Capítulo 60

1377 Palavras
Johnny desce logo atrás, já rindo de alguma merda com os menor da contenção. Bando de hiena do c*****o. — Aí, chefe. — n***o, um dos vapor mais antigo, avisa, se endireitando na cadeira de plástico, largando o celular. — Tem gente te esperando lá dentro. Visita pra tu. Viro o rosto pra ele, sem parar de andar. O sol tá batendo forte, mó calor da p***a. — Quem? — pergunto, já imaginando ser alguma p**a, talvez o WL ou alguém com mais B.O. pra resolver. — A doutora. Tá lá na tua sala. Paro na hora. Franzo a testa. Doutora? Que p***a de doutora? Ah... a Maria Clara Esqueço que os moleque chamam ela de doutora porque a ela é veterinária. — Já é, n***o. — solto, mas já tô andando de novo, empurrando a porta do escritório. E num é que não era caô desse filha da p**a. Ela tá de pé, de costas pra mim, olhando pela janela. As mãos entrelaçadas na frente do corpo, naquele jeito dela que parece que tá sempre pensando em mil fitas ao mesmo tempo. A luz que entra pela janela bate no cabelo dela, mó brilho da p***a. Paro na entrada e abaixo o boné, escondendo a cara. O cheiro dela invadiu o escritório. — Esperava qualquer um aqui. Menos tu. — falo, a voz saindo grossa. Jogo a chave da moto na mesa, fazendo barulho e aponto com a mão a cadeira na frente da minha mesa. — Senta aí, pô. Ela assenti devagar e da um sorrisinho curto. Meio sem graça, mas que fode com a minha linha de raciocínio. Senta na cadeira, ajeitando a bolsa no colo, tímida pra c*****o. Parece até que nunca tivemos algum grau de i********e. — Eu tentei te ligar... mas você não atendeu. — a voz dela é baixa, suave. Contraste total com a gritaria e o tiro de agora há pouco. Puxo o celular do bolso. Olho a tela. Três chamadas perdidas dela. Nem vi essa p***a. — Tava resolvendo umas fita aqui no morro. — falo, sentando na minha cadeira, do outro lado da mesa. Me jogo pra trás, tentando parecer relaxado. — Nem vi tocar. O que tá mandando? — É, imaginei... — ela responde, ajeitando o cabelo pra trás da orelha. Os dedos finos, a unha pintada de claro. Reparo em tudo. Ela bota as mãos unidas sobre a minha mesa, em cima de um monte de papel rabiscado. — Eu só queria falar contigo rapidinho. Coisa rápida. Cruzo os braços. Inclino a cabeça um pouco pro lado, avaliando. Ela parece nervosa, mas tá tentando disfarçar. — Então fala, p***a. Tô aqui. — Amanhã... vai ter aquele evento na praça da comunidade, né? — começa, falando mais animada agora, os olhos brilhando um pouco. — Eu pensei em levar o atendimento da clínica pra lá. Sabe? Tipo, montar uma barraquinha, fazer uns atendimentos pros bichinhos dos moradores que não tem condições de pagar uma consulta. Aí pensei em oferecer consulta, vacina... essas paradas. De graça, claro. Pra ajudar. — Sei. — falo, pegando a caneta Bic da mesa e girando entre os dedos, sem olhar pra ela. — Quem desenrola essa fita é a Lara, ela que organiza essa p***a. — Então... eu falei com ela. — responde rápido. — Mas... acho que ela não vai muito com a minha cara, não. — ela dá uma risadinha sem graça. — Nem me ouviu direito e mandou eu vir falar direto com você. Disse que a palavra final é sua, mas que provavelmente você não iria deixar. Assinto devagar. Lara... é mó pilantra. Deve ter ficado com ciúme ou só de implicância mesmo. Imagino a Maria, toda educadinha, tentando falar com a Lara toda grossa. — Por mim, tá de boa. Faz teu corre lá. — falo, ainda girando a caneta. Ela abre aquele sorrisão que me deixa fodido. Puta que pariu. — Sério? Mesmo? Então eu posso montar a barraquinha lá? Não vai atrapalhar nada? — Uhum. — respondo simples, sem expressão nenhuma na cara. Tentando ignorar o efeito do sorriso dela. — Vê com a