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1035 Palavras
Lorena Maldito. É isso que ele é. A p***a de um maldito. E olha que ele vivia me pedindo um filho, e durante alguns segundos eu fui burra o suficiente pra pensar em dar. Respirei fundo e saí correndo, porque eu tinha que me concentrar em fugir. Meu nome é Lorena. Eu tenho 23 anos e sou nascida e criada no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Eu fui a famosa burra que não escutou a mãe. Sim, eu não escutei a minha mãe e acabei me envolvendo com o Biel. Ela dizia pra mim que dono de morro não valia o que o pombo cagava em cima dos outros, mas mesmo assim eu tava apaixonada e fui, me joguei. No começo era tudo flores. E eu quase terminei com flores também. Eu fazia faculdade, e ele foi me convencendo a largar tudo. Aos poucos eu fui largando. Ele dizia que eu não precisava trabalhar, que eu não precisava de nada, porque ele me daria tudo. E no começo ele dava. Só que hoje, quando eu cheguei em casa, eu peguei ele na cama com a minha irmã. Sabe quando você abre a porta e congela? Os dois ficaram olhando pra minha cara e a sínica da Laís ficou sorrindo pra mim. Eu fiquei encarando aquela cena sem saber o que falar, porque uma coisa minha mãe não me avisou: que eu não podia botar a cobra da minha irmã dentro de casa. Porque ela falou que tinha se separado recentemente, e eu coloquei ela dentro da minha casa pra poder ajudar. E sabe o que aconteceu comigo? Tomei no cu. Fiquei parada deixando as lágrimas escorrerem, e foi aí que o Gabriel se levantou. Ele veio na minha direção e falou: Biel: Calma, amor, eu posso explicar. A sua irmã me seduziu e... e... eu não queria, mas ela me obrigou... Lorena: Ah, ela te obrigou a colocar o papel fora, seu p*u no cu? Ela te obrigou a comer ela? É isso que você tá me falando, Gabriel? Que ela te obrigou a comer ela? Biel: Vamos conversar. Isso foi coisa do inimigo. Não vamos jogar o nosso casamento no lixo por causa disso. Quando ele falou isso, eu dei uma de maluca. Eu olhei pro lado, vi que tinha um vaso e taquei na cabeça dele. Antes que ele pudesse reagir, eu fui pra cima dele dando vários socos. Quando ele caiu no chão, eu agarrei a cobra da Laís pelo cabelo e ela veio gritando que nem uma boa p**a. Laís: Para! Você está ficando maluca? O que você vai fazer comigo? Eu não tenho culpa se ele me preferiu ao invés de você! Lorena: É mesmo, maninha? Preferiu você, né? Antes que ela pudesse me responder, eu parei na ponta da escada. Quando ela riu, eu dei um soco na cara dela e empurrei da escada. Ela foi rolando, e eu fui descendo na maior calma do mundo. Escutei o Gabriel me gritando, porque ele já tinha conseguido levantar. Passei por cima dela, pisando mesmo, e vim até a cozinha. Peguei o facão. Sim, eu peguei o facão. E ainda peguei uma tábua de cortar carne daquelas bem pesadas, de madeira, e fiquei parada na porta da cozinha. Quando ele veio gritando: Biel: LORENA, PARA COM ESSA MERDA, c*****o! Eu nem pensei duas vezes. Eu dei com a tábua na cara dele, o que fez ele ir pra trás. Quando ele tentou voltar, eu enfiei a faca na barriga dele e saí correndo. Eu comecei a descer o morro abaixo que nem uma desesperada. Só que quando eu cheguei perto da barreira, eu fiquei de boa. Passei tranquila, porque os vapores não tinham ordens pra me parar. Eu saí do morro e peguei o primeiro ônibus que vi pela frente. Na rodoviária, eu tinha um dinheiro na minha conta, porque eu fiz um pé de meia. Fiquei pensando nas palavras da minha mãe que eu não podia me relacionar com traficante. Pra alguma coisa ela serviu nessa vida. Que Deus a tenha. Cheguei na rodoviária e eu tava disposta a comprar a primeira passagem pra qualquer lugar. Mas foi aí que eu vi os homens do meu marido. Eu fiquei pálida na hora e entrei no banheiro feminino. Foi aí que um grupo de freiras entrou. Elas ficaram me olhando e eu tava assustada, e foi aí que eu falei: Lorena: O meu marido quer me matar. Ele é um psicopata. Ele quer acabar com a minha vida. Por favor, eu preciso de ajuda. Tereza: Você quer entregar sua vida pra Cristo? Você quer vir com a gente pro convento? Fiquei pensando durante alguns segundos. Convento? Eu nunca tive vocação nem pra orar o Pai Nosso, e agora eu vou pra um convento? Mas se eu ficar aqui, eu vou morar nos céus. Então é melhor enfrentar um convento do que ir morar no céu e ver o Senhor pessoalmente. Lorena: Sim, eu aceito morar com vocês no convento. Eu aceito entregar minha vida pra Cristo. Eu aceito qualquer coisa pra sair de perto do meu marido. Ela me deu uma roupa de freira, diferente das delas, e eu vesti. Nós saímos do banheiro direto pra um ônibus. Eu vi eles lá fora me procurando. Mas eles imaginavam que eu tava em qualquer lugar, menos junto com um bonde de freira, porque como eu disse: eu nunca tive vocação. Chegamos em outro morro que eu não consegui identificar qual era. Fomos direto pro convento. Era um lugar grande, frio, estranho. Eu fiquei me sentindo dentro de um filme de terror. Tereza: A madre do convento vai vir conversar com você pessoalmente. Por enquanto você vai ficar nessa sala aguardando. Mas não precisa se preocupar, ela vai te tratar bem. Ela trata todas que chegam aqui bem. E eu tenho certeza que você não vai se arrepender de entregar sua vida pra Deus. E, principalmente, eu tenho certeza que você vai se adaptar. Lorena: Espero que sim. Ela saiu, e eu fiquei ali, olhando pra imagem de Jesus na cruz. E fiquei me perguntando: será que isso vai dar certo? Uma pessoa caótica que nem eu, dentro de um convento.
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