Pré-visualização gratuita 01 - Prólogo
Serpente Narrando
Nunca acreditei em destino. Cresci ouvindo meu pai dizer que quem acredita em sorte morre cedo. A gente faz a própria sorte, era o que ele repetia sempre que eu hesitava em puxar o gatilho. No morro do Jacarezinho, eu aprendi rápido: ou engole o medo, ou o medo te engole. Por isso me chamam de Serpente. frio, certeiro, venenoso quando preciso. Mas antes de ser o que sou, eu sou filho dele, do Monstro.
O vulgo do meu pai não nasceu à toa. Ele ganhou esse nome porque bebia o sangue dos inimigos, como se cada gole fosse um aviso: ninguém mexe com a gente e sai vivo. Cresci vendo ele construir um império no tráfico, consolidar respeito na bala, calar traidor sem piscar. E quando dei por mim, já era o braço direito dele. Eu carrego o peso da confiança do homem mais temido do Rio de Janeiro.
Mas diferente do Monstro, eu sempre quis ter meu próprio território, minha própria marca. Foi aí que abri a Boate Víbora. Luzes, som estourando, bebida cara, mulheres desfilando como se fosse passarela. Ali é meu mundo paralelo, o lugar onde eu podia ser mais do que o filho do Monstro, podia ser o Serpente dono da noite.
Continuo impondo respeito, estando de Gerente ou de empresário. Nas duas facetas sou o mesmo Serpente. Não deixou nada passar batido nem de dia e nem de noite.
E foi numa dessas noites que o meu destino, esse que eu nunca acreditei veio bater de frente comigo.
Eu tava na área VIP, whisky no copo, cigarro entre os dedos, quando ela entrou. Loira. Não dessas loiras fingidas, apagada, Ela brilhava. Parecia natural, brilho que chamava atenção de qualquer um. A pele clara reluzia sob as luzes, o vestido justo moldava cada curva. Quando ela passou, juro, a pista inteira pareceu parar. E eu? Eu fiquei vidrado.
Não lembro quem me apresentou. Talvez nem tenha tido apresentação de verdade. Só lembro do sorriso dela, um sorriso que parecia provocar sem dizer uma palavra. Key. Foi tudo o que ela disse quando perguntei o nome. Simples, rápido, certeiro. Igual um soco no meu peito.
A partir daquela noite, nada mais foi igual.
A gente saiu da boate juntos. No meu carro, no silêncio da madrugada, eu sentia a respiração dela perto demais. E quando a boca dela encontrou a minha, foi como se eu tivesse sido envenenado mas de um jeito viciante, impossível de largar. Key não era só bonita, não era só gostosa, cheirosa, não era só mais uma. Ela tinha algo que eu não sabia explicar. Me queimava por dentro, me tirava o controle.
Começamos a nos encontrar em segredo. Cada dia mais perto, cada toque mais intenso. Era sexo, era desejo, mas também era algo maior. Algo que eu não queria admitir. Serpente não se apaixona. Pelo menos era o que eu repetia pra mim mesmo. Só que, a cada olhar dela, eu percebia que já tava ferrado.
Até o dia em que a verdade explodiu.
Key era filha do Lobão, o Lobo do Morro. Protegido da CV. E eu sou rival, sou ADA. Como pode, como ela é filha daquele Lobo desgraçado.
Não dá pra explicar o impacto disso. Meu pai e o Lobo são rivais de sangue. O Monstro sempre disse que o Lobo era tão perverso quanto ele, mas menos leal. Um cara que destrói e não mede consequência. Quando a guerra entre eles quase estourou anos atrás, foi banho de sangue. E eu cresci ouvindo que Lobo e sua família eram o inimigo.
E agora? Eu tô födidamente envolvido com a filha dele.
Quando meu pai descobriu, o inferno caiu sobre mim. A voz do Monstro ecoa na minha cabeça até hoje:
— Acaba com isso agora, Leandro. Se tu continuar com essa garota, tu não é mais meu braço direito. Tu é meu inimigo.
Ouvir aquilo foi como levar um tiro. Porque eu devo tudo a ele. Mas quando penso em Key… mano, não consigo. Largar ela é como arrancar um pedaço de mim.
Só que do outro lado, a pressão não era menor. O Lobo descobriu também. E o jeito dele lidar foi ainda pior. Key chegou até mim chorando, dizendo que o pai exigiu que ela se afastasse. Que se ela insistisse em me ver, ele faria dela um exemplo. O tipo de exemplo que deixa marca pro resto da vida.
Eu vi o medo nos olhos dela, mas também vi a coragem. Ela disse que me amava. Que não importava o que acontecesse, ela não ia desistir. E ali eu tive certeza: por essa mulher eu tô disposto a enfrentar até o inferno.
O clima ficou insustentável. No morro, os olhares desconfiados começaram a pesar sobre mim. Meu pai não confiava mais totalmente. Os caras da boca cochichavam. Do lado do Lobo, os soldados dele já se armavam, prontos pra uma nova guerra. A cidade tava prestes a mergulhar em sangue por causa de nós dois.
E eu? Eu não conseguia parar. Cada encontro secreto com Key era risco de morte, mas também era vida pra mim. Eu a pegava pela cintura, sentia o perfume dela e esquecia de todo o resto. Só existia nós dois.
Mas sei que não dá pra segurar essa corda esticada pra sempre. Uma hora vai arrebentar.
Meu pai tá disposto a me cortar se eu não largar dela. O Lobo tá pronto pra me matar se eu continuar. E eu? Eu tô decidido a desafiar os dois. Pode ser loucura, pode ser suicídio, mas vou até o fim.
Porque Key não é só um caso, não é só uma noite. Key é a mulher que virou minha cabeça, que me fez sentir pela primeira vez que um homem como eu também pode amar.
E se pra viver esse amor eu tiver que enfrentar a guerra, que venha a guerra.
Aqui começa a nossa história. Uma atração proibida, mortal.
E eu tô pronto pra matar ou morrer por ela.