Pré-visualização gratuita Capítulo 1 — Sangue e Gasolina
No passado…
POV: Hannah Beatriz Montenegro
O vento cortava o rosto, o sal do mar grudando na pele. O carro avançava pela estrada costeira como um animal ferido, urrando entre curvas e o barulho distante das sirenes. Hannah olhava pra trás a cada segundo, o coração socando o peito.
— Eles vão nos alcançar, Jonah! — gritou, a voz embargada de medo.
Jonah apertou o volante, o maxilar travado, o corpo inteiro tenso.
— Não vão. Eu despistei eles lá atrás! — respondeu, mas o suor escorrendo pela têmpora o desmentia.
O motor gemeu ao fazer a curva. O carro roubado era rápido, mas o pânico era mais.
— O Sam disse que ia nos esperar no posto! — ela apontou à frente. — Lá! Ele tá ali!
A visão de Samael Blackwolf surgiu como um sopro de esperança. Encostado em seu Mercedes-AMG azul magno, ele parecia calmo demais pra todo aquele caos. A frentista abastecia o V8 enquanto o sol refletia na pintura metálica e nos músculos tensionados sob a camisa preta. Os olhos dele, escondidos pelos óculos escuros, pareciam observar tudo — calculando.
Jonah freou bruscamente, o carro deslizando no asfalto. O cheiro de borracha queimada e gasolina se misturou ao desespero. Eles desceram às pressas.
Samael tirou os óculos. Olhos azuis como o oceano os fitaram, e o ar entre eles pareceu pesar.
— Vocês demoraram.
Hannah m*l podia respirar. Sangue escorria de um corte no braço e na sobrancelha , o rosto marcado por hematomas, sangue seco pelos machucados. Samael viu e sentiu o estômago revirar — ele já tinha visto os machucados antigos , resultado das surras do pai dela, mas aquilo era diferente… era brutal.
— Você tá machucada, Honey Bee… precisa ir pro hospital. — murmurou, puxando-a pra um abraço.
Ela tremia inteira.
— Eu tô bem. — sussurrou, a voz trêmula. — A gente só precisa fugir.
Jonah, ofegante, olhava para trás, esperando o som das sirenes. Samael puxou a chave do carro e entregou pra ele.
— Já enchi o tanque. Pode levar. Tenho mais como esse e a placa é fria, não será rastreado!
Jonah bufou, nervoso.
— Claro que tem, playboy. Já vi tua garagem luxuosa. Valeu pela ajuda irmão, mas eu pago depois.
— Não quero nada. Só quero vocês dois vivos e bem. — respondeu Samael. — E quando estiverem a salvo… me mandem notícias.
Ele tirou um maço grosso de notas da carteira e estendeu para Jonah.
— Para os primeiros dias. Tem mais no carro. Mando mais quando for seguro.
Jonah hesitou, mas pegou o dinheiro. Hannah observava, confusa, dividida entre gratidão e medo.
Samael respirou fundo, os olhos presos nela. Ele se aproxima dela e fala:
— Hannah…
Antes que ela respondesse, ele a puxou, encurvando-se pra alcançá-la.
O beijo aconteceu num segundo suspenso — intenso, desesperado. O gosto de sangue e sal misturados. O toque das mãos dele no rosto dela, firme, protetor.
Quando se afastaram, os olhos dela estavam marejados.
— Nosso último momento juntos…
— Eu vou te encontrar de novo, Honey Bee. Juro por tudo.
Mas as sirenes rasgaram o ar.
Jonah se virou, pálido.
— Merda! Eles nos acharam!
Luzes azuis e vermelhas refletiram no capô da Mercedes. Em segundos, mais de dez viaturas cercaram o posto.
— VOCÊS ESTÃO CERCADOS! — a voz ecoou no megafone. — JONAH KALEB MONTENEGRO, ENTREGUE-SE IMEDIATAMENTE!
O som da ordem reverberou pelo ar quente.
Samael ergueu as mãos.
— Calma! Não atirem!
Hannah e Jonah se entreolharam, o pânico estampado no olhar.
Ela agarrou a mão dele, os dedos manchados de sangue.
— PARADOS! NÃO SE MOVAM! — gritaram os policiais.
Jonah respirava com dificuldade, os olhos varrendo os arredores. E então viu a frentista — imóvel, apavorada, com as mãos no ar.
Num impulso insano, ele a puxou, encostando o braço no pescoço dela e sacando a Glock 19 da cintura.
— EU VOU MATAR ELA, p***a! NÃO CHEGUEM PERTO! — gritou, a voz tomada pelo desespero.
A frentista chorava, os policiais apontaram armas.
— SOLTA A MOÇA!
Hannah gritou o nome do irmão, mas ele já estava tomado pela adrenalina.
O tempo pareceu parar.
E então
O tiro veio.
Alto. Seco. Rasgando o ar.
Dois gritos se fundiram:
— NÃOOOO! — Hannah e Samael.
Samael girou, procurando o atirador — e congelou ao ver seu irmão gêmeo Nathanael Blackwolf , destemido e implacável , o fuzil ainda apontado para o inimigo.
Jonah cambaleou, uma mancha vermelha se espalhando pela camisa.
— p***a, NATHE! NÃO ATIRA! — rugiu Samael, a voz quebrando.
Mas Jonah ainda se movia — arrastando-se, mancando, até a loja de conveniência.
Hannah correu atrás dele, cega de medo. Samael os seguiu.
Dentro da loja, Jonah caiu se recostando na parede, as forças indo embora.
Ela o amparou, o sangue cobrindo suas mãos.
— Meu Deus… Jonah… não… — ela tremia, soluçando.
Ele a olhou pela última vez, um meio sorriso rasgando a dor.
— Eu sinto muito, abelhinha… o irmão te ama…
Os olhos dele se fecharam.
— Não! Jonah! Fica comigo! — ela gritou, sacudindo o corpo dele.
Samael puxou a camisa e tentou estancar o sangue, mais percebeu que Jonah não reagia mais.
— Hannah, ele já foi! A gente precisa sair daqui!
— ME SOLTA, SEU TRAIDOR! FOI VOCÊ! — ela gritou, empurrando-o.
Os Policiais invadiram, armas erguidas.
Samael tentou segurá-la e afastá-la, mas Hannah se debatia, os gritos dela dilacerando o ar.
— JONAAAH! ACORDA, PELO AMOR DE DEUS!
Os Paramédicos correram, colocando o corpo de Jonah na maca, correndo em direção a ambulância a postos.
Samael a segurava por trás, num abraço de urso , enquanto ela gritava e se desfazia em lágrimas, suja de sangue e desespero.
Do lado de fora, as sirenes misturavam-se ao barulho do mar e ao cheiro agridoce de sangue , pólvora e gasolina.