Meus dedos dançavam pelas teclas do piano de cauda no centro do salão. A música tocada encantava os convidados, que observavam minha apresentação com admiração.
Tudo que acontece na minha vida é por causa do meu sobrenome: Smith. Meu pai, Thomas Smith, é um dos vinte homens mais ricos da Califórnia e isso significa que ele tem muito dinheiro. Hoje, esse evento beneficente planejado por ele, me deu a oportunidade de tocar piano para todos.
Eu tenho dezenove anos. Vivi a vida inteira em uma bolha de isolamento e só conheço o que minha família me mostrou, isso porque dizem que preciso ser protegida a todo custo. Não posso sair sem seguranças nem nada disso. Acho que eles tem medo de me perder.
Quando a música acabou, os convidados me aplaudiram. Levantei-me e ajeitei meu vestido azul royal no meu corpo. Agradeci com um sorriso no rosto e saí de perto do piano, indo em direção ao bar.
Peguei uma margarita e beberiquei, olhando para a grande festa que acontecia graças ao meu pai.
– Senhorita Smith? – Virei meu olhar e observei o homem que me chamou. Ergui as sobrancelhas ao vê-lo. Não o conheço, mas é um homem muito bonito.
– Sou Mike. – Ele puxou minha mão e a beijou. Odeio quando homens se apresentam dessa forma.
– Prazer. Posso ajudar? – Tirei a mão e observei o rosto dele.
– Quer dançar comigo? – Dei os ombros.
Fui ensinada a não negar um convite para dança em eventos beneficentes, então, deixei o drink de lado e me levantei.
Fui até a pista de dança com o homem chamado Mike. Ele passou um dos braços ao redor da minha cintura e levou a outra até a minha mão, a erguendo. Valsa não é uma coisa que gosto de dançar, mas aceito em dias como esse.
– Então, Mike. Quem é você? – Ele sorriu de lado. Observei uma tatuagem saindo pelo colarinho da camisa branca por baixo do terno.
– Sou um cara rico. Só mais um. – Ele disse. Seu rosto com feições bem masculinas me fizeram reparar nele. Ele é mais alto que eu, e é forte. Um homem extremamente atraente e cheiroso.
– Como você ficou rico? – Questionei. Por algum motivo, ele não parecia ser só um homem rico.
– Herdei uma fortuna do meu pai morto. Nada de mais. Está interessada em quanto doei? Assinei um cheque de um milhão de dólares na entrada. – Ergui as sobrancelhas. Meus olhos verdes se arregalaram.
– Obrigada. A fundação Smith agradece. – Ele sorriu mais uma vez.
– E você, Rebecca? – Ok, ele sabe meu nome... Sem eu ter dito meu nome. Isso é comum, mas me incomoda.
– Sou só uma pianista filha de um homem rico.
O telefone do homem começou a tocar. Ele me soltou e pediu licença.
Quando voltou, em trinta segundos, me segurou pelo braço e retomou a dança. Mas, dessa vez, com as duas mãos em minha cintura, me puxou contra seu corpo e eu senti algo em sua barriga... Algo parecendo uma arma.
– Não fala nada, meu amor. – Ele disse. Eu arregalei os olhos. – Se você gritar, eu e meus amigos vamos atirar em muita gente. Então, fica quietinha.
– O que vai fazer comigo? – Minha respiração estava pesada. A adrenalina que corria em meu corpo ao mesmo tempo que me desesperava, me paralisava.
– Nada. Se você colaborar. – Ele inclinou o rosto até meu ouvido e falou, baixo. – Me acompanhe como se estivesse interessada em passar um tempo a sós comigo.
– E-eu... – Respirei fundo. O tal do Mike colocou o rosto na frente do meu e levou uma das mãos até meu rosto.
– Olhe para mim, Rebecca. – Eu olhei para o homem. Ele inclinou o rosto até o meu e, sem aviso, juntou os lábios com os meus. Eu fechei meus olhos. Quando me dei conta, abri os olhos e o olhei com os olhos arregalados.
– O que está fazendo? – Disse.
– Ganhando a confiança dos seus seguranças. – Falou.
Mike levou as duas mãos até meu rosto, dessa vez. Acariciou minhas bochechas com os polegares enquanto me olhava com um carinho aparente. Ele voltou os lábios até os meus e, dessa vez, me beijou.
Aquele beijo me fez arrepiar dos pés a cabeça. Talvez fosse o perigo eminente, a situação louca, ou coisa do tipo. Mas eu me entreguei naquele beijo. Foi acidental, mas me entreguei.
Quando ele separou os lábios dos meus, sorriu de forma maliciosa.
– Boa garota. – Ele disse e segurou minha mão, me puxando por todo o salão em direção a porta da mansão. Eu o acompanhei até o lado de fora e, por causa do beijo, os seguranças não nos seguiram.
O homem abriu a porta de um carro muito caro para que eu entrasse. Eu obedeci, em silêncio. Pensei em correr, mas ao olhar para os lados, vi vários homens olhando para nós.
O tal do Mike entrou no carro. Colocou uma algema em mim e a prendeu no próprio punho também. Ele dirigia o carro com uma mão.
– Por que isso? – Questionei. Aquilo não parecia um sequestro agressivo ou coisa do tipo.
– Porque seu pai é um filho da p**a. – Falou. Uma expressão de surpresa invadiu meu rosto.
– Do que está falando? – Ele soltou uma risada anasalada ao me ouvir.
– Você não sabe, não é? Sinto muito que tenha que se envolver. Não temos opção, mas prometo te manter segura, pessoalmente. – Respirei fundo. Por incrível que pareça, eu estava longe de sentir medo.
– Isso tudo é ridículo. Acham que vão conseguir o que fazendo isso? – Ele me olhou, negando com a cabeça.
– Seu pai tem uma dívida bem grande conosco. Ou ele paga, ou você morre. – Tomei um susto.
Acho que só agora entendi a seriedade do que estava acontecendo.
– Espera, eu vou morrer pelas dividas do meu pai? Parece meio injusto. – Falei. Ele deu os ombros.
– É assim que fazemos quando uma pessoa pega sete milhões em mercadoria e não paga. – Passei minha mão livre por meu cabelo. Aquilo parecia um pesadelo.
– Por que você acha que ele vai pagar agora? – Ele me olhou sorridente.
– Porque você é o amor da vida do seu pai. E se ele não pagar, te perde.
Comecei a chorar compulsivamente. Meu corpo tremia, eu estava com medo e assustada. No início, paralisei, mas quando caí em mim, fiquei desesperada.
– Meu Deus... – Eu falei, em meio ao choro. O homem permaneceu em silêncio. – Por que tá fazendo isso, Mike? Por quê?
– Meu nome não é Mike. É Paul. Prazer, bonequinha, eu sou o chefe da máfia russa.