Lara o lugar certo pra não dar caô. Ela levanta rápido, ajeitando a bolsinha de lado no ombro, toda felizona, mó sorrisão na cara. Vai andando pra porta, nem parece que tá saindo da toca do lobo. Eu fico feito um o****o, vidrado, meu olhar grudado nela, acompanhando cada passo. A pele do ombro lisinha, de fora... a p***a desse vestido florido, colado, marcando a cintura fina, a curva do quadril, a b***a redonda... c*****o. Como pode uma mina ser assim? Nela, qualquer bagulho vira luxo. Qualquer pano fica diferente. Fica f**a pra c*****o. Me deixa fodido só de olhar. — Aí. — chamo, antes que ela abra a porta. Ela para e vira só o rosto por cima do ombro. Os olhos grandes, curiosos. — Que foi? Respiro fundo e jogo a caneta na mesa. — Como é que tá a outra lá? A... inquilina. Ela entende na hora quem eu tô falando e o sorriso some um pouco. — A Alicia? Tá melhorando. Se recuperando bem, fisicamente. Ela não fala muito... fica mais quieta no canto dela. Mas tá melhor, sim. — Melhor ficar assim mesmo. Calada. — falo, frio pra c*****o. — Quanto mais quieta, melhor pra ela. Pra todo mundo. Ela dá uma risadinha, mas balança a cabeça, desaprovando. — Você é impossível, Iago. — Eu sou realista, Maria Clara. Só isso. — encosto as costas na cadeira, olhando direto pra ela agora. Sustentando o olhar. — E tu? Tá curtindo trampar aqui no morro? Ou já tá querendo meter o pé? — Tô, sim. Tô gostando muito. — responde, sorrindo de leve de novo. Um sorriso mais contido agora. — O pessoal daqui é bem receptivo, me tratam super bem. Acredita que acho que tô trabalhando mais aqui na comunidade do que quando a clínica tava lá no centro? Assinto e fico olhando pra ela. Pra boca dela se mexendo. Pro jeito que ela gesticula. E as palavras saem sozinhas de novo, atropelando minha marra toda. — Tô com saudade de tu. Ela respira fundo. O peito sobe e desce. Desvia o olhar por um segundo, depois volta a me encarar. Aquele sorriso contido, meio triste, meio sabichão. — Iago... a gente já conversou sobre isso, né? Tá tudo muito claro entre a gente. Não tá? — Não tem nada claro pra mim não. — falo, com um meio sorriso escapando no canto da minha boca. Não consigo evitar. Ela gargalha. Uma gargalhada gostosa, que ecoa na sala. O rosto fica vermelho na hora. Puta que pariu, ela fica linda pra c*****o assim. — Você não existe, Iago! Sério! — Você também não. — respondo rápido, no mesmo tom, entrando na brincadeira dela, mas falando a vera. A risada dela diminui, mas o sorriso continua lá. Ela ajeita a bolsa no ombro de novo, o olhar agora mais sério, mas ainda com aquele brilho. — O problema, Iago... é que você quer tudo. Você me quer... e quer o resto todo junto. E assim não dá. Não pra mim. Fico só olhando pra ela. Ela tá me dando o papo reto e tá certa pra c*****o. Mas eu não digo nada. O que eu ia falar? Que ela tá certa? Nem fudendo. Ela ajeita a bolsa de novo, dá uma última olhada em mim, depois desvia o olhar pra porta, soltando o ar devagar. — Bom... eu vou indo nessa. Obrigada pela autorização. — Demorou. — falo, fingindo um desinteresse que eu não sinto nem um pouco. — Eu vou dar um toque na Lara pra ela não te atrasar. Deixa comigo. — Obrigada mesmo, Iago. — responde, já abrindo a porta. Antes de sair, ela olha pra mim mais uma vez. Por cima do ombro. Sorri de novo, aquele sorriso que é só dela e se vira, me dando as costas. A porta bate e eu fico ali. Olhando pra porta fechada por um tempo que eu nem sei quanto. Respiro fundo, o cheiro dela ainda tá no ar. Pego a p***a da caneta de novo e fico girando, a cabeça a milhão. Saudade... Que p***a de saudade, Iago? Tá maluco? Vira homem, c*****o.
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