Também te amo muito e a nossa noite foi especial. Não paro de olhar para esse anel." Minto! Eu confesso que desde a mensagem, eu quase não olhei para ele. Olhei mais para a mensagem do que para esse diamante aqui. Depois de comer, eu guardo o celular na bolsa e fecho tudo para sair de casa. Já na porta, eu vejo o céu todo limpo, o sol brilha forte, mas há uma leve brisa matinal deixando o clima agradável, nem quente e nem frio. É bem na medida certa para um dia que, até então, parece ser comum. Assim espero. O caminho até o escritório é feito no automático. Eu nem percebo o trânsito, nem as músicas que tocam pelo rádio. A minha mente está preenchida demais com suposições, medos e aquele desconforto que insiste em não ir embora. — Calma, Alana... precisa ter controle, garota! — Isso acontece quando estou num nível alto de medo. Eu falo sozinha! Ao chegar, eu cumprimento os colegas com um sorriso tímido, mais por educação do que por real vontade. Sento-me na minha mesa, organizo os papéis, ligo o computador e abro os relatórios que preciso finalizar. Tento focar, mas as letras parecem se embaralhar na tela. As horas se arrastam. Entre uma tarefa e outra, eu me pego encarando o nada, com os pensamentos tão distantes que mäl percebo o tempo passar. De repente, a minha colega Cherry vem chegando e eu disfarço. — Está tudo bem, Alana? — Ela franze o cenho, enquanto toma um gole de café. — Estou te achando tão quieta hoje... — Ah, sim... só estou com a cabeça cheia hoje. Relatórios, sabe como é... — Respondo, forçando um sorriso. — Eu acordei com uma certa enxaqueca hoje. — Sei... só não se mata de trabalhar, hein. Vai com calma! — Ela sorrir e sai andando. Eu tive que esconder a minha mão, porque se ela visse o anel, iria falar sem parar aqui e eu quero espaço. Por fora, eu estou a normalidade em pessoa, mas por dentro, estou um caos. Só espero não fazer besteiras hoje e o celular, silencioso dentro da gaveta parece me encarar sem parar. Quando o relógio marca meio-dia, eu decido ir até o refeitório do prédio. No caminho, chega mais uma mensagem de Daniel, que sempre chega no mesmo horário todo dia. É lei! Ele é tão fofo. Sempre lembra de mim a essa hora e por isso eu fico sem acreditar que a mensagem seja real. É, definitivamente é um trote! Daniel: "Aqui ainda tranquilo, amor. Só um pouco corrido, como sempre. E aí, como está na joalheria?" Eu peço o meu almoço hoje que contém: frango grelhado, arroz integral, salada de folhas verdes e tomate, e uma porção pequena de purê de batata. Também peço um suco natural de laranja e sento-me perto da janela. Em seguida, eu respondo a mensagem seguinte dele e vamos nos falando um pouco. Eu me pego olhando pela janela, olhando o movimento das pessoas lá embaixo, numa pressa sem igual e me pergunto, eu sou igual aquelas pessoas? Eu falo no sentido de apressadas e desligadas. É o que elas parecem. Nem olham para frente, só estão com o celular na mão e então, eu me questiono se deixei algo passar nesse um ano com o Daniel. Eu estou enlouquecendo! Cada garfada parece sem sabor. A comida até que está boa, mas há um nó na minha garganta, fazendo tudo descer com dificuldade. Ao terminar, eu fico no meu suco e o tempo vai passando. Eu evito muito contato hoje com as pessoas e logo chega a hora de voltar. De volta à mesa, eu faço de tudo para me concentrar de vez. Eu consigo! E, por alguns minutos, isso funciona e logo esqueço aquela conversa toda. Eu faço umas ligações, converso com o meu chefe sobre o material de divulgação do livro do momento e tudo começa a ficar mais leve. Mas, às 15h27, uma nova notificação acende a tela do meu celular. Número Desconhecido: "Hoje ele não vai te ver. Ele vai dar uma desculpa qualquer de trabalho, mas tem outros planos. Fique atenta!” O coração dispara tão forte que eu acho que o prédio todo pode ouvir esse tambor no meu peitö. A minha boca fica seca, as mãos tremem e uma onda de calor sobe pelo meu corpo. — Não, não... Isso não faz sentido. É coincidência. Só pode ser. — Pensou, apertando o celular nas mãos. — Ele disse que iria para vermos um filme juntos. Eu disse que iria fazer os doces que ele adora... Daniel adora morangos com calda de leite cremoso. O pânico se instala lentamente, misturado com uma dose amarga de incredulidade. Mas, como se o universo quisesse zombar de mim, o celular tocou. Mais rápido do que pensei e o nome na tela faz o meu peito afundar Daniel ligando... Eu só leio o nome dele e respiro fundo e assim, atendo. — Oi, amor — Tento soar normal, mas a voz saiu levemente falha. — Oi, minha princesa... então, só te liguei pra avisar que não vou conseguir te ver hoje — Ele vai direto ao ponto, com a voz mansa e despreocupada. — Chegaram umas peças novas na joalheria, e eu vou ter que ficar até mais tarde conferindo. Nem sei que horas vou sair daqui. O mundo parece parar por alguns segundos. A minha cabeça lateja sem parar e fico chocada com a coincidência. — Ah... tudo bem — Respondo, apertando o próprio braço debaixo da mesa, como se isso aqui pudesse me acalmar. — ... trabalho é trabalho, não é? Eu sei que não tem como fugir... — Pois é... mas eu estou morrendo de saudade, mas amanhã compenso, ok? — Ele garante, com aquele tom doce que eu conheço tão bem. — Te amo, amor. — Também te amo... — Ele desliga antes de mim. Rápido e sem mais palavras. Eu fico olhando para a tela apagada do celular, com os olhos marejados. Sinto o estômago se embrulhar, o peitö apertar e as dúvidas crescem numa velocidade que não dá para descrever. Como que uma noite de pedido de casamento e tornou essa avalanche de dúvidas e confusão? — E se... e se não for mentira? E se eu estiver sendo enganada esse tempo todo e nunca percebi? — Pensava, lutando contra aquela ideia, tentando não aceitar. Mas, no fundo, uma vozinha sussurra que talvez, só talvez, nem tudo fosse tão perfeito quanto tenha parecido. Sem pensar duas vezes, desbloqueio o celular, abro a conversa com o número desconhecido e, com os dedos tremendo, eu começo a digitar. Alana: "O que você sabe? Me fale tudo!" E envio sem pensar duas vezes. O meu coração dispara, a boca seca e uma pressão estranha apertar a minha cabeça e o peitö. Agora, eu sei que já cruzei uma linha perigosa aqui e que, a partir daqui, não tem mais volta. O silêncio do celular agora é angustiante. Cada segundo parece uma eternidade enquanto aguardo ansiosa, a resposta que poderia mudar tudo. Mas, ela não chega ainda e fico na espera mais louca de todas!
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR