O Silêncio Assustador

977 Palavras
Ela mudou. E essa mudança era mais perigosa do que qualquer ameaça externa. No dia seguinte ao confronto em meu escritório, a confiança tênue que eu estava construindo com ela se desfez em cinzas. Eu não compreendia o porquê. Aurora estava distante, quieta. Seus olhos, que antes me liam com uma inteligência voraz, agora me evitavam como se eu fosse o sol e ela, um ser da noite. Não havia mais o desafio, apenas um silêncio perturbador que ecoava pelos corredores da minha mente. Estava cansado. De início, tudo o que eu queria era manter a distância. Mas agora, é como o incomodo que se instalou em mim quase me sufocasse. Sentei em meu escritório bravo e na mesma medida tudo o que eu mais queria era esconder a inquietação que surgia dentro de mim. Pedi a um de meus homens que fossem chamá-la. Queria testá-la. Quando Aurora passou pela porta, seu semblante foi a primeira coisa a chegar até mim. — Cansada? — a questiono. — Com dor de cabeça — responde seco. — Peça remédio a um dos homens, Tenho certeza de que eles terão o que precisa. — Vou me lembrar disso. Irritado resolvi jogar uma pergunta casual sobre um dos arquivos que ela havia revisado, querendo ver a faísca de inteligência que tanto me intrigava. — O que encontrou sobre a transação da Carga Seis? — deixei que as palavras saíssem enquanto me servi de uma dose de uísque. Observando-a por cima da borda do meu copo de uísque. Aurora respirou fundo e desconfio que se eu não tivesse prestando atenção o suficiente, eu não teria visto a mudança que passou em seu semblante. Suas palavras em resposta saíram perfeita, citando datas e valores, mas sua voz era monótona, sem vida. — Estava tudo em ordem, Senhor Valente. Assinado e arquivado." — E a sua intuição, Aurora? — insisti, sentindo a frustração subir. — Você não sentiu nada? Nenhuma mentira por trás dos números? Ela me encarou por um breve segundo, o olhar opaco. — Minha intuição estava ocupada com a tarefa. Nada além dos números. A frieza dela me irritou profundamente. — Eu a te tirei da rua, a ofereci um mundo que nunca teria. Te expus minha única vulnerabilidade. Está é a sua gratidão? — Quer ouvir um, obrigada, da minha parte? Eu a peguei me analisando. Cada movimento, cada palavra e isso me enfureceu. Eu não sou um homem que se preocupa; sou um homem que controla. Mas ela se tornou uma anomalia em minha vida, um problema que eu não conseguia resolver. O que ela estava escondendo? O que ela sabia que a fazia agir como um fantasma em minha própria casa? — Está dispensada — respondo sem paciência. — Como quiser — sua resposta seca, fria e quase m*l educada me fez questionar se eu não deveria dar um fim em tudo isso. Tenho experiencia de mais para saber que qualquer ameaça deve ser eliminada o quanto antes. Talvez Aurora, com a sua forma de analisar as pessoas, mas sem deixar que elas a vejam seja o meu perigo. Um perigo que eu mesmo trouxe para dentro de casa. Tomo todo o liquido do meu copo e fecho os olhos. Controlando o que sinto. Algum tempo passa até que resolvo seguir para cozinha. Não que eu esteja com fome, mas a cozinha é o lugar onde consigo distrair minha mente. Estou passando pela porta quando eu a vejo. Parada em frente a geladeira tirando um garrafa de água dali. Aurora me olha sobre os ombros, me encarando. Ela parecia um pássaro preso em uma gaiola de ouro. Olhei sobre a mesa da cozinha. A comida já tinha sido preparada e coloca-la ali para o caso de eu querer algo. Aurora fechou a porta da geladeira com mais força do que o necessário. Sem pedir licença se sentou a mesa. A porcelana fina, as roupas caras que eu a mandei comprar, a comida gourmet que meu chef preparava – parecia que ela não se importava com nada. Ela não estava feliz. Sigue a dispensa e peguei uma garrafa de vinho e duas taças. Ela podia me irritar, mas ainda era um mistério do qual eu queria decifrar. Percebi que mesmo com alguma variedades em sua frente., ela m*l tocou na comida, levava um pedaço pequeno de pão a boca e mastigava como se estivesse passando m*l. O silêncio estava me sufocando. E minha paciência se esgotada. — O que está acontecendo? — perguntei, mantendo a voz calma, mas com uma ameaça subentendida que só ela seria capaz de captar. Ela cruzou os braços, a postura defensiva. — Não há nada acontecendo, Senhor Valente. Estou apenas... focada no meu trabalho. Eu me levantei, inclinando-me sobre a mesa. — Não minta para mim. Seus olhos são mais transparentes que o vidro. Você não está focada no trabalho. Você está tramando. Você está mudando de ideia sobre nosso acordo? Seus olhos se arregalaram por um segundo, e o medo que eu vi ali não era de mim, mas de ser descoberta. Isso confirmou minhas suspeitas. Ela havia encontrado algo. — Eu não mudaria de ideia sobre nada que envolva a minha vida — ela respondeu, a voz forçada e firme. — Ótimo — eu disse, voltando à minha cadeira — Porque a sua vida, neste momento, me pertence. E se você descobriu algo que ameaça a mim, você ameaça a si mesma. Fui claro, Aurora? Ela confirmou com a cabeça, mas eu não acreditei. Pela primeira vez na vida, eu não conseguia ler a pessoa à minha frente. E a incerteza me enchia de uma fúria silenciosa que eu m*l conseguia conter. Eu teria que recorrer a métodos que não gostava: rastreamento e vigilância. Aurora tinha se tornado um alvo, e o pior de tudo, o alvo estava sob o meu teto.
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